Brasil: “terra do futebol, cerveja e carnaval”, vamos celebrar!
Redação DM
Publicado em 1 de março de 2017 às 00:48 | Atualizado há 8 anos
Vamos celebrar o orgulho de Cabral – os dois! Salve, salve as “paixões nacionais”! Paradoxalmente, ostentando índices (IDH) de fazer “inveja” a qualquer país sério! Futebol, cerveja, carnaval e um festival de feriados – sagrados e profanos; golpes e equívocos históricos – fomentando a alegria de néscios, alimentando o ócio, um verdadeiro salseiro no país das maravilhas e constitucionalmente, laico.
A grande Nação emergente, integrante do BRICS e “rumo” ao progresso tão incerto quanto esse Governo. De boca escancarada e sem dentes, colhendo os fracassos do legado da Copa de empreiteiros e honrados homens públicos. Inúmeras obras de mobilidade urbana para o evento que nunca ficaram prontas – e a coroação do desastre com as Olimpíadas e as propinas pagas nas obras do Penta Campeão e o olímpico “Rio 40 graus cidade maravilha purgatório da beleza e do caos”, Fernanda Abreu! Ah, não nos esqueçamos – mesmo no Carnaval muito comum a amnésia – dos quase 12 milhões de desempregados, da Hanseníase, Tuberculose, Meningite, Dengue, Chikungunya, Zica, síndrome de Guilain-Barre, favelas, Febre Amarela, “Mensalão”, “Petrolão” e os 13 milhões de analfabetos, ufa! É indiscutivelmente “the paradise”! Sem sombras de dúvidas, realmente, temos muito que comemorar e nos orgulhar!
O futebol brasileiro é cultural. “Sinônimo” de virilidade, masculinidade e brasilidade! “Homem que é homem” tem que gostar de futebol, diz o ditado popular. Miseráveis anônimos peregrinam estádios, como servos devotos, entregues e extasiados pelo “ópio do povo”. Gramados ou ringues, assistir futebol em alguns casos, consiste nos melancólicos e bárbaros espetáculos de selvageria entre “torcidas organizadas”, numa demonstração explícita de como somos civilizados. E do quanto temos a comemorar!
Um culto aos “heróis” nacionais, afortunados, financiados por indigentes os quais, são os únicos e legítimos bobos da Corte. Galáticos bilionários do futebol, bem como, as grandes corporações da indústria etílica balsâmica, que embalam o torpor dos ignorados foliões e privatizam a festa popular, em nome da alegria patética de ébrios, desinformados e órfãos do abandono estatal.
É muito fácil ser patriota e “herói” no Brasil. Mesmo que more no exterior e ganhe em dólar! São ovacionados diante de um estridente e vergonhoso zurro nacional! Afirmou Brecht, “infeliz a nação que precisa de heróis.” Merece sim, todo nosso reconhecimento e aplausos, quem de fato construiu, constrói e contribui para mudar essa Nação. Os verdadeiros cidadãos brasileiros, sem máscaras, sofridos, trabalhadores, honestos, persistentes e lutadores por natureza. Enquanto isso, os ruidosos tinir de ferraduras são para os mercenários, os canalhas saqueadores do erário, que em nada contribuem para engrandecer o Brasil, pelo contrário!
O Carnaval, outra grande paixão Nacional! A maior Nação católica do mundo se rende a mais grandiosa e bela festa popular, profana e milionária! A hipocrisia se revela e a fé se compadece. Hora do “habeas corpus”, uma espécie de salvo-conduto aos cristãos de corpo! Todo “pecado”, delito, deslize, será perdoado, permitido e tolerado. Resta-nos, o agregado do apoteótico espetáculo, lucro, drogas – lícitas e ilícitas – prostituição, turismo sexual, violência, promiscuidade e festa para gringo nenhum botar defeito, literalmente! Vamos celebrar!
