Opinião

A imbecilidade

Diário da Manhã

Publicado em 27 de novembro de 2015 às 22:35 | Atualizado há 9 anos

Será que na conjuntura atual o pensamento realmente evoluiu? Gostaria de imaginar que uma mente sã, atualmente, jamais poderia pregar e difundir o racismo. Ainda mais em um país multirracial como o Brasil. Isso era para ser inadmissível porque beira à irracionalidade e, porque não, à imbecilidade. Mas, lamentavelmente, isso existe e está inserida nas cabeças insanas de pessoas com pensamento estacionado na época do colonialismo – como se, para elas, existisse uma raça superior às demais, como imaginava Adolf Hitler (1889-1945).

Uma atitude e um crime imbecil que não agrega valores – pelo contrário, propaga revolta e causa repúdio na sociedade. Sem falar que ofende uma raça que contribuiu, sobremaneira, para o desenvolvimento do País: os negros. Além de faltar com o respeito com os negros, essas pessoas racistas ainda espalham nas redes sociais frases contextualizadas na maldade e escoradas na imbecilidade. Muito acreditavam que isso teria ficado para trás. Não ficou. Está latente no nosso meio social. Uma prova que a imbecilidade também se renova, para pior com a falta de inteligência e elegância.  Portanto, exija que te chame pelo o seu nome. Você não escolheu errar mais pode escolher não sofrer.

No mês anterior, o crime de injúria racial na internet, proporcionado por algumas pessoas que acreditam ser da “raça pura” contra a atriz Taís Araújo e o meio-campista Michel Bastos, do São Paulo, demonstra que o racismo está bem presente na sociedade brasileira. Apesar de camuflado, segue visível – somente não ver quem não quer. Eu, por exemplo, vejo o tempo todo pessoas apelidado a figura masculina e feminina sem se quer chamar pelo o nome e ainda dizendo: “O negrinho está se achando, e referencia uma mulher, seja jovem ou não, e fala para alguém, a pretinha que passou por ali que me falou tal informação.” Isso tem que acabar. Por que não perguntar o nome ou chamar pelo nome evitando brincadeiras desagradáveis? Posso testemunhar que o racismo está tão inserido em solo tupiniquim quanto a malfadada corrupção que assola a dignidade do povo brasileiro.

As frases postadas pelos autores das ofensas racistas contra Taís Araújo na noite do sábado (31) são as mesmas utilizadas por racistas de outrora. Após compartilhar uma fotografia sua na rede social, a atriz foi atacada com comentários racistas, do tipo: “Me empresta seu cabelo para lavar louça”, “Como pode alguém achar bonito esse cabelo de Bombril?”, “Te pago com banana”, “Com esse cabelo dá pra lavar a Globo inteira” e “Não sabia que no zoológico tinha câmera”. O pior que muitas pessoas curtiram os insultos como se fosse uma brincadeira. Não era. Pelo contrário. Tal prático se caracterizou como crime de injúria racial, prevista do Código Penal, uma vez que depreciavam a atriz global pela cor, raça e etnia.

Com Michel Bastos, uma torcedora usou a internet para atacar o meio-campista em uma rede social. Apesar de ter apagado o perfil que havia utilizado para escrever a injúria racial, ela foi denunciado através de uma queixa-crime formulada pelo advogado do são-paulino, que conseguiu identificar a autora das palavras racistas: “Macaco negro safado, respeita a torcida. Otário, vagabundo, faz por merecer o dinheiro que recebe”, escreveu a torcedora, furiosa porque o apoiador, após fazer um gol contra o Sport, pediu para a torcida no Morumbi ficar em silêncio. É lamentável, se existe um jeito formal de usar as palavras certas, por que causar dissabor?

O racismo e a injúria racial precisam ser combatidos com veemência no Brasil. É inaceitável continuar virando os olhos para uma problemática que está bem evidente na sociedade brasileira. O racismo é um câncer social que precisa, urgentemente, ser extinto. O crime de injúria racial praticados pelos internautas contra Taís Araújo e Michel Bastos prevê, no máximo, três anos de prisão. Muito pouco para quem prega a segregação racial, mesmo de forma superficial e indireta, como ocorreu com Araújo e Bastos.

É de bom alvitre se ressaltar que: O Sindaseg – Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado de Goiás esteve presente na 1ª marcha das mulheres negras realizada em Brasília pelo movimento negro. Vários assistentes sociais e acadêmicos (as) de serviço social e a presidente Zenit Vaz de Oliveira engrossaram a caminhada marchando em contra qualquer tipo de violência, racismo e pelo bem viver. O Sindaseg marchou para dizer que lugar de mulher, em especial a mulher negra é em todos os lugares, na faculdade, nas câmaras federais, nas ruas lutando pelos direitos e em todos os espaços de poder.

Haja vista que, o combate ao racismo no Brasil ainda está na fase embrionária, apesar do governo pensar o contrário. É preciso desencadear uma forma mais direta e abrangente de combater essa estupidez social. E isso somente se combate com leis mais rígidas e campanhas mais eficazes, deixando claro que “europoide” (branca), “mongoloide” (amarela) e “negroide” (negra) pertencem a uma só raça, a humana.  Por que não fazer comentários saudáveis? Isso não vai desabonar a conduta moral de ninguém, pelo contrário, vai incentivar novos rumos evitando e/ou, quiçà  amenizando o racismo!

 

(Maria Ferreira de Araújo, assistente social da Política Nacional de Humanização – PNH, Ministério da Saúde e pós-graduada na área da Psiquiatria. Saúde Mental com Abordagem Psicossocial – [email protected])


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