A ilusão do brasileiro
Diário da Manhã
Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 23:50 | Atualizado há 7 anosWilson Martins, o “boca do inferno” da crítica literária brasileira, não perdoa nem as vacas sagradas. “Sempre leio de noite e deitado. Aquele livro que me adormece na Quinta. Ou na décima página eu sei que não presta. Não li o livro de Caetano Veloso. Não considero que ele seja um nome aqui, não. Não sou admirador de poesia concreta.
O concretismo não é poesia. São soluções tipográficas, não havia nenhum conteúdo, apenas um jogo de palavras”, revelou, à Revista república o autor da “História da Inteligência Brasileira”.
Os “fãs de carteirinha” de Guimarães Rosa haverão de se escandalizar, com o que ele pensa de sua obra: “Guimarães Rosa foi uma ilusão da qual os brasileiros ainda não se recuperaram. Ele não criou uma nova corrente, um novo rumo para a literatura brasileira”. Criou-se essa filosofia de que educar é muito alegre, e pode se aprender cantando.
É um erro. Aprender é muito difícil”. Seu conceito sobre Jorge Amado, nosso semi-deus da baianidade, é de arrasar quarteirão: “Jorge Amado é muito popular nos outros países porque oferece essa idéia exótica, todos de tanga e de arco e flecha na Avenida Rio Branco, caçando onças ”.
Cochilou, cachimbo cai
Na urgência de passar no corredor polonês do vestibular, todos se arrebentam, de tanto “arrebentar”. Arrebenta de raiva o professor que expulsou o aluno que cochilou. E mais se arrebenta o diretor, que se jacta: “Nosso prestígio é medido não pelo que ensinamos em classe, mas pelo número de alunos que fazemos passar no vestibular. Que bom seria, se fossem cabeças pensantes as cabeças ensinantes. Um país aqui seria, se para chegar à ambicionada carteirinha de desempregado chique não tivesse, para vencer, que correr como os cavalos, no Hipódromo da Lagoinha. (Lagoa que não há mais, nem aqui nem nas Minas Gerais.Tudo seria diferente, se a gente soubesse escovar os dentes. Um dia a gente ainda aprende a votar pra presidente.
Tempo de murici
Presidentes e governadores dos pobres – os que assim se vendem – bem que gostariam de governar para os ricos. Mas, por motivos óbvios, não pode: rico não dá voto. E riqueza que não tem sustança eleitoral para encher barriga de urna não paga a pena.
É mais compensador investir na fome, que sempre volta, renitente, e deixa o subnutrido desacorçoado de pegar no batente. E quanto mais cesta básica, mais a cesta chama o sufrágio universal – que por sinal acaba traindo o sufragista, encestado reincidente.
Razão teve o rapsodo Rabelais, quando profetizou: “Deus fez os prados, e nós limpamos os pratos”. Um caipira goiano poria sua colher de pau no tonel de tripas: “Em tempo de murici, cada um cuida de si.
Bugre na chapada
“Problema de próstata” Eis a desculpa esfarrapada que vem salvando o prestígio de muito maridão inzoneiro (com fama de machão-sanguinolento ). Este tem sido o modus operandi utilizado por nove entre dez maridaços que não têm conseguido comparecer, com burocrática pontualidade, ao lendário – e, em muitos casos, sofrido – “cumprimento do dever legal”.
Eis a muleta ideológica do Ricardão aposentado. Tem muito bugre no chapadão deitando falação de que não deixa mulher na chapada. Porque todo machão latino, quando lenca fogo e não põe o desejo em riste, põe a culpa na prostatite?
(Brasigóis Felício, escritor e jornalista.Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras)