Opinião

A nova presidente do BNDES manda abrir caixa-preta

Diário da Manhã

Publicado em 24 de junho de 2016 às 02:40 | Atualizado há 9 anos

Em 09/02/2015, publiquei neste espaço o artigo “BNDES, um escândalo gigantesco (o da Petrobrás é apenas gorjeta)”, que, não obstante passados quase um ano e meio de publicado, tem dado panos pra manga, pois venho recebendo regularmente, via e-mail, manifestações que coincidem com a minha opinião: diante do caso BNDES, o “mensalão”, “eletrolão” e “petrolão” são inocentes histórias da carochinha neste imenso lamaçal de corrupção em que estamos atolados.

Depois de precipitadas e equivocadas nomeações de ministros, subitamente desnomeados por terem o rabo preso à Lava Jato, parece que o presidente Temer lavrou um tento, ao nomear a economista Maria Silvia Bastos Marques para presidir aquele banco, que se tornou a “Mamãe Dolores” dos grandes empreiteiros e, indiretamente, do Instituto Lula, que se encarregava de mascarar as tais palestras do ex-presidente, com os suspeitíssimos cachês, na média de meio milhão cada.

Dizia eu que “a Odebrecht obteve financiamentos de 957 milhões de dólares para o Porto de Mariel (Cuba), 243 milhões de dólares para a Hidrelétrica de San Francisco e 124,8 milhões de dólares para a Hidrelétrica de Manduruacu, ambas no Equador; 320 milhões de dólares para a Hidrelétrica de Cheglla, no Peru; um bilhão de dólares para o Metrô da Cidade do Panamá e 152,8 milhões de dólares para a Autopista Madden-Colón, ambas as obras no Panamá; um bilhão e 500 milhões para Soterramento do Ferrocarril Sarmiento, ambos na Argentina; 732 milhões de dólares para as Linhas 3 e 4 do Metrô de Caracas e 1 bilhão e 200 milhões para a segunda ponte sobre o rio Orinoco, na Venezuela; 200 milhões de dólares para o Aeroporto de Nacala e 220 milhões para o BRT de Maputo, ambas as obras em Moçambique. A OAS foi contemplada com 180 milhões de dólares para o Aqueduto de Chaco, na Argentina, e a Andrade Gutiérrez, com 450 milhões de dólares para Barragem de Moamba Major, em Moçambique. E assim, aparecem outras empreiteiras, como a Queiroz Galvão, com obra na Nicarágua (Hidrelétrica de Tumarin), ao custo de um bilhão e cem milhões de dólares, e 199 milhões de dólares em obra na Bolívia (Projeto Hacia El Norte – Rurrenabaque-El-Chorro), sem se falar em outras obras no Peru e no Uruguai. Percebe-se que a ‘Lava Jato’ vem apenas se antecipando na revelação dos colaboradores da quadrilha.”

Enquanto o Brasil vem atravessando uma crise sem precedentes, totalmente sucateado, é estranho que tais obras em países sem qualquer perspectiva de parceria útil, apenas unidos pela ideologia, estejam jogando pelo ralo nosso minguado dinheirinho, que poderia estar sendo usado na saúde, na segurança, na educação e em obras inacabadas (e muitas delas já pagas). E, “coincidentemente”, a cada liberação, lá estava Lula, no país beneficiário, “fazendo palestras” cujo tema ninguém sabe e sempre a convite da empreiteira que recebeu o financiamento.

Agora, assumiu a nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, administradora e executiva brasileira, com mestrado e doutorado em economia. Foi a primeira e única mulher a ocupar a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a maior siderúrgica integrada da América Latina. Por tal fato ganhou a alcunha de “Dama de Aço”, pela sua forma técnica de dirigir uma empresa, onde não pairou qualquer dúvida quanto à lisura de sua gestão. Foi secretária municipal de fazenda da cidade do Rio de Janeiro de 1993 a 1996 na gestão do prefeito César Maia e ficou conhecida como a “Mulher de 1 Bilhão de Dólares”, referência ao valor do caixa do município deixado após sua saída, um fato inédito. Foi uma das poucas mulheres a ocupar um cargo de diretoria no BNDES. Incluída na lista da Revista Time como única mulher entre os doze executivos mais poderosos do mundo, no primeiro ano de sua gestão dobrou o faturamento da CSN, a quinta maior empresa nacional. Antes de entrar para essa empresa, havia rejeitado convite do então presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, para conduzir a Petrobras. Presidiu o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e foi coordenadora da área externa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, assessora especial para assuntos de desestatização do BNDES e, também, da área financeira e internacional do BNDES. Fez parte também dos conselhos de administração de empresas como Souza Cruz, Pão de Açúcar e Arce e Marsh&McLennan Companies.

Agora, depois de longa queda de braço, o TCU e o Ministério Público Federal (MPF), a nova presidente tomou a decisão de abrir a caixa preta, e o TCU/MPF, para alegria dos investigadores, vão ter acesso a todas às informações referentes aos empréstimos concedidos pelo PT através do BNDES no Brasil e no exterior, que eram sistematicamente sonegadas, pois já saíam com o carimbo da inadimplência. A ordem, agora, é para o atendimento a todos os ofícios enviados pelo procurador junto ao TCU, Marinus Marsico, e às demandas dos procuradores da República em suas três frentes de investigação, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está montando uma força-tarefa para apurar todas as irregularidades no BNDES – um escândalo bilionário que os investigadores estimam envolver uma quantidade de dinheiro superior ao astronômico roubo na Petrobras. A força tarefa será chefiada pelo subprocurador-geral da República Marcelo Moscogliato, avaliado pelos colegas de Ministério Público como um especialista na apuração de crimes no sistema financeiro.

Parece que finalmente vai ser aberta a mais esperada “caixa preta” do maior de todos os escândalos já ocorridos no Brasil, diante do qual “mensalão” e “petrolão” são apenas gorjeta.

Praza aos céus!

 

(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras escritor, jurista, historiador e advogado, [email protected])


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