A corrupção é inerente ao capitalismo brasileiro
Diário da Manhã
Publicado em 1 de julho de 2017 às 23:38 | Atualizado há 8 anosO sistema capitalista se sustenta na exploração do homem pelo homem, mas em sua fase mais contemporânea, se organiza igualmente com base no capital financeiro ou capital volátil parasitário. Sintomas do sistema nunca imaginados na época em que viveu o filósofo Karl Marx. Lamentavelmente, algumas correntes no Brasil, se autodenominando de esquerda, sucumbiram ao apelo do capital de tal forma que acreditam que o assalto ao poder pode ser alcançado incluindo no erário tático os meandros da corrupção. Pois bem, Karl Marx não negava a realidade do sistema, recusava-se a aceitar que a imoralidade fosse fato normal ao desenvolvimento humano. A nossa jovem democracia brasileira foi atropelada pelos miasmas da corrupção e do tráfico de influência militante, lesivo ao patrimônio público.
Lembro-me que na década de 80 havia uma preocupação latente na elite intelectual brasileira resultante do temor de uma possível “mexicanização” da sociedade. A governabilidade poderia assim se sustentar na corrupção endêmica contaminando todos os setores. No passado, Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “Raízes do Brasil”, de 1936, já havia criado o conceito de “homem cordial” para definir as virtudes da jovem nação, nem sempre tido aqui como um elogio. A “cordialidade” descrita por Holanda no tocante à corrupção faz com que o brasileiro sinta ojeriza as formalidades sociais decorrente das leis de estado, não conseguindo compreender a distinção fundamental entre as instâncias públicas (erário e patrimônio) e privadas, principalmente entre o Estado e a família. Por isso muitas vezes o corrupto é visto como um marginal, mas ao mesmo tempo identificado no seu intimo: por que não eu?
Há inclusive os que sentem certa simpatia pelo corruptor. O endeusamento do herói “às avessas” no estilo do “rei” do cangaço Lampião. Seguem-se expressões populares, como: “bandido justiceiro”, “rouba, mas faz”, “sujeito é experto”, “ se estivesse lá faria a mesma coisa”, etc
A política então passa a ser uma profissão relacionada ao projeto pessoal e a imoralidade da corrupção passa a ser transformada em fato normal. Os grandes interesses nacionais ou mesmo regionais e locais, não são levados em conta dentro do senso comum de quem “entra para a política”. Para construirmos uma grande Nação, não só a classe política, mas também o povo brasileiro precisa urgentemente mudar essa concepção em seu intimo, entender o conceito de coletividade e avançar para um novo entendimento de honestidade.
Nikita Kruchev, notoriamente marxista e ateu, ex-secretário geral do Partido Comunista da então União Soviética (URSS) uma vez respondeu a um jornalista, que em tom provocador, perguntou: Você acredita em Deus? A resposta seguida de espanto geral foi “sim”. Ato contínuo, Kruchev devolveu a pergunta ao questionador: “Meu Deus é a honestidade… e o seu?”.
Voltando a Pindorama observamos agora o Presidente Temer ungido de grande moral ao montar no seu cavalo Rocinante (cômico, desengonçado e magricelo), o famoso cavalo de Dom Quixote de La Mancha personagem do romance de Miguel de Cervantes, e passar um tanto corajoso para o ataque aos delatores dando orgulhosamente razão aos seus próprios atos.
Sou de um tempo em que ser de esquerda era sinônimo de honestidade. Pelo menos foi isso que meu Pai me ensinou em sua trajetória política. Mas como advertia Marx, o combate à corrupção não pode ser um programa de governo. Combater à corrupção é um dever inerente ao homem público. Combater a corrupção está ligado ao caráter humano e está acima das ideologias, como proclamava o notável pensador e filósofo alemão.
(Laércio Júlio da Silva é administrador)