Ainda a beligerância norte-americana
Diário da Manhã
Publicado em 26 de janeiro de 2016 às 23:29 | Atualizado há 9 anos
Já escrevi neste espaço, por mais de uma vez, sobre a beligerância norte-americana. A própria formação territorial dos Estados Unidos em considerável parte foi conquistada belicamente. Não faz muitos anos a invasão pelo país do Tio Sam do pequenino Panamá. A maior potência do mundo dominou pelas armas o pequenino país de apenas 75.517km² (território correspondente a apenas 3/4 da área territorial da ilha de Cuba), população que não ultrapassa a metade da de Goiás e é pouco superior à da capital cubana. Foi um escandaloso exibicionismo de poderio com a finalidade única de depor e prender o presidente panamenho.
São vergonhosas as demonstrações norte-americanas de permanente disposição para guerras de conquista e de dominação econômica. E o povo estadunidense cultiva verdadeiro orgulho pelo que ele considera símbolos da grandeza do seu país – a hegemonia econômica e a hegemonia do poder das armas.
Nos dias atuais o mundo está a assistir a mais uma entristecedora demonstração da mentalidade beligerante da maior parte dos dirigentes, da classe política e do próprio povo dos Estados Unidos. Segundo pesquisa divulgada anteontem 84% dos norte-americanos estão descontentes com o presidente Barack Obama pelo acordo que suspendeu por tempo indeterminado as sanções econômicas contra o Irã. Enquanto que os 80 milhões de iranianos se mostram felizes e entusiasmados com esse acordo, que restituiu a liberdade de comércio do seu país com as grandes potências Ocidentais e outras partes do mundo, o Partido Republicano, que hoje tem maioria no congresso estadunidense, combate tenazmente a posição pacifista agora adotada pela Casa Branca. E, como dito acima, a maioria da população manifesta sintonia com essa radical e deplorável posição dos republicanos. E o pior é que se desenha possível uma derrota dos democratas nas próximas eleições presidenciais. A candidata Hillary Clinton acha-se consideravelmente desgastada, tendo perdido cerca de 20 pontos dos 43 que lhe eram dados nas pesquisas de intenção de voto do eleitorado 6 meses atrás. Alguns dos mais abalizados analistas da política norte-americana manifestam a previsão de que, se vier a ocorrer uma candidatura Independente, o candidato republicano Donald Trump provavelmente se elegerá. Sabemos todos que, se isto ocorrer, a política externa dos Estados Unidos ganhará rumos em que a beligerância certamente voltará a ser a nota mais marcante. Todos os candidatos republicanos são fundamentalistas, isto é, ideologicamente representativos da extrema direita. Seu último representante na história americana, George W. Bush, inventor das falsíssimas razões para a dominação do Iraque, deu vergonhosa demonstração dessa mentalidade republicana. Os observadores políticos do mundo inteiro afirmam que Donald Trump é ainda pior. Aliás suas manifestações desde que se colocou como candidato à Presidência da República, dão razão a esse julgamento.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista, escreve neste jornal às quartas e sextas-feiras. E-mail: [email protected])