Opinião

A tragédia como regra

Diário da Manhã

Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 23:48 | Atualizado há 9 anos

Uma das principais tragédias da organização interestatal submetida ao produtivismo especulativo capitalista que opera em pleno descolamento do mercado consumidor posto que a produção ou seu excesso se realiza, como em nenhum outro tempo da história do pensamento econômico, de forma escancaradamente assincrônica e supostamente “autônoma” de seu respectivo mercado consumidor é conforme se atesta, intensificada.

O “salve geral” da liberalização irrompido a partir dos anos de 1970 foi a navalha na carne, o corte profundo entre produção e consumo; trabalho e especulação e; economia real e economia monetária.

O atual sistema bancário e que nada tem que ver com o conceito ou a sistemática bancária forjada a partir de Bretton Woods (EUA) é a grande cabeça a guiar o mundo. Lord Keynes foi o principal defensor de um sistema monetário centrado na produção, com governança paritária e concebido a partir de princípios modernos, equitativos e republicanos. Sir Keynes… Fora atropelado!

Depois do princípio, da regra e do equilíbrio derrotados pelo imperialismo… Vieram figuras pequenas e infames como Pinochet (Chile), Tatcher (Reino Unido), Reagan (EUA), Kohl (Alemanha), Collor (Brasil), Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Menen (Argentina), Salinas (México), Fujimori (Peru) e o esperado mas sempre surpreendente: a impensável cifra de 62 indivíduos possuindo mais renda, poder e futuro do que todo o “resto” da humanidade.

Choremos! O governo mundial do financismo/rentismo, necessariamente sem regras, normas ou limites e todo ele centrado na especulação e na agiotagem em escala planetária é a geleia geral operante de ponta-cabeça que ao menos, converteu atividades produtivas em exotismos rupestres de importância nenhuma.

A atual e insolúvel crise do trabalho é a crise da produção que arruinou unidades produtivas, empregos, sindicatos, sistemas socioeconômicos e regiões inteiras. Nosso horizonte a curto prazo? Pagamento de juros; médio prazo? pagamento de juros mais pobreza; longo prazo? pagamento de juros, mais pobreza e guerra civil.

A assunção do novo liberalismo ou neoliberalismo como resposta aos acúmulos sistemáticos de defícit’s na produção a partir do arruinado padrão produtivo fordista foi a resposta encontrada para a não interrupção da intermitente acumulação de capital por parte de conglomerados econômicos.

Mas sem a apropriação dos próprios recursos estatais a contemporaneidade econômica seria impossível. O bom e velho Lênin havia vaticinado esse fenômeno em sua obra “Imperialismo, fase superior do capitalismo” (1917).

De outra feita, o princípio sempre normatizador da economia é integralmente alterado, alterando todas as instituições ai relacionadas, o que inclui o próprio Estado. Sem fronteiras, sem autonomia, sem soberania e dependentes, muito dependentes… Somos ainda um país, resta definir o que é agora… Um país.

 

(Ângelo Cavalcante – economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)


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