A Terceira Via, A Terceira Onda e o “New Way Of Life”
Redação DM
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 23:11 | Atualizado há 7 anos
“Mudança é o processo no qual o futuro invade nossas vidas.”
Alvin Toffler
Governos, judiciário, parlamentos, academias e povo estamos perdendo a chance inestimável de sistematizarmos o mundo que queremos. É muita sabotagem. Ou não. Sinal dos tempos, há séculos e séculos, a sabotagem. Precisamos mudar isto!
É lamentável que percebamos este, como um período revolucionário, do ponto de vista tecnológico e que, no entanto, neguemos as necessárias revoluções econômicas, sociais, culturais, políticas e religiosas do nosso tempo. Embora computadores e telecomunicações tenham um papel importante nas mudanças que estão acontecendo, é importante reconhecer que uma nova civilização nasce com as novas tecnologias e que isto imprime na humanidade, novos pensamentos e uma nova maneira de viver.
Alvin Toffler já nos disse da amplitude e da profundidade das mudanças que estão acontecendo, ressaltando que podemos dizer que apenas duas outras vezes, na história da humanidade, mudanças de tamanha grandiosidade ocorreram, sendo que a primeira vez foi quando a raça humana passou do nomadismo para civilização agrícola, sedentária, cerca de 10 mil anos atrás e a segunda vez foi quando a raça humana passou da civilização agrícola para civilização industrial, há aproximadamente 300 anos, nos Estados Unidos e na Europa, lembrando que ainda existem muitas regiões do mundo, que ainda não atingiram esse estágio.
O que distinguiu uma era da outra foi, fundamentalmente, o sistema de produção de riqueza. Do cultivo da terra, para a posse das máquinas e do capital, para o domínio do conhecimento, chegamos rapidamente à era da globalização do conhecimento, que é o principal meio de produção de riquezas. Ao ponto de já pensarmos, globalmente, sobre as riquezas materiais e imateriais. Estamos em plena alteração da forma de produção de riquezas e é natural, que esta seja acompanhada de profundas mudanças sociais, filosóficas, institucionais, etc.
Karl Marx já dizia que os filósofos interpretaram o mundo e que era preciso, com esse conhecimento, através da política, ir-se além, transformando-o em um mundo melhor, sem a “exploração do homem pelo homem”.
É esquisita a falta de discussão sistemática acerca das ideologias que perpassam nosso cenário político, a simplificação e a aridez dos pensamentos, sob a vestal estéril do rigor e das distinções, o egoísmo, a rigidez dos juízos, a vaidade intelectual e a superfluidez das intenções. Disto, decorre a nossa falta de inteligência criadora.
Indago aonde estão os intelectuais da esquerda, que com o advento do PT na política brasileira, agitava ideias, levantava problemas, sugeria teorias e políticas públicas?
Apesar dos apelos das ruas do mundo inteiro, dos fóruns e eventos mundiais e de alianças como a do G-20, Mercosul e Brics, nossos políticos não têm promovido os compromissos e ações necessárias às mudanças que precisamos. Faltam definições de intenções, de princípios, de meios e de fins.
O grande líder, ex-presidente e senador do Uruguai, Pepe Mujica, falou sobre o fato de que é impossível “Pretender mudar os resultados repetindo sempre a mesma fórmula”, e ainda, relembro aqui nosso inesquecível Paulo Freire, que já dizia que devemos sonhar sonhos diferentes dos que estavam na pauta do capitalismo selvagem, precursor da cultura consumista e desregrada que ele viu nascer e tomar conta da sociedade de seus tempos, trazendo tantas mazelas e tormentas para a humanidade.
Como podemos, ainda hoje, ouvirmos tanto besteirol quando se fala em marxismo e gramscismo? Como empreender a transformação social preconizada pelo mundo inteiro sem conhecer a realidade do mundo inteiro e como conhecer essa realidade sem a contribuição do marxismo e dos intelectuais que se seguiram, utilizando o método de Marx? Como conviver com tantas leituras, entendimentos e explicações estáticas e desengrenadas, da História?
Não temos utilizado nossos potenciais, nosso conhecimento acumulado… Não podemos fazer, por exemplo, das palavras de Pepe Mujica, no Brasil, apenas notícias entre aspas, mas “… ferramentas coletivas para modificar a realidade. As pessoas, por mais geniais que sejam, serão só franco atiradoras. Temos que criar ferramentas de compromisso coletivo e aprender a dor de andar coletivamente. E temos que aprender a perdoar, porque ninguém é perfeito”, como ele mesmo disse recentemente, e?m encontro com jovens n?a Concha Acústica da UERJ. Precisamos transformar conhecimentos em reflexões, estas em palavras, e estas, em ações que devem ser permanentemente avaliadas.
É muito superficial o debate maniqueísta que ora nos apresentam as trincheiras da política, enquanto os poderosos parecem estar além do bem e do mal que há em cada um dos dois sistemas que nos são apresentados como únicas opções, e perdemos tempo, na construção da nova ordem que pretendemos, mas que desconhecemos, por falta de diálogo e organização. Apenas aqui embaixo, as leis e o sistema, são questionados e debatidos; ainda que superficialmente, já é uma vantagem. Que os governos alcancem nossas discussões!
A terceira via não será apenas um terceiro nome em um cenário político bipolarizado, mas um sistema político (que envolve os aspectos sociais e econômicos) que fomente um novo modo de vida equilibrado, onde nem Estado, nem Mercado estarão no foco das políticas públicas, e sim, as pessoas e a sustentabilidade do mundo, como ficou declarado no Relatório da ONU, em 1990. Será o “new way of life”, enfim.
Qual é o problema em criarmos o novo sistema que queremos? Por que temos que ficar entre o socialismo e o capitalismo, ambos tão malfadados? Penso que além das vaidades e do comodismo, o que mais nos atrapalha, é a preguiça. Aonde estão os intelectuais do governo? Só vemos reuniões e decisões com a esfera econômica, no governo.
Não é muito confortável e segura, a vida que temos. Mas talvez não haja sabotagem e sim, um tempo certo mesmo, para tudo. Haja paciência histórica.
(Alexandra Machado Costa, assistente social, servidora pública)