O país para. Deixa de produzir, alfabetizar, modernizar, combater as injustiças. Chame a “Liga da Justiça” e juntos, vamos aplaudir nossa própria decadência. É o erário que falta para saúde, educação, segurança, financiando “bordéis públicos”, gerando lucros para alguns – grandes empresas – e as verdadeiras necessidades da maioria, em nome da incompetência, sempre ficam em segundo plano. A política do “pão e circo” precisa continuar! Aproveitando o clima festivo, “abra alas, que eu quero passar”! Espetáculo mágico! Eu diria circense. Parece que os problemas congelam ou desaparecem! Não se fala de outra coisa. Só de festa, folia, alegria no país repleto de míopes, marionetes e fantoches – não estou me referindo aos bonecos gigantes de Olinda. Alegria passageira, seguida pela dor da indiferença e da dor da injustiça! Vamos celebrar!
Rio de Janeiro, São Paulo, nordeste que o digam! Que festa! Que alegria! Regiões riquíssimas, prósperas, sem crise, altos índices de desenvolvimento humano! Penso que esse deve ser o motivo de festas tão grandiosas! O carnaval baiano começa antes e termina depois! Procurado e badaladíssimo! Eu penso que se o governo da Bahia tivesse a mesma habilidade e competência para solucionar os problemas do estado, como tem para vender “abadá” e promover carnaval, a Bahia indiscutivelmente seria o melhor lugar do mundo!
Japão, China, Noruega, Dinamarca, Canadá entre outros, nunca venceram nenhum campeonato mundial de futebol. No entanto, são o que são. Tento encontrar onde foi que minha vida mudou com a conquista da quinta Copa do Mundo de Futebol, conquistada pelo Brasil! Talvez seja egoísmo ou certo preciosismo de minha parte pensar em uma melhora ou mudança, só na minha vida! Então, vejamos por outro ângulo. O que mudou na vida dos brasileiros? Na vida do país pelo menos? Agora, para os “heróis”, a CBF, pode ser que houve “algumas mudanças”, pelo menos, em suas respectivas contas bancárias. Não é por acaso, que alguns ex-dirigentes e atuais, ou estão presos ou sendo investigados. Então, vamos celebrar!
Precisamos nos mobilizar. Politizarmos mais. Filosofarmos. Não podemos ter medo ou vergonha de ousar, pensar, questionar, opinar, criticar, transformar! Despirmo-nos de nossas eternas fantasias, ingenuidades e hipocrisias. Movimentarmos em prol de causas mais nobres e transformadoras! Lotar estádios sim, ruas, a Sapucaí por algo que possa contribuir para mudar a vida do sofrido povo brasileiro. Se levantar contra esse vexame nacional, comandado por condenados e investigados, que se blindam atrás de cargos e envergonham uma nação inteira! Vamos bater panelas contra a tão amplamente discutida “reforma” do Ensino Médio; contra essa proposta infame e constrangedora de “reforma” Previdenciária; em prol do combate ao analfabetismo, por exemplo.
Ou quem sabe, uma mobilização nacional para se construir dignidade, moradias, escolas, parques, espaços de lazer, arte, que tal? Dia Nacional da leitura, do livro, da sétima arte, dança! Ou então, todos os dias! Vamos celebrar a cultura, a ascensão social e intelectual de tantos miseráveis e anônimos. O conhecimento, a libertação das amarras da ignorância, da incultura, da incompetência, dos “heróis” do BBB e etc.
No país do futebol, carnaval e cerveja, vivemos tempos de máxima opressão, comida e casa para quem trabalha, são coisas supérfluas. Daqui a pouco, seremos – se já não formos – o país de ignorantes, do turismo sexual, da intolerância, do estupro, do racismo, do machismo, do feminicídio e de outros inúmeros infortúnios que maculam nossa cultura e nossa gente! Ou querem “tampar o sol com a peneira” ou está passando de hora de revermos nossos conceitos.
Conclusão, devemos temer menos a morte que a vida insuficiente, Brecht.
(Marcos Manoel Ferreira, Professor, Pedagogo, Historiador, Escritor. [email protected] e www.vozesdasenzala.blogspot.com.br)