As parábolas do tesouro escondido e da pérola
Redação DM
Publicado em 18 de agosto de 2018 às 22:50 | Atualizado há 7 anos
“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e esconde-o novamente e, na sua alegria, vai, vende tudo o que tem e compra esse campo”. (Evangelho de Mateus, cap. 13, v. 44).
“O Reino dos Céus é também semelhante a um mercador que anda a procura de boas pérolas. Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra”. (Evangelho de Mateus, cap. 13, vv. 45 e 46).
As parábolas do tesouro escondido e da pérola representam uma síntese dos mecanismos da evolução espiritual. Na parábola do tesouro escondido, Jesus compara o Reino dos Céus, ou seja, o esplendor de uma consciência moral e todas as suas consequências, com um tesouro escondido no campo, o qual simboliza a jornada evolutiva do espírito. Inexoravelmente, o espírito evolui, adquirindo os atributos intelectuais e morais por meio dos processos do autoconhecimento e do trabalho, sem os quais também não é possível encontrar e desenvolver esses atributos. Todos nós estamos no campo da evolução espiritual e não há como sair dele ou fugir de suas leis. No mundo da imanência, a evolução espiritual é a única fatalidade que existe.
A perfeição espiritual, ainda que relativa, é um verdadeiro tesouro, mas para encontrá-lo torna-se fundamental uma constante busca por meio do autoconhecimento, da aquisição do conhecimento e da prática das virtudes. Também para adquirir e manter esse tesouro serão necessários os méritos dos trabalhos morais internos e externos ao indivíduo. Não há como obter esse tesouro desonestamente. Afinal, o homem para comprar o campo onde encontrara o tesouro necessitou de ter bens para vendê-los, obtendo os recursos para adquiri-lo. Ainda para tal finalidade, o homem vendeu todos os seus bens porque percebeu que o tesouro valeria muito mais do que qualquer bem que possuísse. O homem que encontrou o tesouro tudo fez com alegria e não com pesar.
Também na parábola da pérola, Jesus enfatiza a renúncia como sendo a desistência de algo que vale menos do que aquele que se almeja. Essa renúncia diz respeito aos valores maiores sendo buscados em detrimento dos valores menores, ou ainda, bem materiais sendo substituídos por bens espirituais.
Na parábola do tesouro escondido o homem encontra o tesouro, mas Jesus não afirma se foi ao acaso ou se o homem estava a procurar um tesouro. No entanto, na parábola da pérola, Jesus explica que o mercador estava em busca de boas pérolas, o que se subtende que na primeira parábola o homem deveria estar em busca de um tesouro e o encontrou. É o resultado do princípio: “Buscai e achareis”. Em ambas as parábolas os dois homens vendem tudo o que tem para adquirir um bem mais precioso. Isso demonstra inteligência, desapego e capacidade de atingir um objetivo com as virtudes da disciplina, da boa vontade, da persistência e da alegria, condições para vender ou se desfazer de valores menores para aquisição de valores maiores.
Outro aspecto a ser considerado é que os dois homens das duas parábolas encontraram quem lhes vendessem o campo e a pérola de grande valor. Quem desistiria de uma pedra de grande valor para vender à outrem? Quem se disporia vender o seu campo, sem desconfiança, ao perceber a vontade insistente de um comprador que demonstra oferecer qualquer soma em dinheiro para obtê-lo? Para que isso ocorresse houve as colaborações dos dois vendedores. Isso demonstra que dentro do processo evolutivo todos necessitamos uns dos outros para a obtenção da vitória final do bem em nós mesmos. Ninguém evolui sem a ajuda, sem a generosa intervenção do seu próximo.
Todos os dias encontramos tesouros escondidos e pérolas de grandes valores na intimidade da consciência e durante a convivência com os nossos mais próximos, mas nem sempre se encontra exemplos de renuncia aos valores menores para aquisição de valores maiores. Pelo contrário, abandona-se a família em troca do sucesso profissional, desiste-se da paz e da força da consciência em troca dos prazeres sem responsabilidades morais, por meio dos quais surgem os desrespeitos às integridades de natureza física, psíquica, emocional, afetiva, familiar e social. Devido ao desrespeito às regras da evolução espiritual, sofre-se desnecessariamente. Forças que deveriam ser canalizadas para avançar na senda da evolução são utilizadas para resgatar débitos morais de difícil reparo.
Nenhuma criação divina, no entanto, é excluída da evolução. Quanto à individualidade espiritual, somos tesouros preciosos de Deus, as suas pérolas mais valiosas. Por isso, não se pode desistir ou esmorecer diante dos obstáculos naturais ou compulsórios encontrados durante o processo evolutivo. Ao comparar o Reino dos Céus com tesouros e pérolas, Jesus também nos ensina que todo sacrifício em prol da evolução e da perfeição espiritual é válido. Por isso, essa perfeição também consiste em não desistir desse tesouro inextinguível, o qual faz parte da nossa essência e que foi o tesouro, a pérola ou o bem mais valorizado por Jesus: O Amor, o tesouro de Deus que sustenta os universos, a energia fundamental de todas as coisas e a matéria prima do Reino dos Céus ensinado por Jesus.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é escritor, pesquisador, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, www.cultura.trd.br)