Brasil: o ódio nosso de cada dia
Redação DM
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 03:04 | Atualizado há 7 anos
“É manchete de jornal a violência que atinge grupos de elite, mas nunca aquela que atinge grupos sociais específicos, como negros, pobres, homossexuais e transexuais.”
Leandro Karnal
Ao ler esse tema, com certeza uma dúvida permeia em nossa mente: na sociedade contemporânea, os ataques em defesa da opinião individual seria o exercício regular da democracia ou simplesmente o ato de ignorar a história do nosso país? O ódio nos dividem?
Ao meu ver, essa pergunta não precisa ser respondida diretamente aqui. Os fatos expostos ajudarão cada um a se posicionar a favor ou contra o ódio crescente em nosso país. Ainda estávamos em luto por Marielle quando a primeira pedra foi arremessada contra o ex-presidente Lula. A violência premeditada de grupos de direita armados, apoiados por milícias fascistas, contra pessoas desarmadas que se posicionaram na esquerda chocou o estado. Vivemos em uma época onde partidos políticos dividem uma nação, o que se torna alarmante, pois todos deveriam se unir com um único objetivo: REERGUER NOSSA PÁTRIA AMADA.
O Brasil vive uma crise política e moral muito mais estrutural que a crise econômica e isso ocorre pela falta de horizonte.
O estado de direito é uma conquista extraordinária, embora seja exercido de forma errônea. Políticos constantemente se insultam. Constantemente se atacam. Constantemente lançam ao invés de análises, adjetivos.
A nação deve ser observada a partir de seu organismo mais democrático, aliás, pressupõe-se que deveria ser democrático por meio do Congresso Nacional (o certo seria ter a sua participação e não apenas sua existência).
Mas, é necessário salientar que a mais tumultuada das democracias é ainda melhor que uma ditadura. Afinal, as denúncias contra a corrupção só ocorrem porque estamos em um estado de direito e podemos manifestar a nossa opinião, o que não é permitido na ditadura.
Em períodos anteriores, em outras ditaduras como a da Coreia do Norte, os corruptos ou são amigos do ditador e não são perseguidos ou são inimigos e são executados, mas não pela corrupção e sim, por simplesmente serem inimigos.
Quando foi eleito Barack Obama simbolicamente foi um grande avanço. Mas, o preço da liberdade é a eterna vigilância. Esse fato de alguém nos Estados Unidos louvar o nazismo, movimento que matou centenas de milhares de norte-americanos na Europa, o fato do nazi-fascismo ter um adepto dentro dos Estados Unidos, é uma ignorância da história.
Ódio e intolerância dizem à uma tipologia: você não serve. Todo gesto de ódio é um gesto também narcísico. Quando um candidato à presidência profere que preferia ter um filho morto a homossexual, subtende-se que se não existisse determinadas pessoas, a sociedade seria melhor. Nunca fomos tão insignificantes. Nunca fomos tão rebaixados por simplesmente expressar nossa opinião.
Soma-se a isso o conceito do sociólogo Durkheim de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica que fala da relação que as pessoas estabelecem entre si em determinadas sociedades.
O primeiro tipo de solidariedade – a mecânica – é encontrado nas sociedades agrárias. Nele a vida do indivíduo tem muito pouco valor perante o grupo. Inter textualizando com esse conceito, percebemos que isso é o que vivemos atualmente. Se você não se encaixa aos padrões impostos pela sociedade, você não serve, você não é aceito e a sua opinião está errada.
E como se desperta o pior que há em nós?
O sociólogo Zygmunt Bauman resume perfeitamente o paradoxo de nossa era como: “Nunca fomos tão livres. Nunca nos sentimos tão incapacitados. ”
A violência e o ódio como mobilização política não devem ser preocupações apenas de um partido ou de uma determinada força política (direita e esquerda), eles devem receber o repúdio, em alto e bom tom, de toda a sociedade, e uma resposta à altura de todos aqueles que defendem a liberdade e o respeito às diferenças. O Brasil não será um país melhor se permitirmos que o ódio vença a esperança, e o medo cale a democracia. Precisamos repudiar o ódio e agir com sabedoria por meio da nossa liberdade de expressão. Não podemos deixar que o Brasil seja liderado por pessoas fascistas. Infelizmente os alemães não podem voltar aqui e testemunharem tamanho equívoco que cometeram quando sucumbiram a um fascista como Adolf Hitler. E agora, o que será da nossa pátria amada? A decisão está em suas mãos. Torço para que nosso país não se transforme em palco para a violência.
(Shamara Ferreira é graduanda em Direito pela PUC-GO. Associada ao Instituto de Estudos Avançados em Direito e escritora de artigos. Seu e-mail para contato é: shamaraferreira2016@gmail.com. Está no Instagram como @_shamaraferreira e no Facebook como Shamara Ferreira)