Opinião

Caiado, o passado e o futuro o condenam

Diário da Manhã

Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 00:38 | Atualizado há 7 anos

A Bí­blia fa­la de se­pul­tu­ra bem bran­ca

Que guar­da ver­me em ce­mi­té­rio aban­do­na­do,

Igual aque­le que caiu da mu­la-man­ca:

fal­so e ar­ro­gan­te qual se­pul­cro Cai­a­do…

 

Nou­tro dia, dei­xei meu  car­ro es­ta­cio­na­do na Pra­ça Cí­vi­ca. Quan­do vol­tei, de lon­ge, vi um pa­pel no pá­ra bri­sa. Pen­sei que era mul­ta de trân­si­to. Não era. Eram ver­sos anô­ni­mos, es­cri­tos a mão em li­nhas tor­tas, uns gar­ran­chos sem as­si­na­tu­ra.

Com es­for­ço, li o con­te­ú­do e fi­quei sur­pre­so: uma ter­rí­vel mal­di­ção ti­ra­da da  Es­cri­tu­ra Sa­gra­da. Pa­re­cia as iras de Jo­ão Ba­tis­ta con­tra He­ro­des.

Cor­ri pa­ra a in­ter­net. Su­ge­ri as úl­ti­mas pa­la­vras dos ver­sos, (Se­pul­cro Cai­a­do)e a sur­pre­sa foi mai­or ain­da . Lá, en­con­trei em Ma­teus 23,27 – 32:

“Ai de vós, es­cri­bas e fa­ri­seus hi­pó­cri­tas! Sois co­mo se­pul­cro Caiado: por fo­ra pa­re­ce be­lo, mas por den­tro es­tá cheio de os­sos de ca­dá­ve­res e de to­da po­dri­dão! As­sim tam­bém vós: por fo­ra, pa­re­ceis jus­to di­an­te dos ou­tros, mas por den­tro es­tais cheio de hi­po­cri­sia e in­jus­ti­ça”.

Não sei por quê , mas a qua­dra es­cri­ta em ver­sos ale­xan­dri­nos, com ri­mas e mé­tri­cas cor­re­tas, me lem­bra o se­na­dor Ro­nal­do Cai­a­do.

E o fim da mal­di­ção bí­bli­ca re­me­te tam­bém aos an­te­pas­sa­dos dos fa­ri­seus. “Ai de vós, es­cri­bas e fa­ri­seus hi­pó­cri­tas! Cons­tru­ís es­pa­ços pa­ra os pro­fe­tas e cons­tru­ís tú­mu­los dos jus­tos, e di­zeis: ‘Se ti­vés­se­mos vi­vi­do no tem­po dos nos­sos pa­is, não te­rí­a­mos si­do cúm­pli­ces na mor­te dos pro­fe­tas’. Com is­so, con­fes­sais que sois fi­lhos da­que­les que ma­ta­ram os pro­fe­tas. Vós, pois, com­ple­tai a me­di­da de vos­sos pa­is!” Ao fi­nal, a mal­di­ção re­me­te aos  an­te­pas­sa­dos dos fa­ri­seus, e eu me lem­brei tam­bém dos an­ces­tra­is  do Se­na­dor, que lá atrás, fi­ze­ram op­ção pe­los ri­cos e opres­so­res, con­tra os po­bres e os pre­tos, nas sen­za­las, e con­ti­nu­a­ram a  es­cra­vi­dão bran­ca no cam­po, tan­gen­do a pa­tas de ca­va­los pos­sei­ros nas lon­ju­ras de ter­ras aber­tas e de­ser­tas de Te­sou­ras e Ari­cá.

Se o se­na­dor qui­ser ves­tir a ca­ra­pu­ça e com­ple­tar a me­di­da de seus an­te­pas­sa­dos, é só re­as­su­mir a pre­si­dên­cia da UDR e…

A oli­gar­quia dos Cai­a­do do­mi­nou Go­i­ás em fins do sé­cu­lo 19, até 1.930, e o cli­ma de vi­o­lên­cia te­ve o seu pon­to mais trá­gi­co com a Cha­ci­na do Du­ro.

Foi as­sim:

No iní­cio do sé­cu­lo pas­sa­do, o en­tão pre­si­den­te do Le­gis­la­ti­vo go­iano, de­pu­ta­do Abí­lio Wol­ney e o senador Totó Caiado, en­tra­ram em lu­ta fí­si­ca, cul­mi­nan­do o cho­que com a cha­ci­na do Du­ro.

Tu­do co­me­çou com um pro­je­to de lei do go­ver­no Cai­a­do, pro­pon­do re­sol­ver a ques­tão fun­di­á­ria de Go­i­ás. Pe­la pro­pos­ta, a de­cla­ra­ção em car­tó­rio dos ocu­pan­tes de ter­ras em Go­i­ás ge­ra­ria tí­tu­lo de do­mí­nio. A pro­pos­ta vi­rou lei ra­pi­da­men­te pe­la mai­o­ria ab­so­lu­ta do par­la­men­to pre­si­di­do pe­lo de­pu­ta­do Abí­lio  Wol­ney.

No mes­mo dia a Lei foi san­ci­o­na­da, e a fa­mí­lia Cai­a­do, va­len­do-se de­la, de­cla­rou e re­gis­trou em car­tó­rio mais de um mi­lhão de hec­ta­res de ter­ras fer­ti­lís­si­mas na re­gi­ão do rio Te­sou­ras e Ari­cá.

