Opinião

As vaias contra Temer no Maracanã

Diário da Manhã

Publicado em 12 de agosto de 2016 às 02:43 | Atualizado há 9 anos

O golpismo civil está no poder desde o dia 12 de maio, há 3 meses portanto. O PMDB partido que não tem um nome sequer para disputar a eleição presidencial tornou-se o carro-chefe do governo da República com a presidência nas mãos do impopular e inconfiável Michel Temer. A partir da posse deste na direção suprema do país todos os tipos de retrocesso político e administrativo começaram a pontificar. Indivíduos “ficha suja” foram nomeados para compor o ministério (Romero Jucá, Henrique Alves, Henrique Meirelles). Ante a reação nos meios políticos, na imprensa e, naturalmente, do próprio povo, Temer teve de demiti-los imediatamente. O governo interino tentou a extinção do Ministério da Cultura. A tremenda vaia no show de Caetano Veloso, bem como a reação de intelectuais e artistas determinaram o recuo do golpismo, sendo no dia seguinte retirada a proposta imbecil. Com a alegação de déficit público hiperelevado, o governo temerista e temerário anunciou logo nos primeiros dias a necessidade de aumento de impostos e inclusive da volta da CPMF. As naturais reações contra essas medidas impuseram mais um recuo. E assim os que realizaram o sonho de tomar o poder por vias inescrupulosas – já que pelas vias eleitorais não tinham a menor chance – já se viram inteiramente desmascarados. Uma das provas eloquentes de como o povo brasileiro julga o oportunismo, os estrategistas de um complô que a história registrará como o mais vergonhoso golpe perpetrado contra a democracia até hoje na política brasileira, é a estrondosa vaia dos sessenta milhares de pessoas que estavam no Maracanã na noite de abertura da Olimpíada. Primeiramente, ao se fazer aquela abertura, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, deixou de mencionar a presença de Michel Temer, que ali estava ao seu lado, exatamente por temer a vaia do público ao interino brasileiro. Aconteceu, porém, que, temerariamente, o próprio presidente brasileiro pediu a palavra e proferiu um discurso de 10 minutos. Foram 10 minutos de vaia estrondosa, tão estrondosa que foi preciso colocar música em altíssimo volume e soltar poderosos foguetes para abafar a tremenda manifestação do público. Após essa ocorrência, que certamente deixou os milhares de estrangeiros que ali estavam com muito má impressão do atual governo do nosso país, veio a mais desmoralizante revelação contra Michel Temer, nela se vendo envolvido o seu ministro das Relações Exteriores José Serra.

Surpreendentemente a revista Veja, um dos baluartes do complô midiático que conseguiu o impeachment da Presidente da República, publicou na semana passada a notícia de que elementos da Odebrecht, em delação premiada, iriam revelar o pagamento por essa empresa de 27 milhões de reais a José Serra e 10 milhões de reais a Michel Temer, por ocasião dos pleitos eleitorais de 2014 em que o atual presidente interino foi o candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff.

Os fatos são esmagadores sobretudo no seu significado demonstrativo da hipocrisia e da falta de escrúpulos dos dois representantes do golpismo.

Infelizmente impõe-se assinalar o nenhum pronunciamento, a total omissão dos comentaristas políticos a respeito de assuntos tão graves. Não se viu um só dos elementos que no jornalismo serviram diária e intensamente aos objetivos do golpe tecer o menor comentário sobre os fatos terrivelmente comprometedores do papel que desempenharam e desempenham Michel Temer e José Serra. Para esses fariseus da imprensa brasileira acusações da delação premiada somente valem quando feitas representantes das forças políticas que tais homens de imprensa combatiam e combatem por meios lícitos e ilícitos, sobretudo por esses últimos.

Somente uma eleição democrática será capaz de impedir que Michel Temer fique no poder até o final de 2018. Mas pelo que se está vendo, a corrupção impedirá que essa eleição venha a ser aprovada pelo Congresso Nacional.

 

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal terças & sextas-feira)


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