A Mente pervertida dos Intelectuais. Uma análise psiquiátrica
Redação DM
Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 21:06 | Atualizado há 7 anos
Há muito poucos estudos sobre a psicopatologia dos intelectuais. Talvez porque qualquer estudo desse tipo teria de ser feito por um intelectual… E uma das características do intelectual é ser orgulhoso, avesso à contestações e pouco crítico. Isso não deixa de ser paradoxal pois a base de toda ciência digna desse nome é justamente ser aberta à crítica, estimular e não se furtar jamais à autocrítica.
O marxismo só ganhou a batalha no mundo culto ( toda Europa social-democrata tem base no marxismo ) depois que o genial intelectual comunista italiano Antonio Gramsci concluiu que os intelectuais são muito melhor massa de manobra que os operários ( essa última tese, a dos operários como móvel da revolução, era a tese de Marx) .
Os intelectuais revoltam-se contra o poder e o carisma dos empresários ( “gente da direita”) porque eles mesmos , isto é, os intelectuais, são preguiçosos para o trabalho duro, e ficam incomodados por serem mandados por “analfabetos”.
O trabalho regular, monótono, superficial, simplex ( p.ex., tocar uma fábrica , um comércio ) cansa, os entedia. A profundidade da mente de um intelectual o torna avesso ao comércio, à indústria, assim como avessos à “conversas fiadas” co9m peões nos canteiros de obras e no chão-de-fábrica. Não gostam muito da corporação, da troca, da democracia, não tem paciência com os “burros”. A intolerância dos intelectuais para com o outro, para com a crítica, acaba limitando seu aprofundamento intelectual, e é por isso que o verdadeiro intelectual, o profundo intelectual, também é um ser moral, pois tem de levar em conta a opinião do outro, tem de levar em conta o outro, tem de levar em conta o mundo externo. O verdadeiro intelectual ( aproximadamente 10% deles ) não se aprofunda só no próprio eu, só na própria vontade, justamente porque , como cientista, quer conhecer o Universo, e para conhecê-lo ele tem de abrir-se para o mundo, além de ter de ser sincero para com o mundo . Se ele faz o que não é moral, ele não pode ser sincero, não pode ser verdadeiro, e isto o compromete como verdadeiro intelectual que ele quer ser. Nesse ponto o que é racional tem de ajuntar-se ao que é moral.
É esta sinceridade que paralisa o mundo empresarial/político, pois a base da empresa e da política são justamente interesses pessoais que não podem ser confessados ou divulgados publicamente. Então, nessas sociedades intelectualizadas evoluídas, “para não pecar”, ninguém faz nada, daí estes países estarem ficando atrás de outros muito menos desenvolvidos intelectualmente, tais como a China. A solução “intelectual” dos países cultos tem sido a “paralisação do Nirvana” : “não vamos pecar porque não vamos fazer nada”. Por que chegaram a esta solução ? Porque viram que à direita não há solução ( “políticos e empresários só querem mandar em nós, poder, dinheiro, prazer” ) e que também à esquerda não há solução ( “os líderes dos colegiados, líderes do comunismo, acabam mostrando-se egoístas, ditadores, esmagadores, interesseiros, tão ou mais do que os capitalistas, porque os capitalistas pelo menos têm quem compita com eles, e isto os regula de um jeito ou de outro”).
Na Europa conseguiram , inclusive, quase anular o mando que os “políticos” têm sobre eles : em grande parte dos países mais desenvolvidos, os políticos não passam de “burocratas de uma poderosa máquina estatal”, mais ou menos impessoais, sem carisma, sem “o culto à personalidade” .
Os intelectuais julgam que o único poder pessoal legítimo é o poder do aprofundamento. Julgam que políticos e empresários são “superficiais no ser”. De fato, a maioria dos políticos e empresários, dos poderosos, é mesmo de escrotos, egoístas, autocentrados. Mas, mesmo sendo profundos, os intelectuais são também , geralmente, autocentrados. São muito poucos os que venceram a arrogância/prepotência/egoísmo/intolerância típicos dos intelectuais. De fato, entre os “arrogantes político/empresários” e os “arrogantes intelectuais”, esses últimos são mais profundos, mas nem por isso são melhores.
Por outro lado, há os empresários que só ficam ricos porque gostam de trabalhar muito, não porque gostam de mandar, de ter prazer, de dominar os outros. O problema é que estes – que poderiam ser um forte móvel de progresso para qualquer sociedade – também são desprezados pelos intelectuais, que colocam todos os de “direita” no mesmo saco.
Os intelectuais preferem a esquerda, preferem o estatismo, o “colegiado”, a “assembléia”, preferem a “autogestão” ( como se isso fosse possível em instituições complexas ) porque acham que, com isso, fogem do “mando” do empresário, do “homem de direita”. Só não conseguem sair do impasse de que : a/ mesmo no “coletivo”, no Estado, no colegiado, na Assembléia, no Comunismo, haverá os que mandam, os líderes. b/ esse mundo de “coisas coletivas”, “coisas do Estado”, não tem eficiência nenhuma, porque o que é de todos não é de ninguém. E também porque para dirigir coisas complexas, pesadas, duras, profundas, é preciso de uma mente privilegiada, forte, determinada, superior, com espírito de envergadura, e a “média da população” não é assim, a “média da população” é, geralmente, medíocre, tanto em termos intelectuais quanto morais.
Os intelectuais ganharam na Europa, um lugar onde : 1/ poucos têm interesse em trabalhar pesado, empreender, criar, inovar. 2/ onde o estímulo para o estudo, para o trabalho, tem minguado, justamente porque um que estuda muito ganha quase do mesmo tanto que um que estuda pouco ou nada. 3/ o Estado fica com a maioria dos recursos da sociedade civil, o que dificulta a emergência da evolução individual. Isso cria um paradoxo, pois tal Estado-paralisante é exatamente algo do qual muitos intelectuais têm medo. A intelectualidade que derrubou os regimes comunistas puros os derrubou exatamente porque este Estado limitava a capacidade criativa dos intelectuais. Em Estados onde a opinião é mais “livre”, como os social-democratas europeus de hoje, os intelectuais têm a ilusão de que estão “livres para criar”, mas não vêem as correntes grossas que o Estado coloca em praticamente todas as outras áreas do desenvolvimento .
No Brasil isso quase não é um problema, pois aqui não temos intelectuais. Nossa cultura ibérica, moura, negra, indígena, nos faz “ter raiva” do intelecto, nos faz “hiperativos” e pouco obsessivos ( os “brancos”, assim como os “amarelos de clima frio”, são mais obsessivos do que hiperativos – se não forem obsessivos morrem na primeira nevasca e isso fez com a seleção natural moldasse um tipo de inteligência diferente da nossa ). Não termos intelectuais é uma benção e um castigo. Uma benção porque não temos intelectuais que ditatorialmente ( vide Marx, Engels, Lênin ) , dominam o Estado, dominam a sociedade. Intelectuais têm um prazer enorme em colocar sua “mente” , suas “teorias”, para mandar nos outros. É muito melhor do que o consenso, eles não gostam do consenso. O marxismo/socialismo/comunismo não nasce de uma “caridade”, de amor, de compaixão pelos mais fracos, mais pobres, pelo contrário, nasce de uma violência. De uma violência do intelecto que quer “mandar o que temos de fazer “ : anular as propriedades das pessoas, colocar todos para ganharem igual, colocar todos para trabalharem no que não gostam, colocarem os mais cultos para serem mandados para os mais burros, abolir o patrão, abolir o “chefe”, abolir a “autoridade”, etc. Tudo isso é extremamente violento, mas é um prazer do intelectual ( “o ópio dos intelectuais” R. Aron ) ver que seu plano saiu de sua cabeça e foi aplicado à força em toda a Sociedade, “esta sociedade de inferiores”.
Por outro lado, é uma desgraça não valorizarmos a intelectualidade, pois sem ela corremos o sério risco de nos tornarmos marxistas pela via do “operariado”, é a via Cubana, é a via Venezuelana ( lugares onde não há intelectualidade ). Onde não há intelectualidade a sociedade se acostuma com a “igualdade que torna todos iguais e todos pobres”, a sociedade se sente bem em “esmagar os riquinhos”, “os superiores”, os “capitalistas”. Sem os intelectuais , a “massa média”, a “geléia geral” se contenta com o café-pelé-mulé , com o churrasco na laje, o futebol, a bunda de mulher, o sol na praia. Só os intelectuais é que problematizam tudo, preferem criar , serem livres, poderem evoluir, a terem de morar em um “paraíso de eterna igualdade”, como Cuba. Por isso a Venezuela, como Cuba, não sai mais do comunismo, caminho que , igualmente, trilhará o Brasil, se cair nas garras de Lula/petismo/esquerdismo , de novo.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra ( hospitalasmi[email protected]))