As viúvas de 1964
Diário da Manhã
Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 23:13 | Atualizado há 7 anos
No Brasil contemporâneo coexiste com uma ínfima parcela de acéfalos históricos que prega a volta de uma ditadura militar no país.
Vítima da negação política, bronca em conviver com a democracia, não tolera o contraponto, não aceita a vontade soberana. Olvida-se de que o regime democrático se caracteriza por um sistema de conquistas.
Nutre um sentimento enlutado de viúvas de 1964 onde a ruptura democrática acarretou as páginas mais sombrias da história republicana brasileira.
O discurso mentiroso da anticorrupção não se sustenta, em nenhuma análise rasa, do período ditatorial em que o Brasil viveu. A diferença era que a truculência desse regime impediu qualquer apuração dos fatos escabrosos sobre os desvios do dinheiro público.
Ignora, oportunamente, que figuras como José Sarney, Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, Edson Lobão, dentre outros, são as heranças corruptivas deixadas pelos generais.
Deslembra que foi, por meio do financiamento infame de corruptos empresários, que conseguiu dar o golpe de Estado, e que escândalos como: a construção da hidrelétrica de Itaipu, a edificação da Paulipetro, de Maluf, a construção da ponte Rio-Niterói, a rodovia Transamazônica, os esquemas de financiamento do Dops, entre outros, não devem em nada às mazelas que o Brasil enfrenta hoje.
Estes acéfalos não compreendem que o mundo não mais admite os retrocessos de crimes contra a humanidade como casos de torturas, assassinatos, ocultação de cadáveres e todo o tipo de bestialização humana praticados impunemente pelo regime de fardas no Brasil.
Conjecturar a volta do regime militar no Brasil, além de ser um ato desprovido de qualquer senso moral e ético, é uma afronta à memória daqueles que tombaram na luta pela liberdade e pela democracia.
O incômodo democrático apenas esconde o desejo de serem opressores daqueles que ousam discordar dessas viúvas.
A era do prendo e arrebento de um Estado, a era do medo, da coação, só servem aos interesses espúrios de uma patologia grave daqueles que sofrem com o complexo autoritário.
À essas viúvas incautas cabe uma aula de História e uma educação de civilidade, já que a ditadura é a negação da civilização.
(Henrique Matthiesen, bacharel em Direito, jornalista)