A governança desgovernada
Diário da Manhã
Publicado em 2 de abril de 2018 às 21:55 | Atualizado há 7 anos
Muitos ainda perguntam: é necessário uma ampla reforma política? Seria oportuna se fosse incisiva como uma microcirurgia na relação doadores de campanha e da gestão pública. Explico.
Quando um político, por mais bem intencionado que seja, entra para a vida pública, ele encontra um sistema um tanto confuso. Políticos necessitam de dinheiro para fazer uma campanha eleitoral que possa garantir, com o uso das ferramentas do marketing político, a sua vitória. Captar esse dinheiro tem muitas vias para o tesoureiro do partido ou dos partidos coligados. A origem do fundo de financiamento da campanha pode ser sempre questionada, seja por denúncias ou pelas instituições competentes. A dúvida é saber a vantagem ou interesse de realizar doações para um partido ou para um candidato mesmo que a origem do dinheiro seja lícita.
Muito bem! Dinheiro no cofre do partido ou candidato e a campanha inicia com a velocidade certeira em busca da vitória. A dúvida ainda persiste, por que alguém fez uma doação tão generosa? Algo em troca? É permitido pensar que doadores de campanhas podem receber vantagens. Que vantagens seriam essas? Seja por leis, autorizações, participações em licitações, cargos e proximidade com o poder.
O candidato ganha e começa uma ida aos gabinetes dos vencedores para receber em troca as doações que fizeram. O objetivo da gestão pública é desviada para atender os interesses de seus doadores. Pasmem! Quem paga a campanha não são os doadores, mas os contribuintes quando licitações são superfaturadas, cargos estratégicos são cedidos para inexperientes em gestão pública e legisladores ocupam seu tempo com projetos direcionados para os doadores.
O tempo de mandato é curto e fica ainda mais curto quando não conseguem atender a população em seus projetos prioritários e quando atendem há sempre o interesse de ajudar seus doadores.
A corrupção como origem na doação de campanha cria um sistema seja para perpetuar-se no poder ou promover a falta da eficácia da gestão pública. Esse seria o melhor debate antes de pensar em alterar leis ou projetar ações para sanar os problemas já conhecidos e existentes.
Cabe às Instituições agirem livremente para coibir corruptos e corruptores e mostrar a penitenciária sem chaves como morada definitiva. E agradecer que ainda não temos a pena de morte para crimes do colarinho branco. Ainda tem empresários que insistem em ser doadores de campanha enquanto tem candidatos que insistem em promover campanhas milionárias que jamais conseguiriam obter retorno financeiro só com o salário justo que receberia após ser eleito.
Muitos defendem em nome da democracia o financiamento público de campanha. Seria esse o caminho? Talvez sim, talvez não. Cabe a cada um a maior de todas as reflexões a de discernir se realmente se faz necessário tanto dinheiro para uma campanha eleitoral. Defendemos que o candidato deva ser livre para, quando obter a vitória, possa agir para trabalhar em prol da sociedade, livre para debater e lutar para as melhorias importantes preservando principalmente a vida de seus cidadãos.
Contudo, cabe ao cidadão ficar atento aos doadores de campanha e, caso receba alguma vantagem indevida, possam ser denunciados e, por sua vez, o político eleito possa desenvolver seus projetos com liberdade e livre de qualquer sistema que impeça de fazer o bem comum. Que a corrupção seja contida de imediato para que tenhamos o lema ‘Ordem e o Progresso’ na vida de cada cidadão de nosso país e as empresas brasileiras possam promover o emprego com ética e governança corporativa em liberdade para promover o desenvolvimento da população.
(Helder Vinhal de Carvalho, graduado em Administração, consultor de empresas e especialista em Negócios para Executivos pela FGV/Eaesp – helder.vi[email protected])