Autor goiano ganha, em primeiro lugar, prêmio literário nacional
Redação DM
Publicado em 22 de novembro de 2015 às 00:02 | Atualizado há 8 mesesEsta aqui é uma história do Patinho Feio produzido pelo nosso Mundo Médico Brasileiro. Era uma vez um médico isolado por seus pares, excomungado da comunidade médica, um médico que foi recusado inúmeras vezes por inúmeras entidades, colegas e chapas, por exemplo, Associações Psiquiátricas, Conselhos de Medicina, Universidades Federais, Departamentos de Psiquiatria, até Centros Acadêmicos. Contra tudo e todos, levou sua vidinha de clínico e de pesquisador, praticamente sozinho e sem recursos, perdido num cerradão goiano. Mesmo com residência pela USP, mestrado e doutorado pela USP, fellow pela Universidade de Manchester, etc, bateu de porta em porta, foi reprovado arbitrariamente ( “não era amigo da banca”) em inúmeros concursos, em inúmeras cadeiras médicas, inclusive semiologia, fisiologia, etc. Por último, mesmo sendo funcionário concursado disponível para assumir uma cátedra, foi recusado há poucos dias pelo prosaico Depto de Psiquiatria de uma Universidade Federal local. Recentemente a Associação Psiquiátrica local negou-lhe uma banal cadeira num Conselho Fiscal qualquer; etc, etc. Não tem verbas, não tem grupos de pesquisa, não tem nada. Mesmo assim, com todo esforço do mundo, publicou, recentemente, uma obra que eu julgo como sendo uma das melhores obras de psiquiatria já publicada em território nacional, de todos os tempos. Não recebeu um telefonema por isto, um elogio, um convite para palestra, um assento em Congresso, uma vaga em Associação científica médica, muito menos uma vaga docente em nenhum lugar do país ( como se nosso país estivesse supitando de bons professores de Medicina ). É claro, com tanta carga nas costas, tanto trabalho, tanta indiferença e desconhecimento, esmoreceu. Os dias, no entanto, passam, como a Roda da Vida. Eis que, ontem, a Câmara Brasileira do LIvro, através do seu Prêmio Jabuti ( o maior prêmio literário nacional ), liga para este médico, que no momento cuidava de seu filhinho como um humilde pai qualquer, para anunciar-lhe que havia ganho em Primeiro Lugar, mesmo tendo concorrido com baluartes da Medicina “oficial” e “poderosa”, pex., o famoso Dr. Calil, médico de celebridades como Lula e Dilma .
O livro foi trabalho de décadas, laboriosíssimo, gratuito ( sem nenhum tipo de remuneração ) e solitário. Da Academia, só inveja , rancor e fel. Na Europa e EUA, com 1/10 de trabalho destes, seria chamado e aclamado por todas faculdades de Medicina. Aqui entre nós, quanto mais mérito individual, mais ódio, desprezo e indiferença forçada e coletiva… O trabalho de um verdadeiro cientista, que dedica-se à verdade pelo simples prazer de descobri-la e aplicá-la ao sofrimento dos outros, isto “agride” a áurea mediocridade dos “grandes” no Brasil. Sozinho e sem estimulo acadêmico, sem estímulo financeiro, desconhecido de qualquer mídia local ( cujo costume é incensar apenas políticos e cantores sertanejos ) , assim mourejava este médico. Fruto de uma genética cerebral privilegiada, isso é evidente, mas, acima de tudo, exemplo de disciplina e rigor, a ele transmita por seus pais, Heleno e Naruna, ícones de retidão, sacrifício, renúncia, amor e trabalho, qualidades que produzem sempre o melhor dos filhos, em quaisquer circunstâncias, mesmo numa simples cidade do interior cerrado no Brasil profundo. O sacrifício pela família, o amor aos filhos, a disciplina exemplificante do trabalho, tudo isto forjou a mente e o espírito deste médico e cientista. Como sempre por trás de um grande homem, há uma grande mulher, ele tem também sua abnegada, amorosa, laboriosa, compreensiva, companheira, Clara Dias Soares, ( nem sempre por trás, aliás, como toda grande mulher , quase sempre à frente do homem, pelos dotes de esposa e mãe, carinho e renúncia que Deus lhe deu).
Mas, voltando à história do Patinho Feio, agora, mesmo sem nenhum reconhecimento devido ( fosse na Europa, p.ex., choveriam telefonemas após o “ganho do maior Prêmio Literário nacional – ele não recebeu nenhum), com o Premio Jabuti para tapar a boca de todos, o Patinho Feio então transubstancializa-se em um Cisne de vistosa plumagem. Mas , não nos animemos… Isto é só por dentro, é só para o consumo do espírito, pois por fora, para a raivosa e invejosa comunidade médica nacional, e regional, agora ele vai ser um Patinho mais Feio do que já é…
Esta é a história que conto com muito orgulho, da vida e do labor do meu irmão, a quem amo , admiro e me inspiro, Leonardo Caixeta.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra, artigos às terças, sextas, domingos – [email protected])