Ainda a comédia dos técnicos
Redação DM
Publicado em 1 de abril de 2016 às 02:23 | Atualizado há 9 anos
No final do meu artigo de anteontem fiz breve referência ao que os fatos relativos às trocas de técnicos de futebol, sobretudo no Brasil, representam como aspectos de burrice e espantosa absurdidade. Registre-se que o comportamento dos dirigentes do incipiente futebol chinês veio aumentar espantosamente a absurdidade. De alguns meses para cá clubes da China importaram vários treinadores brasileiros que aqui estavam desempregados. Felipe Scolari, após seus fracassos na Inglaterra, na Seleção Brasileira e no Grêmio, achava-se totalmente desacreditado. De repente o Guangzhou Evergrande o contrata com salário próximo a dois milhões de reais. A mesma coisa aconteceu com Vanderlei Luxemburgo, inteiramente desprestigiado no Brasil por seus frequentes fracassos: saíra-se muito mal no Atlético Mineiro, no Flamengo, enfim em todos os clubes em que assumira a sua função de técnico de futebol. Sua salvação veio também da China, em condições semelhantes às de Felipão. A mesma coisa aconteceu com Mano Menezes, um fiasco na Seleção Brasileira e no Flamengo, mas que em razão de alguns resultados positivos do Cruzeiro, virou produto de importação para o futebol sem perspectiva da grande nação oriental.
A dispensa de técnico e respectiva substituição no futebol brasileiro são uma impagável comédia. Exemplos: o Cruzeiro se desfaz de Marcelo de Oliveira, que é contratado imediatamente pelo Palmeiras, que acabara de se desfazer de Oswaldo de Oliveira, o qual pouco tempo antes decepcionara no Flamengo do qual por isso mesmo ganhara bilhete azul. O rubro-negro carioca contratara esse treinador logo que o Santos o havia despachado após péssima campanha no campeonato paulista. Em resumo: no futebol brasileiro o técnico que acaba de ser considerado ruim por um clube é imediatamente contratado como salvação por outro. Não é uma comédia? O caso de Cuca confirma que sim. Nunca foi um treinador de grandes triunfos, embora tenha sido excelente jogador no Grêmio Porto-alegrense. Ficou alguns anos na China, sem que de sua passagem por lá se conheça qualquer sucesso. Tão logo volta para o Brasil o Palmeiras, em face dos seus péssimos resultados com Marcelo de Oliveira, elege Cuca seu provável salvador. Em quatro jogos quatro derrotas, inclusive para time pequeno. Os palmeirenses naturalmente vão esperar para ver se o time melhora com seu técnico gaúcho. É óbvio que se os resultados negativos persistirem ele será alvo de dispensa. Aí o esmeraldino paulista irá manter a tradição: substituir o técnico mandado embora por um que também tiver sido mandado embora por um coirmão…
E o Muricy Ramalho?
Como todos sabem consolidou grande prestígio no São Paulo como treinador, depois de ter sido excelente meia armador durante vários anos no tricolor paulista. A partir de 2014 o prestígio começou a cair por força do declínio que o São Paulo apresentava paulatinamente. Simultaneamente, Muricy adoeceu. Afastou-se do futebol e se submeteu a longo tratamento. Recuperada a saúde decidiu voltar à função a que se dedicara com o êxito já sublinhado. Como o Flamengo desde 2009 não ganha título (exceção de uma inexpressiva Copa do Brasil em 2013) e vem de há muito sendo representado por times muito medíocres, resolveu contratar Muricy Ramalho. A grande torcida do rubro-negra se encheu de esperanças, animada por essa enganadora concepção que têm os torcedores brasileiros de que técnico ganha jogo.
Confesso, como secular flamenguista, que logo no início da atuação de Muricy no Flamengo fiquei desanimado. A afirmação do treinador de que Marcelo Cirino tinha que ser mantido no clube e no time, por ser, na sua opinião um verdadeiro craque a merecer apenas mais rigoroso treinamento técnico, foi para mim decepcionante. Acompanho a trajetória de Marcelo Cirino não só no Flamengo, mas também quando nos seus tempos de Atlético Paranaense. Neste clube ele nunca convenceu. No ano que antecedeu sua ida para o Flamengo ele fez apenas um gol. Basta este fato para demonstrar sua improdutividade. Nos jogos dele pelo Flamengo era evidente não ser ele dotado de agilidade, de capacidade para o drible e para finalização. Jogador fraco, portanto, ao contrário da infeliz avaliação de Muricy Ramalho.
Sob o comando do ex-técnico são-paulino o Flamengo vem tendo desempenho desolador. Nos últimos 5 jogos, por exemplo, nenhuma vitória, quatro derrotas sem fazer um gol sequer.
Mas faço questão de ressaltar que o elenco do rubro-negro carioca é fraco. A zaga é falha, o meio de campo ainda não pôde contar com os reforços estrangeiros, o centroavante Guerrero é uma mentira consagrada, Emerson Sheik é bananeira que já deu cacho. Não sei como estará o Flamengo no Campeonato Brasileiro. O mais querido não merece isto.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras – E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)