Adeus ao crescimento
Diário da Manhã
Publicado em 17 de novembro de 2017 às 23:04 | Atualizado há 7 anos
Os números preliminares do Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas sugerem que a grande recessão que vivemos teve início no segundo trimestre de 2014 e terminou no quarto trimestre de 2016. Durou 11 trimestres.
Produziu uma queda acumulada do PIB da ordem de 9%. Tratou-se de um ciclo absolutamente autóctone, produzido por uma política econômica voluntarista a partir de 2012.
Como é evidente, a comparação do comportamento de uma economia tem de ser referenciada à conjuntura real da economia mundial em que ela esteve inserida. No período registramos uma taxa de crescimento 15 vezes menor do que a de nossos companheiros (emergentes + em desenvolvimento) e 5 vezes menor do que as economias avançadas.
Mais trágica foi a “variabilidade”: 61 vezes maior do que a dos emergentes e 40 vezes maior do que as economias avançadas.
Se chamarmos o retrato de caótico, não estaremos exagerando. O que surpreende é assistir ao espetáculo da oposição no Congresso. Cega pela paixão ideológica, recusa a aritmética em favor da “lógica do grito” e atribui tal tragédia à administração de Temer. Ela deixará sua marca registrada no resultado da mais pobre e irresponsável CPI já feita no Congresso, onde se “provou” que a Previdência é “superavitária”!
Como se saíram os governos FHC e Lula na mesma perspectiva? Comecemos pela administração de FHC, de 1995 a 2002. Vê-se que a coisa não foi muito melhor do estrito ponto de vista do crescimento, que é o que interessa no longo prazo, porque é a condição necessária (ainda que não suficiente) para aumentar a inclusão social.
Nosso crescimento foi de cerca de metade dos emergentes e sua volatilidade 2,5 vezes maior. É preciso alguma boa vontade para ver nisso uma grande virtude. Noutras dimensões (na inflação e em certa ordem fiscal) há muito o que dizer sobre ela.
A administração Lula (2003-2010), vê-se que, em matéria de crescimento econômico, a situação efetivamente melhorou, inclusive na inclusão social. Quando comparado com a evolução das outras economias, entretanto, o resultado empalidece.
No governo Lula, o Brasil cresceu a uma taxa anual 70% maior do que no governo FHC, mas, comparado com o crescimento dos emergentes, a situação se inverte: crescemos 40% a menos com mais que o dobro da variabilidade!
O quadro geral dos últimos 20 anos é desolador. O Plano Real e a melhora institucional promovida por FHC foram bem-sucedidos no controle da inflação, mas a taxa de crescimento do PIB (que no longo prazo é o que importa à sociedade) ficou muito aquém da dos outros emergentes.
Crescemos a uma taxa 50% menor do que os outros emergentes, com volatilidade 3,5 vezes maior. No período, o Brasil cresceu apenas 46% do crescimento dos emergentes.
Duas décadas de resultados tão medíocres estão a exigir uma profunda reflexão sobre as políticas econômica e social e sugerem a formulação de um sério projeto do que queremos ser em 2040. Se não acertarmos na eleição de 2018, talvez nunca mais nos livremos da armadilha em que fomos metidos.
(Delfim Netto. Formado pela USP, é professor de Economia, foi ministro e deputado federal)