A matilha, o Leviatã e as rolas
Redação
Publicado em 24 de junho de 2015 às 02:14 | Atualizado há 10 anos“Quantos olhos você tem pra me falar, quantas bocas você diz a me olhar.”
(Pelo vinho e pelo pão – Raimundo Fagner)
Se o palácio de enxofre existe, montou quartel-general no Legislativo, com franchising espalhado por todas as Casas de Leis do Brasil.
No livro O Leviatã, Thomas Hobbes descreve um Estado “que deteria consigo todo o poder da sociedade, uma vez que a ele seria transferido o poder de todos os indivíduos com o fim de ser-lhes garantida a paz e a defesa comum. A partir de então, todos lhe tornam súditos e ele o soberano, representante da vontade do povo, detentor da autoridade delegada pelos homens”. As personalidades e partidos políticos, hoje, de mãos dadas à religiosidade duvidosa e banal, em nada diferem do monstro estatal, o qual teria então, um poder irresistível, mas com o fim de salvaguardar os interesses da camada da população que se submete a ele.
Os últimos lances da democracia brasileira, acuada e encurralada na ignorância histórica, alienação pela fé banalizada da gente de bem e organizada em grupos divididos por interesses odiosos e hipócritas insulam a emancipação cidadã, a liberdade de expressão, a igualdade racial e a possibilidade da maior divisão de riquezas socialmente produzidas.
Lamentáveis e banais os fatos trazem à tona a corrupção, amante da má gestão, filha bastarda das malfadadas relações de poder, parceira inseparável do dinheiro roubado pelo trabalho ‘burocrático e fácil’ dos plutocratas. O microfone no Rádio, a lente da TV, manchetes apelativas nos jornais diários já não singram (ao contrário) sangram na falência da cultura, costumes, respeito pela diversidade cultural planetária. Midiática, uma rola mediana no Brasil, neste instante, vale muito mais que toda a imensidão e história dos templos, sejam eles de salame ou de Salomão.
Há uma crise institucional mundializada – generalizada e provocada – a qual determina (sob a égide do capital) políticas econômicas com valores que ignoram o credo, a fome, os corpos esparramados ao chão sem dono. Países em guerra, 72 deles hoje, perpetuam a hegemonia podre, incluindo a logística capitalista das igrejas. A Terra existe e ferve fora da cúpula dos templos. Ela é frágil como uma taça de fino cristal e sonhos almejados, derramando, o tempo todo, o sangue forjado no odor suado da realidade.
A luta pela sobrevivência social – retratada na empresa ou o trabalhador – depende do óleo capitalista gerado na fricção monetária do progresso o qual se alimenta no cocho do consumo mundializado. Mas ainda existem proletários que sujam as mãos na dignidade amarelada pelo trabalho honesto na colheita do açafrão.
Insumo histórico os últimos acontecimentos envolvendo a gente apequenada – ligada aos desmandos da política tupiniquim – expõem ao mundo real, e lá fora, que educar para libertação, no Brasil, é processo e ferramenta de dominação e passa por dentro do templo, enfrenta a exploração e financiamento do ensino, avaliza o desespero em falácias que perpetuam as mais diferentes formas de alienação partidária, da fé banalizada, ódio racial ou ignorância ligada à questão de gênero.
De acordo com o filósofo Caio de Abreu: “O Deus que promete ceia num balcão sujo de sangue, pós-vitória sobre um outro povo, retira do alimento o tempero da espiritualidade que determina a vida em sociedade.” Hipócritas, as instituições se vendem, exploram, banalizam e compram a fé. Estas precisam lavar a alma muito antes que os pés ou as mãos. A matilha institucional esconde o rabo na Torre de Babel, montada com tijolos da hierarquia, ditando nomes, promovendo o escambo de cargos vitalícios, dilacerando a laico pela força da ideologia e logística capitalista que explora a ignorância leiga. Este poder paralelo possui e ocupa (sem pagar impostos) endereços diversos, realiza depósitos bancários vultosos no exterior. O saldo, lá fora, não corresponde aos dos fieis acorrentados a juros bancários e falaciosas promessas dos templos espalhados pelo País os quais vendem uma vida melhor em outra vida.
Não há como negar a democracia participativa, mesmo que ao avesso. Semana passada, mais uma vez, o Brasil direitista e religioso inovou em política, expondo ao ridículo o País ao mundo (real e lá fora). Na Terra de Cabral, os Três Patetas militam em número de seis. A quem interessa o momento conjuntural do Brasil? Circo a templo aberto, tem o Diabo mandando no Senado e seus deuses – todos de barro – apresentam projetos retrógrados, ignoram a Constituição, banalizam o poder. Incapazes de vestir a própria calça, pretendem espreitar as cores da lingerie usada lá fora. Presos ao princípio da vingança e do olho por olho, dente por dente, propõem a redução da maioridade penal. Efêmeros, solicitam a entrega mais rápida da pizza. Com medo da própria sexualidade, enrustida, proíbem a brincadeira do pau-de-sebo nas festas de junho. Com relação às Festas Juninas, o presidente da Câmara liberou deputados para participar das quadrilhas no Nordeste. Será que, no Brasil, só existem quadrilhas por lá.
Aos que relutam na comparação do País ao circo (que me perdoe o circo), na propaganda política – paga pelo contribuinte – o palhaço, até agora, foi o único capaz de trazer a linguagem do povo à janela da mídia na qual pululam partidos. Ele teve coragem emde denunciar o penico da conjuntura, no qual os trabalhadores nadam, enfrentando a onda da violência ao mesmo tempo em que relutam em não morrer de fome ou por raiva.
E o pulso… ainda pulsa!
(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)