Brasil e Uruguai: o potencial de cooperação em energias renováveis
Redação DM
Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 01:02 | Atualizado há 8 anos
O Uruguai é um dos principais aliados estratégicos do Brasil na América do Sul. Os laços históricos e políticos entre os dois países permitem um grau transcendente de confiança mútua, que permeia todas as perspectivas existentes da relação bilateral. A cooperação entre os dois países é abrangente, pois transcorre as esferas políticas, econômicas, tecnológicas e sociais.
O processo de integração entre Brasil e Uruguai favorece o desenvolvimento socioeconômico deles e intensifica suas posições em assuntos e temas da Agenda Internacional nos fóruns multilaterais. Destaca-se também a importância da cooperação entre Brasil e Uruguai no contexto do MERCOSUL e da UNASUL, este bloco visa ao firmamento das relações comerciais, culturais, políticas e sociais entre doze países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Os referidos blocos são ferramentas de grande significância à promoção e à execução da melhoria de vida do povo sul-americano e à estratégia brasileira de fortalecer e consolidar a América do Sul como eixo eficiente no mundo multipolar em que vivemos.
No que diz respeito à energia renovável no Brasil, a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA), um organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) que propaga novas fontes de energia, publicou, em abril de 2016, seu estudo em caráter global sobre a atual etapa das energias renováveis no mundo. Os dados da agência revelam que, em 2015, as renováveis cresceram 8,5% e já somam 1.985 GW de potência instalada. Ou seja, a energia eólica está obtendo um rápido crescimento, mas, em um aspecto geral, o Brasil, quando comparado a vários outros países, encontra-se bem atrasado, e o investimento em energia solar é ainda um fracasso. A hidrelétrica, já consolidada, ainda é a principal fonte energética, apesar da produção de vários outros tipos de energia desenvolvidos no País. Em 2006, por exemplo, a potência que o Brasil obtinha de energia eólica era inexpressiva e não passava de 200 MW. Dez anos depois, a eólica atingiu mais de 8 mil MW e tornamo-nos o décimo maior gerador de energia proveniente dessa fonte no mundo.
Em relação ao país vizinho, as fontes renováveis foram responsáveis pela geração de 98% da energia elétrica no Uruguai, segundo o presidente da empresa estatal elétrica uruguaia (UTE), Gozalo Casaravilla. Ele esclareceu que isso é atribuído às fontes hidráulicas, eólicas, fotovoltaicas e à biomassa. Os investimentos em renováveis no nosso vizinho sul-americano começaram em meados de 2006. Outro tipo de energia também explorada pelos uruguaios que merece destaque é a solar, caso em que os uruguaios ultrapassam o Brasil em quantidade gerada. O Brasil só começou a investir em painéis fotovoltaicos em 2011, portanto, meia década depois de nossos vizinhos. Várias estimativas feitas mostram que poderíamos gerar mais de 100 mil MW de energia solar — o suficiente para abastecer boa parte da nossa demanda energética. Em 2015, no entanto, tínhamos apenas 21 MW de potência instalada oriundos dessa fonte. As comparações feitas pelo organismo da ONU em relação aos países da América do Sul evidenciam nossa deficiência: segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis da ONU, estamos gerando menos energia solar do que o Equador (26,4MW), a Guiana Francesa (39,1MW) e o Uruguai (67,7MW).
Como o governo do Uruguai investiu — e obteve sucesso — em fontes renováveis, como a eólica, a biomassa e a solar, 55% do total que produz é renovável e limpa, enquanto a média global para geração de energia renovável é de somente 12%. Ramón Mendez, diretor de Energia do Uruguai, ator político visto como um dos principais responsáveis por números tão significativos, diz que o êxito sucede da parceria entre o setor público e o privado e da legislação que favorece as fontes renováveis.
E a parceria Brasil-Uruguai? Para ambos, a questão energética é um dos campos mais prósperos da relação bilateral. Um passo fundamental nessa aproximação deu-se com a visita da então presidenta Dilma Rousseff ao Uruguai, em fevereiro de 2015, inaugurando, com o presidente José Mujica, o Parque Eólico Artilleros, um investimento da parceria entre Eletrobras e sua contraparte uruguaia. Para além do setor elétrico, haveria ainda maior espaço para a cooperação em biocombustíveis e para o aumento da mistura obrigatória do etanol à gasolina no Uruguai, tal como ocorreu na Argentina, no início de 2016. Todavia mais passos podem ser dados. Há mais a ser feito em relação à energia brasileira e à uruguaia. A cooperação ocorre quando há parceria. E queremos mais disso.
(Lucas Eduardo de Sousa. Estudante de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília)