A favor ou contra
Redação DM
Publicado em 17 de março de 2018 às 23:58 | Atualizado há 7 anos
É da própria natureza humana e resultante da capacidade de raciocínio de cada um ser humano o fato de poder se manifestar a favor ou contra qualquer situação que lhe seja apresentada.
Esta capacidade de discernimento orna a qualidade racional de cada pessoa, independentemente da cor, da religião, da orientação política, sexual etc
Por outro lado, é verdadeiro dogma democrático o direito que tem o cidadão de ser a favor ou contra qualquer situação, manifestação, programação, sugestão.
Até mesmo se se tratar de disposição legal, tem o cidadão direito de ser contrário a ela, manifestar sua opinião contrária ao texto, embora esteja obrigado a obedecê-la, enquanto a mesma não for revogada, sob pena de interferir no “equilíbrio da ordem cósmica” democrática, para nos valermos da expressão tão em voga nas novelas que retratam o Egito antigo…
Esta liberdade, todavia, apanágio sagrado, garantido pela Constituição Federal aos cidadãos brasileiros está se tornando cada vez mais perigosa de ser exercida.
O caráter extremado das posições adotadas faz com que o bom senso desapareça e a paz sequer possa ser mencionada, quanto mais exercida…
Não é de hoje que lideranças vêm sendo ceifadas, sejam políticas, sejam sociais ou religiosas.
Crimes incríveis vão ocorrendo e a nossa morosa justiça e a nossa legislação penal leniente e absolutamente ultrapassada funcionam como motor a impulsionar os maus instintos e as más condutas.
Criminosos, quando capturados, dão declarações espantosas espantosas de que, em pouco tempo sairão e completarão o serviço. E tem acontecido.
Criminosos em situação de tremenda repercussão acabam sendo beneficiados com a tornozeleira eletrônica, que, afinal, não tem nenhum poder de impedir que o gatilho seja acionado, sem falar em outros absurdos benefícios que, mesmo aqueles condenados a regime fechado acabam por conseguir.
E agora, mais esta barbaridade no Rio de Janeiro ( cidade que já foi chamada da maravilhosa ): o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes.
Ponho no mesmo patamar as duas mortes.
Duas vidas foram ceifadas de modo brutal e injustificado, se é que alguma morte assim pode ser justificada.
Deixo de tomar conhecimento do partido político ao qual pertencia a Vereadora. Deixo de tomar conhecimento sobre seu ativismo, sua luta em defesa dos menos favorecidos e às pessoas de cor, sua orientação sexual. Este era um direito inalienável dela. Mostrava o seu caráter, sua obstinação, sua luta por chegar a ser uma voz, o que alcançou ao se eleger vereadora, na cidade do Rio de Janeiro. Nada disto justificaria a barbárie.
E o seu motorista?
Um homem, mais um, dentre tantos brasileiros na luta cotidiana pela sobrevivência, executando trabalho digno.
Assassinados friamente, porque determinaram que eles não poderiam mais viver.
Agora, porém, ao que se observa, a escalada da violência atingiu um patamar tão alto que despertou e movimentou os três poderes da república.
E não é possível que a capacidade de esquecimento do povo brasileiro seja tão grande que não se adotem medidas efetivas para começar o conserto deste Brasil tão desmantelado pela corrupção e pela violência.
É preciso poder ser a favor ou contra, ter sua própria posição ou opinião e manifestá-la, sem por isto ter ameaçada e ceifada a própria existência.
(Getulio Targino Lima: Advogado, professor emérito pela UFG, jornalista, escritor, membro da Associação Nacional de Escritores e da Academia Goiana de Letras. Email: gtargino@hotmail.com)