A oposição aprendeu!
Redação DM
Publicado em 19 de outubro de 2015 às 23:52 | Atualizado há 10 anosDesde que a reconfiguração do poder central adquiriu a partir de 2002, com a eleição de Lula da Silva, outra centralidade de modo e maneira a incorporar temáticas sociais ao cotidiano da vida e da cultura da gestão pública do País dois grandes desafios públicos se impuseram às esferas da política nacional.
O primeiro foi o de tornar governo quem nunca fora governo e; o segundo, o de converter em oposição aqueles que jamais estiveram na oposição. Esse quadro político, somado ao ambiente nacional e internacional de grande otimismo com o governo de Lula permitiu um ambiente interno de equilíbrio político e institucional para o governo e que como se sabe, perdeu excelente oportunidade para emplacar reformas e mudanças de que o País de fato e ainda hoje, necessita.
A “lua de mel” com o petismo governamental some de vez e paisagem com a eclosão do interminável escândalo do mensalão, mas, que de algum modo, inaugura a oposição aos governos petistas. É importante, no entanto, considerar que efetivamente, essa oposição ao governo só seria de fato, possível com a interveniência ativa e intelectual das muletas da mídia que também e não casualmente, se reinventa para o “estranho” tempo político dos petistas.
Fato é que a oposição ao governo de Dilma Rousseff é completamente diferente da conferida para Lula da Silva. Esta é a oposição do “vale tudo”, com disposição de, inclusive, mandar a Constituição Federal às favas. Os discursos de ódio e que de tão corriqueiros já não nos escandaliza é um périplo verborrágico e lodaçal que vai da mais insidiosa ofensa pessoal a presidente da República até aos clamores mais abobalhados em favor de quarteladas clássicas e que pululavam por esta parte subcontinental nos tempos altos e intensos da Guerra Fria.
É a oposição mais especial da história brasileira. A oposição ao governo do presidente João Goulart é um templo de monges beneditinos perto do atual “modus” oposicionista e que atualmente se realiza pelas plagas de Brasília.
É a oposição nascida de oito derrotas em disputas presidenciais, envolvendo primeiro e segundo turnos; é a oposição da mágoa; do ressentimento e; da angústia mais profunda e interna que se possa imaginar; é a oposição que destruiu qualquer reminiscência progressista e socialista do PSDB; é a oposição do “fim do mundo”.
A presença de marginais notórios e honoráveis, no dizer de Palmério Doria, como Ronaldo Caiado, José Agripino Maia, Eduardo Cunha e Aécio Neves no front central das oposições com discursos (imagine!) moralistas, nacionalistas e de defesa do trabalho revela que, definitivamente, essa oposição é “nova” e de que precisa, portanto, ser compreendida para ser combatida ao rés do chão.
Renovada pelos piores pântanos da já muito rasteira política brasileira este fenômeno demonstra que estamos verdadeiramente diante de fenômeno político distinto. Os oponentes de Dilma Rousseff não são adversários, são inimigos; não são concorrentes políticos, são beligerantes ensimesmados pelo desejo incontido pelo poder central; não possuem qualquer projeto de país, o desiderato desta oposição monotemática é derrubar por qualquer via e custo Dilma Rousseff.
Mesmo “renovada”, é importante considerar que esta oposição que ai está mesmo refundando praticas políticas de oposição, o faz mirando no passado e não no futuro. Não refazem a oposição visando mais liberdade, mais abertura e mais direitos, o movimento é exatamente o revés…
Quanto mais cerceados estivermos, quanto mais falidas estiverem as políticas públicas, que afinal, são formas do Estado de se fazer presente na vida social… Mais argumentos, narrativas e gás político esta neo-oposição terá.
É a oposição do “vai ou racha” e o resto é feito por partidários, simpatizantes e outros vinculados às citadas esferas políticas. Nesse sentido, o debate, sempre tosco e incompleto, tática e propositadamente incompleto e conduzido pela “emprenssa” nacional é o princípio gerador de perspectivas individuais e coletivas, de sensibilidades e percepções sobre o “enorme caos” que é o atual governo.
O importante, no entanto, é não retroceder com nossas instituições e com a nossa frágil democracia, para isso a situação deve se enfileirar, sobretudo, com movimentos sociais combativos e à esquerda, azeitar argumentos, realizar o melhor dos enfrentamentos e desconstruir histórica e conceitualmente essa “neo-oposição” midiatizada, de novo, monotemática e abertamente cleptomaníaca.
(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político, doutorando (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)