A parábola dos primeiros lugares
Redação DM
Publicado em 29 de janeiro de 2017 às 00:44 | Atualizado há 8 anosObservando Jesus como os convidados escolhiam os primeiros lugares, contou-lhes esta parábola:
“Quando fores convidado por alguém para um casamento, não te reclines no primeiro lugar, para que não aconteça que alguém mais digno do que tu tenha sido convidado e quem convidou a ti e a ele venha a te dizer: ‘Dá o lugar a este’. Então irás, envergonhado, ocupar o último lugar.
Mas quando fores convidado, vai ocupar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, assenta-te mais para cima’. Então será isto uma glória para ti, diante de todos os que se reclinam contigo. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. (Evangelho de Lucas, cap. 14, vv. 7 a 11).
Jesus ainda se encontrava na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição. Depois de curar o homem hidrópico, o Rabi aproveitou a ocasião para dar uma lição acerca da humildade. Se os fariseus observavam o Mestre, também eram observados por ele, que constatou que os convidados escolhiam os primeiros lugares.
Os lugares mais próximos onde se encontrava o anfitrião eram os mais cobiçados. Ao ver que a maioria dos presentes buscava esses lugares, contou-lhes uma parábola, a qual também foi uma preciosa lição de etiqueta.
Embora busque como exemplo a festa de um casamento, Jesus recomenda que o convidado para qualquer evento deve se portar com discrição, seguindo a ordem estabelecida.
O Mestre afirma que ao ocupar o primeiro lugar, alguém poderá ocupar um lugar de alguém mais digno e ser convidado a se retirar desse lugar. Diante dessa orientação, surge a pergunta: Quem é alguém mais digno? A dignidade, nesse contexto, não se refere ao convidado mais virtuoso e sim ao mais valioso para o anfitrião ou para a ocasião. Por isso, não se deve pensar que seja espiritualmente menos valioso os convidados que ocupam os últimos lugares.
Nesse contexto, também surgem outras indagações: onde Jesus se assentou para tomar a sua refeição na casa de um dos líderes dos fariseus, nos primeiros ou nos últimos lugares? Ao observar o seu ensinamento, inicialmente buscou os últimos lugares. Depois de curar um homem portador de hidropisia, o Mestre teria sido convidado a ocupar algum dos primeiros lugares. Além disso, parece que o anfitrião demonstrou respeito a Jesus, consequência de não ter sido censurado por alguém ao curar um enfermo naquele sábado.
É possível ainda que o Mestre, ao ministrar esse ensinamento, ainda não tenha se assentado, embora estivesse em algum lugar mais discreto do recinto, onde provavelmente se encontrava o hidrópico.
Nesse episódio, o divino Rabi combate o personalismo, o orgulho, a vaidade e a hipocrisia. Contudo, essa conduta orientada por Jesus é um exercício de humildade porquanto alguém poderá agir do modo recomendado e ainda ser portador de soberba.
Por meio dessa parábola, o divino Amigo diz que a vergonha está reservada para o orgulhoso e a glória será o resultado de quem age com humilde e respeito: “Então irás, envergonhado, ocupar o último lugar”; para aquele que sentou no último lugar e foi convidado a sentar no primeiro lugar “será isto uma glória para ti, diante de todos os que se reclinam contigo”.
Jesus sintetiza a sua parábola com a máxima:
“Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.
O que lembra Isaías (10:33):
“O Senhor Deus dos exércitos cortará os ramos com grande força. As árvores altivas serão derrubadas, as altas serão abatidas”.
Máxima que também lembra um versículo do cântico de Maria diante da Anunciação de Jesus pelo Anjo Gabriel (Lucas, 1:52):
“Depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes”.
O Mestre nos ensina que todo aquele que é respeitoso e obediente perante as Leis de Deus será exaltado por essas Leis, mas todo aquele que usa mal o seu livre-arbítrio, desrespeitando os direitos naturais do próximo, será humilhado de diversos modos, consequência inevitável e dolorosa decorrente da Lei Natural de Justiça.
O Mestre não nos recomenda a humilhação da indignidade e sim a observância e a aceitação incondicional da Vontade soberana de Deus. Além disso, Jesus não censura os que experimentam a alegria do cumprimento do dever porquanto isso não se trata de uma exaltação orgulhosa diante das dores ou limitações do próximo.
Aquele que não reconhece que todo talento provém de Deus perceberá um dia, de forma vergonhosa, a ilusão dessa ignorância. Quem se humilha diante de Deus e respeita profundamente a individualidade espiritual que habita na personalidade humana, ainda que temporariamente doentia, receberá a recompensa da glória de conviver com os bons espíritos.
Verifica-se que em mundos inferiores quase sempre os bons ocupam os últimos lugares quando deveriam ocupar os primeiros e os maus ocupam os primeiros lugares quando deveriam ocupar os últimos. No entanto, a pessoa de bem não deve se abater diante dos ambiciosos e dos iludidos do mundo. A verdade sempre desmascara a mentira que sempre foge envergonhada, não para o último lugar, mas para fora do ambiente.
Para Deus todos os Seus filhos merecem os primeiros lugares porquanto foram criados para isso. Não há último lugar na obra divina, mas o espírito imortal é a primeira das excelências do Pai porque foi criado para ocupar os primeiros lugares da evolução intelecto-moral do ser.
Todos nós somos convidados para o Banquete da Vida promovido por Deus, mas necessitamos reconhecer as nossas reais condições evolutivas para não mais voltarmos aos últimos lugares, por exemplos, mundos inferiores ou de expiações e de provas. Para ocuparmos os primeiros lugares na presença de Deus, serão necessários
Amor e Sabedoria, sem os quais seremos convidados a reencarnações expiatórias ou provacionais até que aprendamos que a Misericórdia do Pai é também feita de Justiça.
O divino Messias deseja que, ainda que ocupemos os últimos lugares na Casa do Pai, não desistamos da melhoria espiritual. Essas orientações de Jesus nos ensinam que chegará um dia em que todos nós estaremos diante de Deus, o Grande Anfitrião da Vida, mas para isso é necessário seguir a Sua Ética evolutiva de Amor e de Sabedoria; nesse dia glorioso verificaremos que o mais importante é estarmos em Seu Banquete, pouco importando o lugar destinado para cada um de nós.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é autor do livro Sexo, Problemas e Soluções da AB Editora, www.abeditora.com.br)