Bacia do Piracanjuba
Diário da Manhã
Publicado em 16 de julho de 2016 às 02:54 | Atualizado há 9 anosEntende-se por bacia hidrográfica, ou bacia de drenagem de um curso d’água, a área onde, devido à geomorfologia (ao relevo e as circunstâncias geográficas), a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes. Em nossa região, temos a do Rio Piracanjuba, que nasce no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), no município de Silvânia, seguindo seu curso e desague até a foz no Rio Corumbá.
Nesse trajeto de nosso rio há pessoas que há muito alertam e denunciam as mais diversificadas agressividades ao valioso caudal, principalmente na dragagem sem critérios técnicos, ocasionando graves danos como a destruição de matas ciliares, comprometimento de nascentes e a morte gradual do rio, fatos estes que podem ser verificados em diversos trechos.
A correta dragagem é benéfica ao rio, quando deste se retiram sedimentos do canal, mantendo sua profundidade e bom escoamento. É preciso haver orientação para o correto manejo, o que, lamentavelmente, não ocorre em sua quase total extensão.
A inexistência de fiscalização eficaz e necessária torna-se impossível ante as condições econômicas dos municípios. Mesmo havendo boa vontade, faltam recursos para subsidiar uma fiscalização contínua.
Nas Secretárias de Meio Ambiente dos municípios, não se podem negar licenças de explorações minerais, caso estas estejam de acordo com as normas técnicas e legislações vigentes. O que pode ocorrer, como já se viu no município de Silvânia, é um decreto municipal proibindo a extração, fundamentado em parecer técnico da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos – o que, na atual degradação do rio, não é difícil obtê-lo.
Não havendo condições nem do município e nem do Estado em oferecer fiscalização necessária, frente às inegáveis condições do combalido rio, resta-nos como agentes públicos que somos, sobretudo na condição de moradora desta região, buscar mecanismos alternativos para minimizar este grave problema ambiental.
Não se trata de perfil ideológico ou questões partidárias e políticas, mas de defesa da vida. Lamentavelmente, muitas ações só são iniciadas quando a situação atinge nível insustentável. No rio Piracanjuba não é só o peixe que falta, mas o cuidado que devemos ter com o nosso maior patrimônio – que é a água.
Não é desejo radicalizar, mas é preciso que toda e qualquer exploração seja racional e legal na plena extensão do rio. Aplaudo toda e qualquer iniciativa que vise à proteção, quer advinda de governos, organizações não governamentais ou sociedade civil organizada. É necessário ouvir os dois lados, mas também devemos ampliar a observação dessa exploração, evitando que elas nos tragam prejuízos irreparáveis, pois estamos caminhando para isso.
Acima de qualquer lei está a conscientização. Esta se adquire conhecendo sua importância e a indiscutível necessidade para as gerações futuras. É preciso tornarmos pública a real situação do rio em alguns trechos críticos: seus pontos de vulnerabilidade e as possibilidades de sua recuperação, baseada em laudos técnicos. Enfim, apoiar e incentivar toda discussão e ação que possam construir a nova mentalidade de preservação.
Lamentavelmente, a sustentabilidade encontra-se mais no campo teórico que no prático, e torna-se subjetiva a partir do momento em que não há um norte. Não podemos permitir que a degradação seja maior do que a possibilidade que temos de evitá-la.
Estaremos, na segunda quinzena de agosto, lançando uma plataforma digital pela Câmara Municipal de Vianópolis, no endereço eletrônico www.baciadopiracanjuba.com.br. Nele ofereceremos um canal de interatividade, com vistas ao esclarecimento; envolvimento da sociedade – principalmente das escolas –, espaço para encaminhamento de denúncias, amplo conteúdo fotográfico da real situação do rio e os prejuízos até então causados, disponibilização e explicação das legislações vigentes, entrevistas com técnicos e outras atividades.
Tenho convicção de que esta iniciativa será o primeiro passo de outras que surgirão. Que ela possa ser discutida pelas escolas, onde nossos educadores, que já realizam um trabalho exemplar, possam ter informações mais abrangentes do principal manancial hídrico de nossa região.
Estamos em ano de eleições e é preciso que esta discussão também esteja em pauta nas propostas dos candidatos. É preciso ter coragem de discuti-la, sem escapismo ou de forma genérica. Necessitamos de aprofundar esta discussão e que ela não venha de encontro a interesses econômicos ou de grupos, mas em prol da sociedade e da urgente necessidade que temos em cuidar da vida.
Preservação é uma ação que incomoda muitos, pois ela fere vorazmente o interesses de alguns grupos econômicos, que colocam à frente o desejo de obter lucros, sem preocupar-se com os danos ambientais que podem estar ocasionando.
A nação viu, estarrecida, a tragédia de Mariana-MG, com o rompimento da barragem de Fundão, no Distrito de Bento Rodrigues, da empresa Samarco. Os danos ambientais podem levar séculos para se recuperarem. No acidente, mais de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração mataram o Rio Doce e muitos de seus afluentes, com o assoreamento, mudanças de cursos, diminuição da profundidade e até mesmo soterramento de suas nascentes.
Precisamos nos unir em favor de nosso rio Piracanjuba, de seus afluentes e das nascentes que compõem sua bacia. É necessário engajamento contínuo, participação consciente e apoio à causa, que deve ter uma atenção diferenciada, pois ela representa a vida.
O que nos torna fortes é o apoio. Externo aqui o incentivo que temos tido das entidades religiosas, a quem ofereço reconhecimento e gratidão aos párocos de Vianópolis e Silvânia – Pe. Sérgio Ricardo Rezende e Pe. Jovandir Batista, bem como a Pastoral da Terra; aos vereadores de Silvânia Kirley Ronay Sanches, Valdir Rodrigues Lobo (Valdir Pretão) e Valdomiro José de Abreu (Mi); aos meus colegas vereadores que apoiam incondicionalmente este projeto; ao Poder Judiciário, que sempre se encontra aberto à participação e à busca de soluções conjuntas; aos cidadãos que constantemente nos buscam para trazer informações e cobrar soluções; aos inúmeros defensores ambientais, que merecem ser ouvidos; a todos os que fazem de suas preocupações ações em prol da defesa de nosso rio.
É certo que unidos haveremos de vencer obstáculos e quebrar paradigmas, e oferecer mais informações e, consequentemente, atingirmos mais conscientização. É certo que onde há preservação da natureza existe futuro!
(Maria Abadia de Castro Souza, presidente da Câmara Municipal de Vianópolis)