Opinião

A vida e a luta por vida

Redação DM

Publicado em 17 de abril de 2017 às 03:19 | Atualizado há 8 anos

“Prazer, meu nome é Lucas e quero viver.”
Lucas Neres, 19 anos, nasceu e cresceu em Planaltina, arredores de Brasília. Luta pela vida desde que nasceu. Sua mãe, Irani, com o apoio permanente da avó Maria, descobriu, ele bebê, um mês de vida, que ele tem uma doença pulmonar chamada bronquiolite obliterante.  Palmeirense de fé e com a ajuda da palmeirense Clécima, sua terceira mãe, depois de muitas idas e vindas em busca de tratamento e cura, e com a ajuda decisiva da Mancha Verde, que se mobilizou mais do que se o Palmeiras estivesse sendo campeão mundial, e de outras torcidas como a Torcida Jovem do Grêmio e até da Gaviões da Fiel, e de muitos outros, conseguiu transferência para Porto Alegre em meados de 2016, para esperar um transplante de pulmão na Santa Casa, hospital de referência para este tipo de tratamento.
O transplante ainda não aconteceu e há alguns dias, início de abril, Lucas teve uma piora no seu quadro. Está neste momento na UTI da Santa Casa, entre a vida e a morte. Conheci-o pessoalmente ano passado, um guri alegre, faceiro, de bem com a vida, líder, com os sonhos de um jovem adolescente, apesar de tudo. Sempre feliz, uma ternura sem par, profundamente solidário e preocupado com os outros, vivendo/sorvendo todos os dias, horas, minutos, segundos como se fossem os primeiros e os últimos da vida (Para conhecer mais sua história: www.lucasneres.com.br).
Em sua página de facebook, Lucas colocou esta frase de identificação: “Sou estudante com cara play devagar na pista.” E foi escrevendo frases e pensamentos em sua página de ‘feici’. (A transcrição é literal.) Em 26 de março de 2017: ‘Salve vidas. Seja parte importante da vida de alguém. DOE ÓRGÃOS.’ 26 de março: ‘JÁ QUE SOMOS TODOS OS IGUAIS PERANTE A LEI…. EU SOU A FAVOR DE QUE OS DEPUTADOS E SENADORES SEJAM APOSENTADOS PELO INSS NAS MESMAS CONDIÇÕES DE TODO CIDADÃO COMUM! Copie e cole em seu mural!’ 24 de março: “FORAAAA TEMER.” 23 de março: ‘Deus é o meu chão, ninguém me abala.’ 20 de março: ‘Cheguei até aqui, não pretendo desistir.’ 16 de março: ‘A luta continua aqui em Porto Alegre, RS. Com mais esperança, porque já estou em lista de transplante.’  12 de março: ‘Bom dia. Cheguei da missa. Estou abençoado pelo Espírito Santo.’ 9 de março: ‘Lutar mesmo se não tiver mais forças.’ 9 de março: ‘A felicidade tá nas pequenas coisas.’
Essa história de vida e superação do Lucas, Luquinha, como também é conhecido, tem tudo a ver com a Campanha da Fraternidade/2017 e com a semana que estamos vivendo, de vida, morte, paixão e ressurreição. O Tema da CF/2017 é ‘Cultivar e guardar a Criação’ (Gn 2,15) e o Lema é ‘Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’. O Papa Francisco escreveu mensagem alusiva à Campanha da Fraternidade: “Construir uma cultura de fraternidade, apontando os princípios da justiça, denunciando ameaças e violações da dignidade e dos direitos, abrindo caminhos de solidariedade.”
Os tempos exigem cuidado com a Criação e a Casa Comum, ameaçada de destruição todos os dias, colocando em risco o futuro da humanidade e do planeta. Às vezes, são gestos simples, do cotidiano. Às vezes, são decisões coletivas, de toda comunidade. Muitas vezes, os tempos precisam da ação firme de governos e de todos os atores econômicos, políticos, sociais, culturais.
Lucas postou a seguinte frase em primeiro de abril: “Devemos morrer para a vida velha; cada vez evoluir para a vida nova.”
Como Lucas – ‘prazer, meu nome é Lucas e quero viver’ -, todos queremos viver: as pessoas, a humanidade, as plantas, a natureza, os animais. A Casa Comum está ameaçada. Os Biomas brasileiros sofrem todos os dias tentativas de destruição. Nestes tempos bicudos do século XXI, a ganância, o lucro, o ter acima do ser colocam em risco o que deve ser de todas e todos. Por isso, lutar pela vida, lutar por vida tornou-se, mais que nunca, um imperativo ético e uma exigência política.
PS. Este artigo é dedicado à juventude do Lucas e à sua luta pela vida. E é dedicado à Nena Marinho, educadora popular pernambucana da Rede de Educação Cidadã (RECID), lutadora do movimento feminista negro e do movimento quilombola, que entrou em outra dimensão de vida esta semana.

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