As dores e cores de ser o que se é: 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT
Diário da Manhã
Publicado em 28 de junho de 2017 às 00:24 | Atualizado há 8 anos
Orgulhar-se de ser LGBT, em tempos de ódio e repressão, é afirmar-se resistente à sociedade conservadora, alienada, machista e sexista, preconceituosa e lgbtfóbica.
A situação de desvalorização à qual os LGBT’s são submetidos é bem mais disseminada do que se imagina. Nos dias atuais o grau de homofobia e transfobia no Brasil são alarmantes, como em tempos passados a esconder gráficos e mortes, exclusão e ódio. Segundo pesquisa realizada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil ocupa o primeiro lugar em assassinatos de travestis e transexuais no ranking mundial. Um indício claro de desrespeito à livre expressão sexual dos que não se enquadram nos padrões heteronormativos impostos pela sociedade hipócrita, assexuada, enrustida.
Ao analisarmos a conjuntura brasileira no que diz respeito à garantia dos direitos das pessoas LGBT’s percebemos que existem alguns avanços, tais como a união estável entre pessoas do mesmo sexo, projeto de lei que pune a discriminação e/ou preconceito devido à orientação sexual e/ou identidade de gênero das pessoas LGBT, visibilidade dos movimentos LGBT, fóruns de saúde direcionados a essa população, entre outros, mas os retrocessos se fazem uma constante assustadora. A sociedade ainda vive em processo de desconstrução e acaba reproduzindo violências para com esses atores sociais, além de que nossos representantes e líderes religiosos disseminam o estigma e insultam a discriminação contra os indivíduos LGBT’s. Prova disso são os projetos de leis que estão arquivados e não são discutidos, como exemplo, o que descriminaliza a homofobia no Brasil. Afinal, “o legado da cultura machista é muito claro: não basta ser homem, é preciso ser mais homem que a maioria dos homens” (BORGES, 2011, p. 28).
Assim, a data de 28 de junho foi criada e celebrada em homenagem a um dos episódios mais marcantes na luta da comunidade LGBT pelos seus direitos: a Rebelião de Stonewall Inn, em 1969, data que marcou a revolta da comunidade LBGT contra uma série de invasões da polícia de Nova York aos bares que eram frequentados por homossexuais, que acabavam por ser presos e sofrer represálias por parte das autoridades. A partir deste acontecimento, foram organizados vários protestos em favor dos direitos dos homossexuais por várias cidades norte-americanas.
No Brasil, o movimento homossexual passou a ser reivindicado e a militar por direitos para a população LGBT, somente a partir da década de 1970, momento, inclusive, conturbado na história política e social brasileira mediante a forte repressão militar contra a sociedade civil e ancorado pelo movimento feminista que já se encontrava fortalecido: “O movimento homossexual passa a utilizar-se principalmente dos ‘exageros’ e da ‘desmunhecação’, […] como forma de lutar contra os padrões de comportamento sexual” (MACRAE, 2011 apud LINHARES, 2015, p. 9) o que já era uma característica norte-americana.
Hoje, a sociedade brasileira acompanha o crescente movimento dos gays, bissexuais, lésbicas, travestis e transexuais em todas as capitais por meio das paradas LGBT’s que reúnem milhares de pessoas, sem falar da visibilidade por meio das/dos personagens gays em novelas e programas de TV. Nesse sentido, espera-se que órgãos competentes do Estado ouçam e providenciem medidas de combate a esse ódio contra pessoas LGBT’s, rompendo assim com um preconceito existente.
Por fim, é necessário sim, orgulhar-se de ser o que é. De ir à luta, resistir e afrontar. A história já matou milhares de nós, não precisamos ser apenas dados e índices mortis. Que esta data seja celebrada como resistência, com amor e muito orgulho. Afinal, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais sempre estiveram, estão e estarão presentes!
(Osvaldo Rodrigues Soares Neto, gay, 25 anos, graduado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás)