A mentira e suas comparsas
Redação DM
Publicado em 4 de setembro de 2018 às 22:37 | Atualizado há 7 anos
Depois de um breve interregno que me ausentei das páginas do caderno Opinião Pública deste conceituado jornal, neste artigo de hoje vou falar, de maneira genérica, sobre a mentira, a difamação, a calúnia e a injúria que, no particular e no geral, no varejo e no atacado, são utilizadas com o mesmo objetivo, isto é, prejudicar terceiros, sem dó nem piedade, mas tão somente com o desejo insano de fazer o mal. Como fiéis comparsas elas andam sempre de mãos dadas, sem que nenhuma reclame da outra, a qualquer tempo e lugar, porque se identificam plenamente, sem nenhuma restrição.
Usadas desde os tempos primitivos até os dias atuais elas podem ser definidas, apropriadamente, como nódoas perversas, nojentas, ignóbeis, reprováveis e cancerosas, que comprometem os padrões de civilidade e de decência de quem as pratica, sem pejo ou qualquer tipo de arrependimento e remorso, tendo como agentes ativos, subalternos, obedientes e covardes o mentiroso, o difamador, o caluniador e o injuriador que, unidos e inseparáveis, pelos mesmos sentimentos e propósitos, procuram ofender e desmoralizar aqueles que contrariarem seus interesses, sempre escusos e alheios à verdade. É assim que eu classifico sob o aspecto moral essas figuras e esses personagens.
Na política, como na vida pública, essa prática odienta é mais usual, mormente por quem, sem bandeiras e idéias convincentes, deseja conquistar o poder ou nele permanecer, a qualquer preço. Nas relações sociais e familiares, também ocorre o mesmo, porém em outras vertentes, sempre causando danos irreparáveis às vítimas escolhidas, durante o dia ou mesmo nas caladas da noite.
No Estado do Tocantins, esse costume deletério é muito freqüente, onde o monopólio do poder não pertence ao povo, mas aos governantes de plantão, que desejam subjugá-lo e quase tudo podem e fazem ao arrepio da lei. Se não se obedece seu jogo e seus caprichos o troco vem de maneira implacável e imediata. Muitos já beberam desse fel e foram trucidados no cadafalso, sem direito de defesa. Mas uns poucos, muito poucos, rebelaram-se para não sofrer na vala comum e aí o castigo foi mais duro e cruel.
Escritor primoroso e jurista de escol, com mais de vinte livros publicados nas duas áreas, ou seja, na literatura e no direito, o desembargador tocantinense José Liberato Costa Póvoa, recém aposentado por implemento de idade, foi uma das vítimas de uma parlamentar federal de alta plumagem, com grande poder de influencia nas esferas superiores da República que, inconformada com decisão por ele proferida na Corregedoria Regional Eleitoral, em que a mesma figurava como parte interessada, denunciou-o ao Conselho Nacional de Justiça, alegando que sua conduta era incompatível com o exercício do cargo, não obtendo êxito por atropelamento de prazos e por ausência de motivos para sua condenação, conforme nota que o ofendido publicou na imprensa tocantinense, no mês de abril do corrente ano, em que ele classifica a denunciante como “ardilosa, arritivista, maquiavélica e volúvel”, entre outras considerações. Mas no Tocantins é assim mesmo. Se não se lê na cartilha dos poderosos a resposta aos rebeldes vem imediatamente, o que já ocorreu, também, em outros órgãos do estado e até mesmo contra humildes servidores públicos que, muitas vezes, são transferidos para municípios distantes de sua lotação, bem longe de suas famílias. Essa é a lei diabólica que ainda impera naquela unidade federada. Meu mano Solon, o caçula da irmandade, sofrera esse castigo, embora não abrisse a boca para falar que votava em A ou B, mas exclusivamente porque nosso saudoso pai, Salvador Francisco de Azevedo, antes de falecer, era um dos líderes da oposição ao governador da época, que pertencia ao PMDB.
Não é justo, humano, nem sensato fazer ou desejar o mal a ninguém, porque sempre o feitiço vira contra o feiticeiro, de forma dolorosa. Essa a lei inexorável do retorno, que muitos dela têm conhecimento ou já a experimentaram.
Pobre de ti, meu querido berço natal, por tanta ignomínia, que mancha sua história, de maneira indelével. Não foi para isso que eu contribuí, ainda na infância e na adolescência, para a sua criação, escrevendo artigos para jornais, distribuindo panfletos e participando de reuniões, passeatas e comícios. Mas valeu a pena minha luta, inspirada nos ideais, desassombrados e heróicos, do desembargador lusitano Joaquim Theotônio Segurado e do Juiz de Direito da Comarca de Porto Nacional Feliciano Machado Braga que, sem temores ou vacilações, pugnaram durante muitos anos para verem a grande região tocantínia, livre e independente das masmorras da escravidão, o que, lamentavelmente, não conseguiram presenciar. Nos seus túmulos, esses heróis, de saudosa e imorredoura lembrança, devem estar chorando por tanto opróbrio.
Tenha a certeza, desembargador Liberato, que o senhor continua merecendo a admiração e o apreço de todos os seus conterrâneos, a que tanto faz jús, como também sua solidariedade, como forma de desagravo pela injustiça sofrida, que atinge sobremaneira toda a família dianopolina, especialmente as pessoas de sua geração.
Hoje, por entender necessário, achei por bem adicionar a este texto, publicado neste prestigioso jornal em 2014 e que consta às páginas 172/173 do meu livro intitulado “Imagens que ficaram”, com pedido de nova publicação, em virtude do que se segue.
O desembargador Liberato Póvoa, porque não se sujeitou a ser instrumento do ódio e das vinganças de alguns políticos tocantinense foi jogado na cova dos leões para trucidá-lo. Porém, ele deu a volta por cima e hoje, aqui em Goiânia, com escritório de advocacia e numerosa clientela, resolveu candidatar-se a deputado estadual, com grande possibilidade de ser eleito, mercê do seu vasto círculo de amigos e das alianças que vem realizando em vários municípios do interior do Estado.
(Sisenando Francisco de Azevedo, advogado, escritor, historiador, articulista do DM e membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI)