A Escola de Tempo Integral e o Conselho Estadual de Educação de Goiás
Diário da Manhã
Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 22:05 | Atualizado há 7 anos
O Conselho Estadual de Educação em Goiás recebeu, há poucos dias atrás, a ilustre visita de duas professoras em posição de comando da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, quais sejam a Professora Márcia e Professora Silvone, que fizeram uma ampla apresentação ‘power point’ sobre as vantagens da Escola Integral.
Foi abordada a relevância da implantação deste projeto para implementação de uma busca cognitiva visando a ampliação das competências emocionais dos alunos, bem como a valorização do quadro de professores na elaboração de uma melhor possibilidade de coordenação pedagógica, com o mapeamento de um ‘núcleo comum’ que pudesse sustentar o ‘núcleo diversificado’ do projeto implantado.
A ampla apresentação elaborada pelas duas professoras foi reduzida a uma breve apresentação, dado a escassez de tempo e a vontade de participação dos conselheiros em fazer seus apontamentos sobre o tema.
Ester, que presidia a sessão naquele conselho naquele dia memorável, abriu a pauta para as ponderações dos conselheiros, o que provocou uma enxurrada de inscrições para dissertação sobre o tema.
Falaram a Profesora Ieda, o Professor Teodoro, Professor Ítalo, Professora Bia (Sintego), Professor Marcos Elias, Professor Capri e Professora Ailma, que havia em sessões anteriores, levantado críticas sobre o tema, ao ponderar a adequação e possibilidade de adesão por parte dos alunos, únicos interessados e beneficiários finais do projeto.
Todos foram unânimes em dizer que discutir as escolas públicas é imprescindível, principalmente porque o tempo urge, e ter agilidade em acertar a estrutura física e pedagógica do projeto proposto seria fator de limitação para a implantação das escolas propostas.
A Seduce foi duramente criticada por ter desenvolvido uma ‘excelente teoria’, baseada em experimentos de países como o Senegal, uma vez que o Estado, como entidade, teria o aparato intelectual para traçar seus próprios caminhos, enquanto país, Brasil, e enquanto Estado, Goiás.
A estrutura física das escolas implantadas foi tema de abertura da conveniência da implantação, pois no caso da Escola Divino Pai Eterno, localizada na cidade de Trindade, não houve nenhuma adequação. O Colégio permanece fisicamente exatamente do jeito que estava.
Sobre o ‘curriculum’, o desejável pelo Conselho teria sido a discussão do mesmo com os pais e alunos, o que não aconteceu, gerando críticas pela forma de implantação, que ficou diagnosticada como ‘goela abaixo’ pelo Estado de Goiás.
O Conselho Estadual de Educação levantou que os direitos fundamentais dos pais e alunos foram violados, como os da formação plena para a cidadania e trabalho, o que, da forma como foi posto, não deu as respostas necessárias para sequer ser avaliado.
Pontuações básicas foram feitas, sobre temas simples, como a avaliação semanal proposta, que se configurou como tortura e terrorismo, com o aumento da tensão, que de mensal, seria reduzida a semanal. Um detalhe aparentemente simples, mas com possibilidade de resultados desastrosos.
O projeto Escola em Tempo Integral foi rotulado pelos conselheiros como uma ‘escola de placas’, não dando uma resposta plausível para a realidade educacional como está posta.
Não foi esquecido o grave problema da redução do número de alunos matriculados no Colégio Lyceu de Goiânia, que apresentou uma redução de 300%, já que haviam 3 mil alunos matriculados, e hoje, acolhe apenas 300.
Foram feitas três proposições à Seduce:
1) Para onde forma os estudantes?
2) Se voltaram para os bairros de origem?
3) Onde estariam os alunos que abandonaram o ensino fundamental e médio?
Responsavelmente, o Conselho apontou que houve falhas no diálogo entre a comunidade interessada, que deveria ter sido procurada anteriormente à implantação do projeto, no afã da Seduce em dar sequência ao ano letivo que já se iniciara, sem ter dado tempo para os pais e alunos se organizarem, tendo sido recomendado pelo mesmo Conselho, a ampliação do diálogo entre os envolvidos.
O Conselho Estadual de Educação pontuou que parte da vida dos alunos se projeta na escola, e que as aulas se tornam uma consquência do cotidiano, o que deveria ter sido pensado com bastante calma, e não o foi, vez que as Escolas de Tempo Integral foram implantadas a ‘toque de caixa.’
Finalmente o Conselho concluiu que o Projeto Escola em Tempo Integral é falho, e que não existe demanda em Goiás para tal modelo, apesar da insistência do Governo do Estado.
Sem dúvida nenhuma, há em Goiás um reduto de gente digna, que se chama Conselho Estadual de Educação, e que, embora precariamente, ainda sustenta de maneira íntegra, os pilares da Educação do nosso Estado.
Irretocável.
(Silvana Marta de Paula Silva– advogada e escritora. Twitter: silvanamarta15; Instagran: silvana.marta)