A importância da originalidade na formação acadêmica
Diário da Manhã
Publicado em 23 de novembro de 2017 às 22:47 | Atualizado há 7 anos
O pensamento original deve ser praticado nas universidades desde o início da formação.
O Brasil produz mais de 60 mil artigos científicos por ano de acordo com a base de periódicos científicos Scimago (2015), além de teses de doutorado, dissertações de mestrado e trabalhos de conclusão de curso produzidos anualmente por milhões de alunos no nível superior. O problema é que muitos desses trabalhos têm algum tipo de plágio, ou seja, trazem ideias ou até mesmo trechos inteiros de textos que pertencem a outros autores.
A fraude científica tem ganhado espaço recentemente na mídia no Brasil e, com isso, universidades e instituições que financiam pesquisas passaram a dar mais atenção ao assunto. Nem sempre o plágio acontece por desonestidade do plagiador. Muitas vezes, é o atalho mais acessível para driblar problemas como o mau gerenciamento de tempo, o desconhecimento do uso apropriado de paráfrase ou citação, ou ainda conhecimento de vocabulário e gramática limitados – quando as palavras faltam, fica mais fácil buscar o argumento na voz do outro.
Sempre que um aluno copia, no entanto, ele perde a chance de aprender. O fim da cultura da cópia passa pela educação. Produzir conteúdo original e dar voz aos próprios argumentos são tarefas difíceis que requerem muita prática, mas há maneiras de facilitar este processo como, por exemplo, o uso de ferramentas eletrônicas que identificam plágio. Esses programas apontam nos textos trechos que foram copiados de outras fontes, auxiliando na identificação do problema — que é o primeiro passo para solucioná-lo.
Pouquíssimos casos de plágio são identificados e denunciados em nossas universidades atualmente porque a maioria ainda conta somente com a percepção do professor em relação aos textos dos alunos. Docentes costumam recorrer a mecanismos de checagem gratuitos ou ao Google, que detectam somente a ponta do iceberg – alunos copiam mais entre trabalhos de outros alunos e publicações científicas, do que de conteúdo da internet.
Quando a universidade atua institucionalmente para checagem da originalidade dos trabalhos de seus alunos, há um aumento significativo do número de casos de plágio na instituição, porém também cresce a consciência de que a prática deve ser evitada. Sem uma política de controle sistêmica, o problema é reincidente. Pior ainda, sem a checagem apropriada e consistente, ele se torna invisível.
É responsabilidade da universidade desenvolver políticas para a construção de uma cultura de integridade na formação de seus alunos. Quando a universidade atua institucionalmente para checagem da originalidade utilizando ferramentas tecnológicas abrangentes, que buscam além da Internet, mas também base de dados de trabalhos de alunos, livros e publicações científicas, se inicia um processo de conscientização.
Sem saída para atalhos, os alunos passam a entender onde estão errando e a praticar a escrita com mais profundidade, desenvolvem a argumentação e o raciocínio crítico e a qualidade dos trabalhos acadêmicos melhora significativamente. No longo prazo, cria-se uma cultura de integridade acadêmica que forma profissionais éticos, capazes de desenvolver o pensamento original e com capacidade de inovar para o país avançar — que, ao que parece, é exatamente o que o Brasil precisa.
(Mariana Rutigliano é Gerente de Inovação Educacional da Turnitin, empresa de tecnologia voltada para a educação)