Aos olhos da história
Diário da Manhã
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 21:34 | Atualizado há 7 anos
Entre as figuras mais expressivas da história sociopolítica de Goiás está Alfredo Nasser, ministro da Justiça e Negócios Interiores do governo João Goulart e uma das vozes goianas no Parlamento.
Nasser residia em um barracão que ele construíra no fundo do quintal da sobrinha Stela Nasser, na Rua 74, em Goiânia, conversava todos os dias com os políticos Camargo Júnior, José Luiz Bittencourt, Hélio Seixo de Brito, José Fleury e Dante Ungarelli. Ali era o ponto de convergência de encontros dos oposicionistas ao ludoviquismo.
Alfredo Nasser despontou pela inteligência brilhante, lucidez das análises que fazia e ainda pela eloquência do discurso. Essa aguda percepção de sábio o permitia, às vezes, antever o futuro, acerto notável.
Há pouco revirando velhas gavetas, deparei-me com uma antiga entrevista a mim concedida por Dante Ungarelli, um dos pioneiros de Goiânia, que lutou, ao lado de Pedro Ludovico, para construir a nova capital de Goiás, apesar de ser oposição ao fundador de Goiânia. Na entrevista, realizada em 14 de março de 1992, Ungarelli relata como conheceu o jornalista Batista Custódio, na casa de Alfredo Nasser. O velho fiscal de rendas destaca a admiração que Nasser tinha por Batista Custódio, em que apostava como uma das mais combatíveis figuras do jornalismo brasileiro. Nasser via no jovem Batista um guerreiro, um vencedor. A seguir, trechos da referida entrevista:
Luiz A. Queiroz: O senhor que ajudou a construir Goiânia e que viveu a história da imprensa em Goiás, como avalia a figura de Batista Custódio?
Dante Ungarelli: Um dia estava na casa do professor Alfredo Nasser com Camargo Júnior, Hélio Seixo de Brito, Randal do Espírito Santo e José Fleury quando lá chegou o jovem Batista Custódio. Indiferente a tudo, sentou-se e ficou observando a figura de Alfredo Nasser que a ele dedicava atenção especial ao ponto de interromper uma reunião e retirar-se com o jovem para outra sala e ali demorarem quase uma hora conversando. Certo dia, perguntei a Alfredo Nasser porque todas as vezes que esse moço chegava ele interrompia a nossa reunião para atendê-lo separadamente e com ele ficava confabulando por várias horas. Nasser respondeu-me: “Ah, Dante, você não imagina. Esse moço é inteligentíssimo. É o futuro da imprensa goiana”.
Olhei aquele rapaz, não acreditei. Para mim, Nasser estava cometendo um equívoco. Até cheguei a discordar dele e Nasser advertiu: “Você verá Dante”.
Os tempos mostraram-me. Vi que aquele moço era mesmo uma revelação que estava vindo para ficar na imprensa.
Luiz A. Queiroz: A vida de Alfredo Nasser contém capítulos interessantes que denotam a vivacidade de um homem culto, de grandes ideais. O velho político goiano sabia distinguir o joio do trigo?
Dante Ungarelli: Sim, o professor Alfredo Nasser conhecia bem o ser humano. O seu simples olhar, separava o homem de valor de um canalha. Sua perspicácia permitia-lhe apontar com antecedência o que viria a ser um jornalista combativo, destemido, como Batista Custódio, à frente do Cinco de Março e depois, do Diário da Manhã.
A admiração de Alfredo Nasser por Batista Custódio está registrada no capítulo “Conversa Íntima”, do livro “O líder não morreu”, pesquisa de Consuelo Nasser, transcrito do Cinco de Março, em 9 de novembro de 1963. Alfredo Nasser assinala: “Batista Custódio é o comandante deste jornal. Filho, neto, bisneto, tataraneto de fazendeiros, traz ele nas veias o sangue de várias gerações de homens honrados. Por poucas pessoas me responsabilizo moralmente como por esse rapaz que tem, numa vocação de apóstolo, a alma do panfletário. Seu pai foi meu companheiro na escola primária e sua família é ligada a minha há mais de cinquenta anos. Quando ouço falar em imprensa marrom, compreendo até onde pode chegar a injustiça nesse mundo.
Batista Custódio é um dos mais puros idealistas, um dos melhores espécimes humanos que já conheci. A sua bondade dói. O Cinco de Março tira-lhe dinheiro e não lhe devolve um tostão. Nem ele precisa disso.
