Opinião

Adicional noturno,direito do jogador de futebol tem tirado o sono dos dirigentes

Diário da Manhã

Publicado em 1 de março de 2018 às 22:01 | Atualizado há 7 anos

A Se­gun­da Tur­ma do TRT de Go­i­ás man­te­ve em par­te a con­de­na­ção do Go­i­ás Es­por­te Clu­be em ação mo­vi­da pe­lo ex-za­guei­ro Val­mir Lu­cas. O Clu­be te­rá de pa­gar ao at­le­ta ver­bas re­la­ti­vas ao adi­cio­nal no­tur­no, aos di­as tra­ba­lha­dos em fol­gas não com­pen­sa­dos e em fe­ri­a­dos, além de in­de­ni­za­ção re­fe­ren­te à es­ta­bi­li­da­de pro­vi­só­ria por aci­den­te de tra­ba­lho. O jo­ga­dor ha­via so­fri­do du­as le­sões no jo­e­lho du­ran­te o con­tra­to de tra­ba­lho com o clu­be, em se­tem­bro de 2014 e em agos­to de 2015, ten­do fi­ca­do tem­po­ra­ria­men­te inap­to pa­ra jo­gar bo­la.

Va­mos co­lo­car em pau­ta o Adi­cio­nal No­tur­no, que pa­re­ce ser uma co­bran­ça ab­sur­da, e que cha­ma aten­ção dos tor­ce­do­res:

Va­le res­sal­tar que há mui­tos pro­ces­sos nes­se sen­ti­do con­tra clu­bes em tra­mi­ta­ção no ju­di­ci­á­rio. Ci­tan­do ou­tro ca­so, que é do jo­ga­dor Araú­jo, ex at­le­ta do Go­i­ás Es­por­te Clu­be, que tam­bém ob­te­ve êxi­to jun­to ao ju­di­ci­á­rio (adi­cio­nal no­tur­no) con­tra seu ex ti­me.

O des­por­to vem sen­do di­fun­di­do,  glo­ba­li­za­do,  co­mer­cia­li­za­do em gran­des pro­por­ções.  E de­cor­ren­te dis­so faz-se ne­ces­sá­ria a exis­tên­cia de le­gis­la­ção pa­ra atin­gir to­dos os at­le­tas e en­vol­vi­dos nas prá­ti­cas des­por­ti­vas. O fu­te­bol, por exem­plo, é re­gi­do por uma lei de 1976, e des­de en­tão vem evo­lu­in­do e ne­ces­si­tan­do de mai­o­res su­por­tes le­gais.

Des­de a sua apre­sen­ta­ção ao Bra­sil até os di­as atu­ais, a le­gis­la­ção tra­ba­lhis­ta dos at­le­tas veio a so­frer inú­me­ras mo­di­fi­ca­ções.  O prin­ci­pal mar­co na evo­lu­ção le­gis­la­ti­va no Bra­sil veio com a cri­a­ção da Lei Zi­co (Lei nº 8672/1993), que so­freu al­te­ra­ções em fa­ce da pro­mul­ga­ção da Lei Pe­lé (Lei nº 9615/1998 e sua mais re­cen­te atu­a­li­za­ção Lei nº 12395/2011).

A Lei Pe­lé foi ela­bo­ra­da pa­ra dar o su­por­te ne­ces­sá­rio ao des­por­to,  po­rém não atin­ge a to­dos os se­to­res,  sen­do ne­ces­sá­rio re­cor­rer à Cons­ti­tu­i­ção Fe­de­ral e à Con­so­li­da­ção das Leis do Tra­ba­lho em cer­tas ques­tões (CLT).

O pe­rí­o­do de con­cen­tra­ção não po­de ul­tra­pas­sar o pe­rí­o­do de 3 (três) di­as,  art. 28, § 4º. I da Lei 12395/2011.

