A sabedoria nasceu alhures e pode morrer no Brasil
Redação DM
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 23:42 | Atualizado há 7 anos
Excelentíssimo Senhor Secretário-Geral da ONU, António Gutierrez:
É um prazer escrever em língua portuguesa, sem precisar de tradutor, eis que V.Exa. é filho de Portugal. Em todo caso, estou enviando também esta carta em inglês, eis que o português não é um dos idiomas oficiais dessa prestigiosa organização.
É um consolo saber que o secretário-geral é o símbolo dos ideais das Nações Unidas e porta-voz dos interesses dos povos do mundo, principalmente dos mais pobres e vulneráveis.
A busca incessante da humanidade para codificar e aprimorar os conceitos de moral, ética e justiça, é no mínimo dois mil anos mais antiga do que, por exemplo, conceitos de esquerda e direita no meio político. Acredito também que a ONU é uma guardiã desses valores supremos.
Confúcio engoliu poeira na estradas da China antiga para ensinar que “se queres prever o futuro, estuda o passado”. Sócrates foi obrigado a beber veneno para passar o bastão para Platão e Aristóteles e chegarem ao fundamento de que somente pelo conhecimento racional o homem pode elevar-se até as ideias, e conhecer a verdade das coisas. Buda abriu mão de suas riquezas no sertão da Índia para ensinar que o roubo e a mentira levam à morte. Os pais fundadores da América abdicaram de se tornarem reis para implantarem o conceito de república moderna. Os revolucionários franceses perderam sucessivamente cabeças para legarem ao mundo uma Declaração de Direitos do Homem. Woodrow Wilson impulsionou a Liga das Nações, de onde iria evoluir a ONU, para que os povos tenham um instrumento que substituia as guerras pela diplomacia. A audácia dos maus não tem limites, a menos que os bons se levantem. Com essa lógica Churchill inspirou a Inglaterra e a Europa a resistir ao nazismo.
Toda uma saga humana tem se realizado ao longo de séculos, através de sangue, suores e lágrimas para que, ao final, a evolução da humanidade talvez seja enterrada… no Brasil.
O economista Celso Furtado quando jovem foi trabalhar em uma organização internacional e descobriu indignado que os indicadores sociais do Brasil eram piores do que os pobres vizinhos. O antropólogo Darcy Ribeiro passou a vida toda tentando entender, como reconheceu ao fim de sua vida, porquê o Brasil não deu certo. O economista Roberto Campos ironicamente propôs a tese de que “assim como existem pessoas que não dão certo, existem também países que não dão certo”.
O Brasil vive um festival de narrativas absurdas que disputam, atrás de alguns nomes, o controle da verdade para transformar esse controle em votos e em poder.
Quadrilhas organizadas dominaram(e dominam) os principais orçamentos do Brasil nas últimas décadas. A mais antiga domina o Estado de São Paulo e adjacências. Ninguém até hoje foi preso desse bando. As outras duas comandaram juntas o cofre do Governo Federal, e ao final disputaram esse controle em uma crise que envolveu até a deposição de uma presidente. Tais facções criminosas possuem suas principais cabeças atrás das grades, condenadas em processos nos quais tiveram todas as garantias de defesa e os melhores advogados.
Como aceitar, senhor Secretário Geral, que os autores dos maiores esquemas de corrupção descobertos na história da humanidade, consigam manipular inclusive uma comissão da ONU para, fugindo a uma lógica mínima, alegar que o comandante maior desses esquemas seria um “perseguido politico”?
Houve um tempo no Brasil em que partidos mudavam de nome quando acumulavam alguns escândalos. Agora eles exibem com orgulho os escândalos, que viraram griffe, como honra ao mérito. Corruptos públicos e notórios são defendidos por advogados bem pagos e orgulhosamente por inocentes úteis, de graça.
Tais quadrilhas começam a usar muito dinheiro acumulado e escondido para tentar subverter a vontade do povo brasileiro a ser manifestada nas urnas em pleito que se aproxima.
O que se disputa no Brasil não é apenas mais uma eleição presidencial. Mas se a evolução da Humanidade tem algum sentido. E se o Brasil tem alguma importância nisto, se pode ser levado à sério algum dia.
O maior inimigo hoje de qualquer evolução no Brasil pode ser resumido em uma sigla: PT. O que nasceu como promessa de renovação dos costumes políticos, agora resume-se em um mixto de seita e quadrilha cujos integrantes precisam sobreviver para pagar as custas dos processos.
Não podemos nos resignar, Senhor Secretário-Geral, em acreditar que de todos os pensadores citados nessa carta, vai vencer a tese fatalista do economista Roberto Campos de que, assim como pessoas, existem países que nunca vão dar certo.
Por isto, como cidadão brasileiro no gozo de seus direitos políticos, como presidente de uma OnG internacional e como simples membro da humanidade, solicito à V.Excelência se digne a enviar uma comissão isenta e imparcial para acompanhar o pleito eleitoral no Brasil, no sentido de detectar e denunciar ao mundo as fraudes praticadas por grupos criminais travestidos de partidos.
Um idioma não tem importância no mundo se ele não é o instrumento de uma civilização em permanente processo de evolução.
Em defesa do Brasil, em defesa dos povos de língua portuguesa, em defesa da Humanidade, antecipo agradecimentos pela atenção e sensibilidade de V.Exa., com os meus sentimentos respeitosos e votos de uma gestão que marque positivamente essa importante instituição mundial.
(W. Tede Silva, presidente do CAici – Institut International Culturel Castro Alves, e realizou os filmes “Tudo São Referências, Tudo São Memórias” e “Matrículas Abertas, Vagas Limitadas”)