O seu erro é imaginar que este mundo tem conserto, que lutar contra a corrupção vale alguma coisa. Nas longas conversas que temos tido, procuro transmitir-lhe o pouco que aprendi, um pouco do que me ficou das coisas que me feriram, um pouco do quanto o caminho a percorrer é longo e duro. Ele me ouve, silencioso, porque sabe que penso como ele. Bom, bravo, generoso, Batista Custódio tem me arrastado à sua luta, numa solidariedade que não negaria a nenhum órgão de imprensa, mas ele é maior, por sua bondade, sua bravura, sua generosidade, seu puro idealismo. E seu caráter, também. Seu verdadeiro, sólido, indobrável caráter”.
Luiz A. Queiroz: O que se lembra da trajetória de Batista Custódio e por que o admira tanto?
Dante Ungarelli: Passei a admirar Batista Custódio quando percebi que ele lutava com destemor para se tornar o jornalista que é hoje, uma das figuras proeminentes do Estado, um formador de opinião. Acompanhei todos os momentos de sua vida. Marcou-me especialmente o episódio de sua prisão. Periodicamente, eu o visitava no cárcere. Batista foi preso por perseguição política. Éramos da oposição. Combativo, Batista crescia cada vez mais como jornalista. Certa vez, cheguei a discutir com ele, quando do fechamento do Cinco de Março. Eu o chamei de monstro por haver acabado com um importante instrumento, a nossa estaca na defesa das liberdades. Sem se perturbar, Batista argumentara que iria abrir o Diário da Manhã e, com o novo jornal, continuaria firme na sua luta, como de fato fez.
Luiz A. Queiroz: Como foi a participação de Batista Custódio na Revolução de 1964?
Dante Ungarelli: Muito interessante. De início, ele nos apoiava na União Democrática Nacional – UDN, e, no Partido Socialista Brasileiro – PSB, lutava e desejava a nossa vitória. Batista sabia que o seu grande mestre Alfredo Nasser também participava desse esforço. O Batista Custódio engajou-se na grande luta em defesa das liberdades fantasiadas. Não havia democracia. Era uma democracia mistificada que não sabia respeitar o direito do povo. Idealista, como sempre, o jornalista começou a criticar aquele regime ditatorial. O Cinco de Março não se calou diante das baionetas.
Luiz A. Queiroz: Depois de tantos embates, com vitória e infortúnios, o que lhe parece hoje a figura de Batista Custódio?
Dante Ungarelli: Com todas as dificuldades da vida jornalística e empresarial e pessoal, Batista Custódio é um vencedor, tornou-se uma figura de expressão no jornalismo. É um grande formador de opinião. Com sua atuação na imprensa goiana, faz justiça à política. É um homem honesto e incorruptível. Alfredo Nasser tinha razão ao referir a Batista Custódio como um futuro da imprensa goiana. O tempo encarregou de provar que ele estava certo, absolutamente certo.
Dante Ungarelli foi pioneiro na construção da capital ao lado de Pedro Ludovico, e faleceu em 18 de junho de 1994, em Goiânia.
Entrevista concedida ao escritor Luiz Alberto de Queiroz
no dia 14 de março de 1992, na sede do Diário da Manhã.
Terra e Céu
Em muitas das inúmeras mensagens enviadas ao jornalista Batista Custódio pelo espírito de Alfredo Nasser, psicografadas pela médium Mary Alves e publicadas no Diário da Manhã, Nasser revela que a convivência entre eles vem de outras vidas.
Recentemente, Alfredo Nasser confirma na mensagem, de 10/06/2015, que logo ao ver pela primeira vez o Batista Custódio percebeu que era um predestinado.
Como a mensagem é longa transcrevo apenas dois tópicos esparsos:
‘‘Quando poderíamos imaginar, no início de nossos ideais, que a luta tornar-se-ia tão solitária e árdua, exigindo esforços hercúleos no campo da paciência”.
“E permanecemos ao seu lado, até porque quando vi pela primeira vez o brilho em seus olhos, sabia que estava reservada uma parte importante dessa mudança aos seus ombros”.
(Luiz Alberto de Queiroz, advogado e escritor, autor de 22 livros, entre eles O Velho Cacique (sobre Pedro Ludovico, 9ª edição), Marcas do Tempo (de Getúlio Vargas a Tancredo Neves, 3ª ed. esgotada), Iris, O Carisma (em parceria com Jorge Lyra, 3ª ed. esgotada), Olímpio Jayme – Política e Violência em Tempos de Chumbo, (1ª ed. – esgotada), Memorial de um Rebelde (UDN x PSB), 2ª ed. esgotada)