“Art. 28. A ati­vi­da­de do at­le­ta pro­fis­si­o­nal é ca­rac­te­ri­za­da por re­mu­ne­ra­ção pac­tu­a­da em con­tra­to es­pe­ci­al de tra­ba­lho des­por­ti­vo,  fir­ma­do com a en­ti­da­de des­por­ti­va, no qual de­ve­rá cons­tar, obri­ga­to­ri­a­men­te:

  • 4º Apli­cam-se ao at­le­ta pro­fis­si­o­nal as nor­mas ge­ra­is da le­gis­la­ção tra­ba­lhis­ta e da Se­gu­ri­da­de So­ci­al, res­sal­va­das as pe­cu­li­a­ri­da­des cons­tan­tes des­ta Lei, es­pe­ci­al­men­te as se­guin­tes:

–  se con­ve­nien­te à en­ti­da­de de prá­ti­ca des­por­ti­va,  a con­cen­tra­ção não po­de­rá ser su­pe­ri­or a 3 (três) di­as con­se­cu­ti­vos por se­ma­na, des­de que es­te­ja pro­gra­ma­da qual­quer par­ti­da,  pro­va ou equi­va­len­te, amis­to­sa ou ofi­ci­al, de­ven­do o at­le­ta fi­car à dis­po­si­ção do em­pre­ga­do por oca­si­ão da re­a­li­za­ção de com­pe­ti­ção fo­ca da lo­ca­li­da­de on­de te­nha sua se­de;”

En­tre­tan­to,  não é de­vi­do ao at­le­ta ne­nhum ti­po de adi­cio­nal,  se­jam ho­ras ex­tras ou adi­cio­nais no­tur­nos, vis­to que se tra­ta de uma for­ma pe­cu­li­ar do con­tra­to.  Co­mo vis­to an­te­rior­men­te, o at­le­ta não tem uma jor­na­da de tra­ba­lho fi­xa, ela é va­ri­á­vel, agre­gan­do tan­to aos trei­nos, jo­gos, con­cen­tra­ção e ex­cur­sões. A ju­ris­pru­dên­cia do TST di­ver­ge so­bre o te­ma,  hou­ve ca­sos em que fo­ra con­de­na­do o pa­ga­men­to de ho­ras ex­tras re­sul­tan­tes do pe­rí­o­do de con­cen­tra­ção, se­gue emen­da: “Ho­ras ex­tras. Jo­ga­dor de fu­te­bol. de­vi­do pa­ga­men­to de ho­ras ex­tras ao jo­ga­dor de fu­te­bol por to­do o pe­rí­o­do que fi­cou em con­cen­tra­ção, sem com­pen­sa­ção de ho­rá­rio, à dis­po­si­ção do em­pre­ga­dor..” (TRT da 9ª R., RO 1079/81, Ac. 236/82, j. 18.2.1982, Rel. In­da­lé­cio Go­mes. DJ 26.2.1982).

Vi­a­gens:

Acer­ca das vi­a­gens re­a­li­za­das pe­lo clu­be pa­ra par­ti­das fo­ra do es­ta­do de ori­gem, são de com­pe­tên­cia do clu­be to­dos os gas­tos re­fe­ren­tes a tran­spor­te, es­ta­dia e ali­men­ta­ção.  In­da­ga-se nes­sa ques­tão se as vi­a­gens são pas­si­veis da in­te­gra­ção de al­gum adi­cio­nal, o TST já se ma­ni­fes­tou acer­ca do te­ma:

“Vi­a­gens.  Pa­ra par­ti­ci­pa­ção em com­pe­ti­ções es­por­ti­vas fo­ra da se­de do clu­be,  bem co­mo pa­ra con­cen­tra­ção nos di­as que pre­ce­dem o en­con­tro fu­te­bo­lís­ti­co são si­tu­a­ções ine­ren­tes ao con­tra­to pre­vis­tas em lei e que não po­dem,  as­sim,  es­sas vi­a­gens,  pro­pi­ci­ar o pa­ga­men­to de ho­ras ex­tra­or­di­ná­rias. In­te­li­gên­cia do art. 7º da Lei nº 6354/76 de 2.9.76’ ( TRT 7ª R., RO 470/80, Ac. 72/81, j. 5.2.1981, Rel. Ju­iz Jo­ão Ra­mos de Vas­con­ce­los Ce­sar).

Lo­go, não é de­vi­do ne­nhum ti­po de adi­cio­nal, eis que há pre­vi­são es­ti­pu­la­da na lei re­gu­la­men­ta­do­ra dos at­le­tas e são pe­cu­li­a­ri­da­des pre­vis­tas con­tra­tu­al­men­te.

