A história de uma adolescência silenciada
Diário da Manhã
Publicado em 7 de janeiro de 2016 às 21:08 | Atualizado há 9 anos
Vivemos num mundo em que a falsidade tenta das mais diversas formas prevalece sobre a verdade. Porém, por mais poder e riqueza que acumule ninguém consegue por muito tempo encobrir os próprios erros. Eles acabam emergindo, sobretudo quando são praticados com tanta insensibilidade humana.
Quem usa a mentira como estratégia para se aproveitar da inocência de uma menor e depois a abandona abruptamente deveria repensar a fundo a sua conduta. Mas, como escreveu o compositor Belchior, na música Divina Comédia Humana, “enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto”.
Como forma de dizer não e despertar as adolescentes diante da força imposta pela reiterada e cínica negação da verdade, eu decidi escrever o livro “Adolescência Silenciada”, editado pela Kelps, a maior editora do meu Estado de Goiás, relatando em detalhes a dramática história do meu envolvimento com o proprietário da maior empresa de gerenciamento de cantores sertanejos do Brasil, sediada em Goiânia. Esse homem, que me engravidou com apenas 14 anos, é o pai do meu filho Lorenzo, de 1 ano e 5 meses. Fica a pergunta: por que ele não assume o nosso filho, com todo amor e carinho inerente a um pai?
A obra, formatada em 306 páginas, possui 36 capítulos, incluindo citações de conversas que mantive com o pai do meu filho pelo aplicativo WhatsApp. O livro já está disponível a todo o público leitor no portal da Editora Kelps e na Livraria Leitura. Ele está dividido em quatro partes: O assédio, A ilusão, O desespero e O despertar.
“Adolescência Silenciada” contém ainda Declarações reveladoras de Nice, minha amada mãezinha; Cartas dos meus avós maternos, uma minha ao meu filho Lorenzo e também uma Carta da minha amiga Gabriela. Ela acompanhou de perto todos os acontecimentos relativos a essa relação com um homem que mentiu pra mim o tempo todo que era solteiro, embora fosse casado.
O livro traz também uma nota informativa acerca de um laudo da Neurometria Computadorizada, que diagnosticou em mim “um estresse adrenal severo, gerando consequências severas em toda a fisiologia da paciente” e Depoimentos de meninas que viveram dramas semelhantes.
Ele me tratava Petala como sua namorada. Apresentava-me para todos os seus amigos, dentre eles sócios, juízes e empresários. Porém, em outras circunstâncias, sobretudo diante dos familiares, ele fazia questão de ocultar aquela relação. Dizia-me que, enquanto eu não fizesse 18 anos, os nossos familiares não poderiam saber da nossa história.
Quando tomou conhecimento dessa relação, Eunice Barreiros, a Nice, minha querida mãe, buscou os meios legais para manter o empresário distante de mim. Não obteve êxito. Porém, desde então, passou a agir no intuito de nos separar. Ele me pressionava a ameaçar a minha própria mãe de suicidar ou fugir de casa, caso se ela insistisse em querer acabar com a nossa relação.
Poucos dias após a minha mãe saber do relacionamento, eu fiquei grávida dele. Desde então passou a distanciar-se até me abandonar de vez. Isso agravou muito o meu estado psicológico. Passei a tomar diariamente um antidepressivo. Por que ele jamais manifestou interesse em conhecer o nosso filho, com quem teve contato unicamente no dia da realização do exame de DNA? É justo isso?
Toda essa história de ter sido enganada e depois literalmente abandonada me machucou muito. Causou-me sérios danos psicológicos e atualmente faço tratamento contra a depressão. Qual a mulher que quer ter um filho sem pai? Nada é capaz de aplacar um sofrimento dessa magnitude.
Apesar da depressão, eu decidi trazer à luz toda a verdade, escrevendo o livro “Adolescência Silenciada” para que essa história tão viva e atual sirva de lição. Meu objetivo é unicamente evitar que muitas meninas venham a passar pela dor e a amargura que eu passei. Hoje tenho a convicção de que uma menina de 14 anos não tem entendimento para tomar decisões como as que tomei. Acho que deveria ser revisto o Código Penal, na parte relativa à criança e ao adolescente para que houvesse maior rigor contra os abusos como esses que eu enfrentei e marcarão para sempre a minha vida. Sei que muitas adolescentes também gostariam de soltar essa voz libertária, no entanto, quase todas tiveram a garganta sufocada pela mão pesada da insensatez.
(Petala Gabriely Barreiros é estudante do ensino médio)