Brasil

Brasil, o sonho de uma cultura tropicalista 

Redação DM

Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 22:38 | Atualizado há 10 anos

“Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, soltei os panos sobre os mastros no ar, soltei os tigres e os leões nos quintais, mas as pessoas na sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer…”

(Caetano Veloso)

 

Confesso sinceramente que sou saudosista; sim, sou e daí?! aprecio ouvir músicas não somente da minha geração; ouço: anos sessenta, setenta, oitenta..(melhor ficar por aqui!),pois, para mim, recordar é viver!

Naquela época, os artistas criavam suas músicas para algo maior, afinal vivíamos uma ditadura militar, e os protestos eram todos voltados para uma única direção; melhor dizendo: tínhamos foco, naquilo que queríamos.

São tantas as músicas, e olha que são muitas, mas tem aquela que nos deixa um gosto de: “Poxa, essa música tem muito a ver com este momento atual”, vivíamos um período “tropicalista”, uma contracultura, nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano, embora o movimento Hippie, que representa esse auge, almejasse a transformação da sociedade como um todo, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e do protesto político.

Sim; protestos políticos – quanta diferença! Naquela época, pairavam sobre nossas cabeças, aviões, nossos pés, carros e caminhões que nos levava aos chapadões do Centro-Oeste do Brasil; pois, era lá que sempre fervilha as decisões que mudaram e mudam nossas vidas tupiniquins.

Sabíamos organizar movimentos, nossos carnavais eram mais românticos, e inaugurávamos monumentos mais sólidos, sem propinodutos e tudo mais.

Vivíamos felizes com a bossa-nova, a roça, a palhoça, Carmem Miranda, Kennedy, Martin Luther King, Malcom X, Juscelino Kubischek, Jorge Amado, Chaplin, Ulisses Guimarães e tantos outros líderes e ídolos que deixaram um legado maravilhoso para suas gerações. Mas, e hoje? Quem são nossos ídolos? Não se engane, são todos de papel crepom e prata, somente a beleza de nossas mulheres, nos encanta.

Tínhamos luar do sertão, hoje fotos de WhatsApp e nada mais. Havia tantas portas para entrarmos, que ficávamos indecisos em qual delas estaríamos seguros, no final, a escolha sempre nos levaria ao caminho escolhido. Hoje, uma estrada feia e estreita, mas, somos um povo de fé, e se andarmos com fé, a fé não costuma falhar.

Viva nossas matas, nossa selva amazônica, e o que ainda nos resta de tropical neste país. Afinal, em breve serão apenas “fotos”.

Na casa grande existe uma piscina infestada de ratos, cor azul celeste, em volta coqueiros, e muitas flores, uma brisa suave, falas, falas e mais falas, muitos carregam em sua mão direita um rosa, nos mostrando eterna primavera, e neste jardim os urubus passeiam. Esta é a triste realidade de um país combalido de tanta corrupção e desfaçatez.

Vivemos num país de bang-bang como nos filmes italiano de “Django”, só que, sem mocinhos e xerifes, reféns de bandidos que nos aprisionam em nossas próprias casas – “senhoras e senhores, tenho a leve impressão que somo observados – tomem cuidado; o bicho homem, vem aí”!

Já tivemos Macunaíma, Iracema, Gabriela, Balança mais não Cai, Legião Urbana, Secos e Molhados, Titãns, RPM, festivais, porém, somos obrigados a conviver com tanta falta de criatividade e sons dissonantes. Não quero ser pessimista e achar que tudo deva ir para o inferno (lembro-me de uma música com esta frase), mas, a impressão que tenho é que tudo vai acabar em samba, além de sermos arrastados mais uma vez para este “Panem et Circences – pão e circo ” institucionalizado que recebemos todos os dias: pães e bolsas, bolsas e pães.

Que saudades de um Brasil culturalmente “tropicalista”, será preciso novamente um novo movimento antropofágico, movimento este que, venha trazer novas propostas de digerir uma nova cultura e regurgitá-la, após a mesma ser mesclada com a nossa cultura popular, tão esquecida? Não queremos heróis sem causas, mas, um povo politicamente organizado e consciente de que, unidos, mudaremos esta situação de “servidão voluntária”, e este gigante Brasil “abaporu”– agora desperto!(mas, comedor de sua gente – pura e inocente), possa enfim, desligar seu “WhatsApp”, e participar ativamente com uma consciência crítica de que, uma nova mudança em breve, eu espero, venha acontecer.

Viva 2016, e vamos à luta!

 

(Cezar Tadeu de S.Veiga, bel. Administração de Empresas, docente universitário – [email protected] / Contato: 9906-3173 / 9808- 0218)

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