Opinião

A lição reversa de uma ex quase ministra

Redação DM

Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 01:31 | Atualizado há 7 anos

Eu não te­nho e nun­ca ti­ve vo­ca­ção pa­ra ad­vo­ga­do. E mes­mo que o fos­se não pas­sa­ria de um re­les rá­bu­la. Por­que nun­ca fo­ram de meus pen­do­res pro­fis­si­o­nais, nem de meus ob­je­ti­vos e mo­dos, li­ti­gar con­tra quem quer que fos­se. To­da­via, pe­ço es­cu­sas a to­dos os as­sim cons­ti­tu­í­dos e saio em prol de al­guns fa­tos e pes­so­as que an­dam mal in­ter­pre­ta­das e in­jus­ti­ça­das. E acre­di­to que tal sen­ti­men­to de in­jus­ti­ça pos­sa ter de­sa­bro­cha­do no ín­ti­mo e co­ra­ção de ou­tros ci­da­dã­os. Não só com es­ses fa­tos que con­to aqui, co­mo inú­me­ros ou­tros as­se­me­lha­dos.

A pri­mei­ra pes­soa aqui tra­ta­da é do pre­si­den­te da re­pú­bli­ca, Mi­chel Te­mer. Lon­ge de que­rer fa­lar de sua bai­xa po­pu­la­ri­da­de; con­for­me pes­qui­sas de opi­ni­ão pú­bli­ca. Ela an­da na mar­gem dos 3%. Con­si­de­ran­do a mar­gem de er­ro, po­de ser po­pu­la­ri­da­de ze­ro. Três pon­tos a mais, três a me­nos, ze­ro. Mas po­de ser no­ve tam­bém. Es­ta­tís­ti­ca é a Ci­ên­cia da ine­xa­ti­dão. Fo­ra os que o con­si­de­ram ru­im ou pés­si­mo, além dos in­de­ci­sos e os que se ne­ga­ram a qual­quer ou­tra con­si­de­ra­ção e ad­je­ti­vo. São os sem no­ção e sem opi­ni­ão . Agra­dar a to­dos é mui­to di­fí­cil .

A ques­tão mai­or de que fa­lo aqui ver­sa so­bre a es­co­lha pe­lo che­fe da na­ção, da pes­soa da sra Cris­ti­a­ne Bra­sil, fi­lha do ex pre­so e ex de­pu­ta­do, Ro­ber­to Jef­fer­son (PTB), pa­ra ser mi­nis­tra do tra­ba­lho. Uma vez in­di­ca­da pa­ra o car­go fo­ram con­fe­rir o seu cur­ri­cu­lum vi­tae. Afe­ri­ção es­ta fei­ta por ad­ver­sá­rios do pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca (MDB), im­pren­sa, as­so­cia­ções de clas­se e OAB. Es­tá con­sig­na­do em sua fo­lha cor­ri­da, aque­le apa­nha­do ou re­gis­tro de cul­pas em car­tó­rios ou tri­bu­nais, que a ex qua­se mi­nis­tra já foi con­de­na­da pe­lo tri­bu­nal re­gi­o­nal do tra­ba­lho em du­as ações tra­ba­lhis­tas( ali no Es­ta­do do Rio de Ja­nei­ro). Fo­ram dois mo­to­ris­tas que tra­ba­lha­ram pa­ra a de­pu­ta­da Cris­ti­a­ne, do PTB, sem car­tei­ra de tra­ba­lho as­si­na­da e sem ou­tras obri­ga­ções tra­ba­lhis­tas pa­gas. Ela foi con­de­na­da a pa­gar aos ex fun­cio­ná­rios. Dí­vi­da que ela ain­da tem al­gu­mas par­ce­las não qui­ta­das. Mas, ela vai pa­gar, as­sim o de­cla­rou pa­ra a jus­ti­ça e pa­ra os re­cla­man­tes. Ela de­ve, não adi­an­ta ne­gar por­que foi con­de­na­da, e pa­ga­rá quan­do pu­der.

Ago­ra ima­gi­ne bem ! Pu­ra ques­ti­ún­cu­la e li­ti­gân­cia de so­me­mos im­por­tân­cia, pa­ra não di­zer de má fé . Ela de­ve, não tem ne­ga­do e pa­ga­rá, não quan­do pu­der. Além de po­der pa­gar, por­que dis­põe de bens, a jus­ti­ça as­sim o de­ter­mi­nou co­mo sua dí­vi­da e seu de­ver.

Ago­ra em no­me do con­tra­di­tó­rio e am­pla de­fe­sa das pes­so­as e dos fa­tos. Em­pos­sar uma pre­ten­sa mi­nis­tra do tra­ba­lho que des­cum­priu leis tra­ba­lhis­tas tem uma ra­zão fis­ca­li­za­tó­ria e pe­da­gó­gi­ca.

