A ocasião faz o ladrão
Redação DM
Publicado em 2 de junho de 2016 às 02:37 | Atualizado há 9 anosEsta velha máxima é uma maneira de testarmos a honestidade dos seres humanos, que se aproveitam de determinadas situações para levarem vantagens. Alguns, talvez por descontrole, doença ou maldade, onde não pensam duas vezes para cometer atos inimagináveis.
Tenho ao longo dos meus quase 50 anos (16 de julho eu os completo), buscar levar uma vida semelhante ao do meu saudoso pai, Otávio Pereira do Vale, pessoa por quem tenho mais do que respeito pelo seu caráter e idoneidade, mas orgulho de carregar o seu sobrenome e de tentar me espelhar em sua vida.
É preciso que estejamos atentos no policiamento de nossas atitudes, para que não sejamos injustos com nossos semelhantes. Mas, isto não nos impede para que não estejamos vigilantes diante dos que nos cercam, para que não cometam maldades que venham a prejudicar a nós e a terceiros, frente aos seus interesses pessoais mesquinhos e traiçoeiros. Calar-se e omitir-se diante da opressão e maldade, não é sinônimo de bondade, mas de covardia.
Falar a verdade e estar com nossas consciências tranquilas é o que importa. Sei que muitas vezes o ofício de escrever machuca uns, instiga outros, enfurece ciclano, esclarece beltrano, e por aí vai. Escrever é materializar nossos pensamentos. É dar voz as nossas razões, frustrações, decepções, sentimentos.
Vivemos em constante aprimoramento e comungo com a ideia de que nos encontramos em um planeta de provas e expiações. Aqui estamos para resgatar dívidas e, quase sempre, acabamos por aumentá-las, diante de nossa razão nem sempre certa, de nosso julgamento nem sempre correto e de nossos rompantes nem sempre controlados.
Mas é preciso ser honesto com nossos sentimentos. A melhor forma de não guardarmos e acumularmos sentimentos negativos, é colocando-os para fora. Quer pelas escritas, uma boa conversa e se não resolver, buscar ajuda em uma boa psicanálise. No meu caso, a escrita me apraz.
Carlos Drummond de Andrade em seu poema “Os homens; as viagens”, publicado inicialmente como crônica no jornal do Brasil, nos diz que mais importante do que chegar a Marte ou a qualquer outro mundo distante, o fundamental para a humanidade é resolver os problemas da fome, da desigualdade e das injustiças aqui mesmo. Para isso, ele propõe que o ser humano faça uma viagem de si a si mesmo e questione o que andamos fazendo com nossos semelhantes e com nosso velho e maltratado planeta Terra.
Com o nosso velho e maltratado planeta, esse “bicho terra” a cada dia o destrói conscientemente. Não buscamos e não despertamos uma consciência ecológica correta em nós e nos nossos filhos, pois pensamos que o próximo século está muito longe, esquecendo-nos que ele está logo ali.
Com os nossos semelhantes o que fazemos vai de encontro com a consciência de cada um. A maldade em certos casos é exercida sem nenhuma vergonha ou culpa. Colocam o seu interesse em primeiro plano e dane-se os outros. Por frustração de uma vida de infortúnio culpa o mundo e se vinga no primeiro que aparece, neste caso, muitas vezes com quem encontra-se próximo e que lhe estendeu as mãos. E, pior que fazer é tentar justificar o erro dentro de sua visão egoísta e maléfica.
A vaidade para a grande maioria dos seres humanos sempre é maior do que suas razões. Os fins justificam os meios, quando o assunto é a satisfação do ego. Aliar-se a sacripantas e traidores é aceitável, se isto facultar o alcance de certos objetivos.
A ocasião mais do que fazer o ladrão, o evidencia. É muito fácil percebermos o malandro que nos cerca, pois não existe o crime ou erro perfeito. A maldade sempre foi e será verificada diante dos que agem querendo levar vantagem em tudo.
Uma verdade inconteste: quer conhecer uma pessoa? Veja como ele fala; se olha dentro dos seus olhos; se não tenta ser forçadamente agradável; veja com quem andas; se deixou saudade e construiu uma história no ambiente por onde trabalhou; se construiu uma história. Se apenas uma dessas qualidades inexistirem, cuidado! podes estar convivendo com um malandro ou pessoa de má índole.
É muito desagradável ver e apontar deméritos nas pessoas. Mas pior ainda é enxergá-los e não evidenciá-los, quando os mesmos prejudica ou poderá prejudicar várias outras. Não podemos permitir que construam artimanhas para enganarem os nossos semelhantes. Não haverá o que seja sempre perfeito, mas sempre encontraremos o que são menos ruim.
Emmanuel, espírito de escol e mentor de Chico Xavier disse: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.”
Errar é parte incontestável do ser humano, mas se insistem em persistir no erro, temos que ter o bom senso de procurar nos afastar e frear determinadas atitudes, valendo-nos sempre da verdade e de um julgamento justo de nossas consciências.
A verdadeira amizade é construída dentro do respeito, até mesmo nas diferenças. Os verdadeiros amigos são aqueles que nos criticam na nossa frente e que nos defendem nas nossas costas. Não o contrário, pois assim sendo, é traição.
Amizade verdadeira não é ser inseparável. É estar separado e nada mudar. Se houver mudança, que amizade existiu?
Eis a questão!
(Cleverlan Antônio do Vale, graduado em Gestão Pública, Administração de Empresas, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, doutorando em Economia, articulista do DM – [email protected])