A Enel atenderá ao crescimento econômico do Estado, mas não a seu desenvolvimento
Júlio Nasser
Publicado em 9 de maio de 2017 às 00:55 | Atualizado há 8 anos
A recente privatização da CELG-D suscita um importante assunto de interesse imediato da população, qual seja: afinal, a ENEL atenderá ao desenvolvimento de Goiás? Estaremos, no melhor dos mundos, com uma empresa de reconhecida eficiência inserida numa das mais promissoras regiões do agronegócio brasileiro?
Responder a essas indagações requer uma breve discussão em torno de dois pontos: a distinção entre o crescimento econômico e o desenvolvimento. Num primeiro olhar, aparentam esses conceitos serem sinônimos, mas não o são.
É bem verdade que o crescimento econômico sustenta o desenvolvimento, o que não significa que crescer economicamente traz a felicidade, aqui mesmo na terra, inerente ao desenvolvimento, quando este signifique a inclusão do cidadão a suas benesses.
O desenvolvimento requer ações articuladas de governo que modifiquem as estruturas. E, quando falo em estruturas, enfatizo a educação, a cultura e a inclusão social ao mercado. Um mercado como o goiano tem quatro “goiases” dentro de um só: o que cresce com modernização tecnológica (Rio Verde, Jataí), o que cresce por modernização, tecnologia e incorporação de terra (Cristalina, Jussara), o que cresce por incorporação de terras (São Miguel do Araguaia) e o que simplesmente não cresce (Cavalcanti).
O crescimento em Goiás existe única e exclusivamente devido ao empreendedorismo dos agentes privados. E devem estes quase nada a ações de governos. A CELG Estatal quebrou por absoluta falta de direção do sistema político. Na verdade, o desequilíbrio econômico-financeiro da empresa deve-se a razões que instrumentos republicanos como a Lava Jato estão a explicitar. Creiam: com a privatização da CELG, o Estado perde um importante instrumento de política pública. Com a privatização da CELG, o Estado se enfraquece, institucionalmente falando. Enfim: com a privatização da CELG, o acionista a ser remunerado não é mais Goiás, mas sim o Estado italiano, que, na Itália, mantém-se como sempre foi: estatal. E isso se deve única e exclusivamente à ação de maus políticos que prestarão contas à história sobre seus atos.
Voltemos para a ENEL. Ela é uma eficiente empresa privada. Na condição de privada, atenderá com competência ao crescimento econômico goiano, mas, não, o seu desenvolvimento, pois este é induzido por um ator praticamente ausente nesse processo: o Estado.
Vai contra os interesses de uma empresa privada o Goiás que não cresce, pois este não gera o combustível que, por sua vez, gera os capitais privados – o lucro. E, como já apontamos em outros escritos: a privatização empobrece a energia, que deixa de ser encarada como um instrumento do desenvolvimento para se tornar uma mercadoria, como é a soja. Goiás, de agora em diante, será um mercado a ser alimentado, mas não um estado a ser desenvolvido.