Ser che­fe de um mi­nis­té­rio do tra­ba­lho dá tra­ba­lho, sig­ni­fi­ca ser re­gen­te das re­la­ções tra­ba­lhis­tas. Tal mú­nus pú­bli­co lhe tra­ria a cha­ma­da pe­da­go­gia re­ver­sa. Por­que as­sim, ten­do ela trans­gre­di­do uma le­gis­la­ção tra­ba­lhis­ta, traz-lhe um apren­di­za­do adi­cio­nal e em­pí­ri­co do que não de­ve fa­zer o seu sé­qui­to de co­man­da­dos. Bem as­sim , tra­ba­lha­do­res, em­pre­ga­do­res e em­pre­sas sob sua fis­ca­li­za­ção e vi­gi­lân­cia. Se­ria es­sa con­tri­bui­ção , que a ex qua­se mi­nis­tra tra­ria à Na­ção. Qual o pro­ble­ma ? Eu não ve­jo.

Por­tan­to, a gri­ta­ria e pro­tes­tos ge­ra­is con­tra a pos­se da fu­tu­ra ex qua­se mi­nis­tra per­dem sen­ti­do. No mes­mo sen­ti­do so­brou ra­zão ao pre­si­den­te Te­mer na in­sis­tên­cia em tê-la ti­do co­mo sua au­xi­li­ar na pas­ta do tra­ba­lho. Ou eu es­ta­ria fa­lan­do al­gu­ma abo­bri­nha ou co­me­ten­do al­gu­ma to­li­ce?

Ou­tro fa­to de que fa­lo co­mo cau­sí­di­co se deu em Lon­dri­na PR. Nes­sa ci­da­de, ti­da e ha­vi­da co­mo gran­de pro­du­to­ra de ca­fé foi cons­ta­ta­do que nu­ma chá­ca­ra es­pe­cia­li­za­da em re­cu­pe­ra­ção de de­pen­den­tes quí­mi­cos( ma­co­nhei­ros, co­ca­i­nô­ma­nos , al­co­ó­la­tras e su­ce­dâ­ne­os ) ha­via uma plan­ta­ção ex­ten­sa de mais de 500 pés de ma­co­nha. Ora, tra­ta-se co­mo re­fe­ri­do na his­tó­ria da ex qua­se mi­nis­tra do tra­ba­lho da mes­ma te­se. Fis­ca­li­za­ção e pe­da­go­gia re­ver­sa. Não fos­se a de­nún­cia do cul­ti­vo da can­na­bis sa­ti­va, a po­lí­cia não te­ria ido àque­le lo­cal nu­ma di­li­gên­cia de mo­ni­to­ra­ção e fis­ca­li­za­ção. As­sim o fez. E nes­sa vi­si­ta, fi­cou en­tão con­sig­na­do no in­qué­ri­to, que os de­pen­den­tes quí­mi­cos cul­ti­va­vam uma gran­de hor­ta da fa­mo­sa plan­ta con­su­mi­da em ba­se­a­dos. Só is­so. Ne­nhu­ma ou­tra ir­re­gu­la­ri­da­de.

O fa­to de em uma clí­ni­ca ou es­tân­cia pa­ra re­cu­pe­ra­ção de de­pen­den­tes quí­mi­cos ser en­con­tra­do dro­gas ilí­ci­tas es­tá de acor­do com o de­síg­nio e ob­je­to das coi­sas ou da pe­da­go­gia re­ver­sa. De­síg­nio das coi­sas por­que não é de cho­fre que se des­ma­ma de qual­quer en­tor­pe­cen­te. Pe­da­go­gia re­ver­sa por­que co­mo os mo­ni­to­res e pro­fis­si­o­nais des­sa te­ra­pia de re­cu­pe­ra­ção irão de­mons­trar pa­ra os in­ter­nos co­mo ab­di­car ou ab­ster do ví­cio? Tal ex­pe­di­en­te não se faz com sis­te­mas e ex­po­si­ções te­ó­ri­cas. Tor­na-se ao que su­ge­re tal em­prei­ta­da, uma es­pé­cie de clí­ni­ca-es­co­la. Nem só de te­o­ri­as e idei­as se de­mons­tram os da­nos que o ví­cio faz .

Tal te­se e pre­le­ção se dão pa­ra pre­sí­di­os e co­lô­ni­as pe­nais. Em lá se achan­do ar­mas de fo­go e gra­na­das. Tu­do se jus­ti­fi­ca pe­la ide­o­lo­gia da vi­gi­lân­cia e pe­da­go­gia re­ver­sa.

Co­mo se de­pre­en­de des­ses fa­tos há um exa­ge­ro e fa­la­ção da im­pren­sa e so­ci­e­da­de. Tan­to na pre­ten­são do pre­si­den­te Mi­chel Te­mer, quan­to na sua in­di­ca­da a qua­se mi­nis­tra, de­pu­ta­da Cris­ti­a­ne Bra­sil. Fran­ca­men­te, quan­to fa­la­tó­rio mal­do­so e in­sos­so. Fe­ve­rei­ro /2018

 

(Jo­ão Jo­a­quim – mé­di­co, escritor)


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