Adi­cio­nal No­tur­no:

É de­vi­do ao tra­ba­lha­dor tra­di­cio­nal que la­bo­ra en­tre o pe­rí­o­do das 22 h 00min de um dia às 05h00min do dia se­guin­te um adi­cio­nal no­tur­no de no mí­ni­mo 20% so­bre o va­lor da ho­ra di­ur­na, sen­do que a ho­ra no­tur­na é com­pu­ta­da co­mo 52 (cin­quen­ta e dois) mi­nu­tos e 30 (trin­ta) se­gun­dos – art. 73 da CLT.

Co­mo a mai­o­ria das par­ti­das de fu­te­bol são ini­ci­a­das de­pois das 22h00min, e por for­ça da Cons­ti­tu­i­ção Fe­de­ral, art. 7º, IX, o adi­cio­nal no­tur­no tam­bém é de­vi­do aos at­le­tas.Gri­sard(2004, p. 19) afir­ma o se­guin­te: “Se­guin­do o ra­ci­o­cí­nio de­fen­di­do nos tó­pi­cos an­te­rio­res, o fa­to de a ati­vi­da­de do at­le­ta pro­fis­si­o­nal ser per­me­a­da de di­ver­sas par­ti­cu­la­ri­da­des não é ca­paz de eli­dir o pa­ga­men­to de di­rei­tos tra­ba­lhis­tas, den­tre eles o adi­cio­nal no­tur­no, bem co­mo a con­ta­gem da ho­ra no­tur­na re­du­zi­da.”

Ape­sar do ho­rá­rio de tra­ba­lho não ser es­ti­pu­la­do pe­lo em­pre­ga­dor,  as emis­so­ras de te­le­vi­são que os de­ter­mi­nam, o jo­ga­dor de fu­te­bol não dei­xa de ter di­rei­to ao pa­ga­men­to do adi­cio­nal no­tur­no, pou­co im­por­tan­do quem es­ti­pu­la os ho­rá­rios.

Por­tan­to:

Ve­ri­fi­ca­ram-se as pe­cu­li­a­ri­da­des exis­ten­tes no con­tra­to tra­ba­lhis­ta do at­le­ta fu­te­bo­lís­ti­co,  to­das as nu­an­ces re­la­ti­vas ao te­ma,  co­mo: pe­rí­o­dos de con­cen­tra­ção;  vi­a­gens;  adi­cio­nal no­tur­no. Os pe­rí­o­dos de con­cen­tra­ção não com­pre­en­dem a jor­na­da de tra­ba­lho, eis que são pe­cu­li­a­ri­da­des exis­ten­tes no con­tra­to.

O jo­ga­dor de fu­te­bol tem os mes­mos di­rei­tos que o tra­ba­lha­dor co­mum tem na CLT. Os clu­bes pre­ci­sam le­var mais a sé­rio a ques­tão tra­ba­lhis­ta em seus con­tra­tos, e pa­gar de for­ma cor­re­ta os fun­cio­ná­rios que pos­su­em. Não há co­mo es­ca­par das leis co­mo os di­ri­gen­tes ten­tam fa­zer.

Das 22 ho­ras até as 5 da ma­nhã, quem tra­ba­lha nes­se pe­rí­o­do, tem que re­ce­ber adi­cio­nal no­tur­no e pron­to. A TV é quem de­ci­de e mar­ca os Ho­rá­rios de jo­gos, tem jo­go que ini­cia ás 21: 45, en­tão aos 16 mi­nu­tos de jo­go , de bo­la ro­lan­do, o jo­ga­dor já co­me­ça a ter di­rei­to no adi­cio­nal no­tur­no. Lem­bran­do que a TV pa­ga uma ” BA­BA” mui­ta gra­na,  pa­ra os clu­bes hon­ra­rem seus con­tra­tos. Não pa­gam por­quê não que­rem, pou­cos jo­ga­do­res en­tram na jus­ti­ça, en­tão va­le a pe­na não pa­gar, es­sa é a gran­de ver­da­de.

 

(An­dré Jú­ni­or, mem­bro da UBE – Uni­ão Bra­si­lei­ra de Es­cri­to­res. es­cri­tor­li­te­ra­rio@ya­hoo.com.br)

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias