Opinião

A excelência da patente, da filosofia e da investigação

Diário da Manhã

Publicado em 14 de dezembro de 2016 às 00:49 | Atualizado há 8 anos

Desde quando optei em fazer carreira pública aqui na Guarda Civil de Goiânia não imaginava como seria o relacionamento pessoal com os servidores de carreira da corporação, muito menos quem me comandaria e de que forma aconteceria esta transição, pois na vida profissional privada tem-se um chefe imediato e um patrão que se sabe que existe, mas que muitas vezes ninguém nunca o viu, ou é inanimado ou intocado.

Pois bem, voltando à base guardiana tive três gestores – até o momento – e, diga-se de passagem, verdadeiros mestres humanistas e muito sábios: um da reserva remunerada da Polícia Militar de Goiás; outro filósofo; e atualmente um escrivão de carreira da Polícia Civil. Com eles aprendi e ainda aprendo muito sobre a máquina pública e principalmente pela forma de lidar com o próximo, ou seja, uma verdadeira aula sobre um pouco de cada coisa.

O primeiro, quando soube de minha profissão, me entrevistou de forma fria, analítica e até certo ponto como se realmente eu daria conta de assessorá-lo, porém, após esta minha primeira impressão vi e compreendi que ele queria um profissional audaz e cúmplice, que lhe blindasse nas horas de turbulência institucional e que lhe desse a devida visibilidade em outros momentos. Com este aprendi uma máxima que sempre me falava e que levo até hoje: “quem não é visto, nunca será lembrado, aprenda isso meu caro jovem”.

Já o segundo chegou, como diz Chico Buarque de Holanda: ‘como não quer nada’, discreto, humilde, ávido em aprender cada coisa daqui da Guarda Civil, pois para ele tudo era novo, desde o desafio em gerenciar uma instituição ascendente e até certo ponto desconhecida da opinião pública. Aos poucos foi tomando conhecimento de como era gerido toda a máquina administrativa e operacional guardiana. E durante o seu discurso de posse mostrou todo o seu talento, a sua dialética em fazer a todos e todas a apreciar um discurso tão pomposo e tão gostoso em ouvir, este era um dos seus trunfos.

Por fim, um jovem escrivão é levado ao cargo máximo da corporação, torna-se comandante pela primeira vez em uma corporação com mais de 1,5 mil servidores, eis aí a primeira tarefa: aglutinar toda essa gama de pessoas que buscavam incansavelmente um futuro promissor na carreira dentro da instituição. Com a sua sabedoria cristã soube discernir muito bem cada um que aparecia a sua frente com fatos novos, ou não. Aos poucos vi que aquele jovem rapaz era na verdade um monstro – no bom sentido – da diplomacia e da compreensão.

Sinto e sempre sentirei saudades deste trio, pois pude apreender com eles coisas grandes e importantes, como também coisas pequenas e simples que só os grandes mestres sabem enxergar e nos mostrar, independente da idade, do status social, da origem de cada um deles, este trio soube direcionar a corporação, e suas limitações de cada época, a chegar ao patamar que vivenciamos hoje.

Agradar é difícil, porém, como convivi próximo a cada um deles observei que todos, sem exceção, tentaram e ainda continuarão tentando acertar, pois a postura de cada uma sempre foi aproximar cada um e formar um todo fortalecido e que um dia chegaria ao ponto de olhar para traz e saber que aquela instituição tímida de pouco mais de quinhentos servidores se tornou respeitada por uns e temida por outros, isso acontece por que foi passado por um processo de construção inteligente e voraz arquitetado por um guerreiro militar, por um épico filósofo e por um destemido escrivão que deixaram e deixarão suas impressões na história desta tão importante guarnição.

 

(Luiz Galvão, guarda civil e jornalista)


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