No ou­tro dia, o se­na­dor To­tó Cai­a­do le­vou em mãos ou­tro pro­je­to, re­vo­gan­do a Lei da vés­pe­ra.

Es­sas ter­ras per­ten­cem até ho­je aos Cai­a­do. Cons­ta que a di­ta­du­ra le­ga­li­zou es­se la­ti­fún­dio, no go­ver­no Le­o­ni­no Cai­a­do. Mas o epi­só­dio con­ti­nua co­nhe­ci­do co­mo o “gri­lo do fim do mun­do”

Wol­ney fi­cou mar­ca­do, mas con­ti­nuou com­ba­ten­do os Cai­a­do lá em sua to­ca, ao la­do do jor­na­lis­ta Moi­sés San­ta­na no jor­nal “O Es­ta­do de Go­i­ás”. Co­mo jor­na­lis­ta, Wol­ney era bri­lhan­te, além de co­ra­gem te­me­rá­ria .

Ao fim do man­da­to de de­pu­ta­do es­ta­du­al, can­di­da­tou-se e foi elei­to de­pu­ta­do fe­de­ral pe­los es­ta­dos de Go­i­ás e Ba­hia. Mas foi de­pu­ra­do por in­flu­ên­cia dos Cai­a­do, e não as­su­miu o man­da­to(de­pu­ra­ção era um jul­ga­men­to sub­je­ti­vo de co­mis­são po­lí­ti­ca que ti­nha o po­der de ve­to a man­da­tos de de­pu­ta­dos, mes­mo de­pois de elei­tos).

Wol­ney vol­tou a São Jo­sé do Du­ro, ho­je Di­a­nó­po­lis, ao exer­cí­cio da me­di­ci­na e ad­vo­ca­cia, que era ex­pert nas du­as pro­fis­sões.

Lá, cho­cou-se com o co­le­tor e o ju­iz, ten­tá­cu­los dos Cai­a­do.

Pa­ra de­fen­der os in­te­res­ses de uma vi­ú­va, que es­ta­va sen­do “de­pe­na­da’ em in­ven­tá­rio, Wol­ney in­va­diu  o car­tó­rio da ci­da­de e obri­gou, à bo­ca de Ca­ra­bi­na, o Ju­iz e o Co­le­tor  a co­me­çar e a con­clu­ir in­ven­tá­rio, si­mu­lan­do da­tas e pra­zos, em um dia.

Co­mo se vê, a tru­cu­lên­cia não era pri­va­ti­va só dos Cai­a­do.

Pa­ra ga­ran­tir o Co­le­tor e o Ju­iz, o go­ver­no dos Cai­a­do man­dou mais de cem sol­da­dos, sob o co­man­do de um ju­iz tru­cu­len­to.

Em ci­la­da, a po­lí­cia dos Cai­a­do ma­tou o pai de Abí­lio Wol­ney,  Jo­a­quim Ai­res Ca­val­can­te Wol­ney, rou­ban­do-lhe ain­da 30 con­tos de reis que tra­zia pre­sos à gua­i­a­ca

Com me­do da vol­ta de Wol­ney, que dei­xa­ra o Du­ro pa­ra re­cru­tar ja­gun­ços na Ba­hia e no Pi­auí,  a po­lí­cia dos Cai­a­do fez re­fém no­ve dos seus fa­mi­lia­res, acor­ren­ta­dos pe­los pés e amar­ra­dos ao tron­co. En­tre os re­féns ha­via cri­an­ças. To­dos fo­ram san­gra­dos a fa­ca.

A cha­ci­na do Du­ro es­tá imor­ta­li­za­da em “O Tron­co”, ro­man­ce do imor­tal Ber­nar­do Élis.

O co­ro­nel Wol­nei vol­tou, re­to­mou São Jo­sé do Du­ro,foi pre­fei­to de Bar­rei­ras,  te­ve vi­da lon­ga  e mor­reu com a al­cu­nha de Le­ão da Ser­ra Ge­ral.

É bom lem­brar que não te­nho na­da de pes­so­al con­tra o se­na­dor Ro­nal­do Cai­a­do. É só po­lí­ti­ca.  Sou so­ci­a­lis­ta des­de sem­pre, e já pu­xei mui­ta ca­deia, com­ba­ten­do  a di­ta­du­ra. Vou mor­rer lu­tan­do con­tra a ex­plo­ra­ção do ho­mem pe­lo ho­mem. Eu sou o pri­mei­ro e úl­ti­mo elei­tor a vo­tar con­tra o Cai­a­do em Go­i­ás. Não pas­sa­rá!

O se­na­dor Ro­nal­do Cai­a­do é o mais co­nhe­ci­do por fo­ra de to­dos os can­di­da­tos ao go­ver­no de Go­i­ás.  E o me­nos co­nhe­ci­do por den­tro.

Em pes­qui­sas, qua­se 95 por cen­to dos go­i­a­nos de­cla­ram co­nhe­cê-lo, en­quan­to me­nos da me­ta­de co­nhe­ce o de­pu­ta­do Da­ni­el Vi­lel­la , e ape­nas 35 por cen­to de­cla­ram co­nhe­cer Zé Éli­ton. Nin­guém vo­ta em quem não co­nhe­ce. Na cor­ri­da, quan­do o po­vo o co­nhe­cer por den­tro, ele se­rá o úl­ti­mo co­lo­ca­do, to­mem no­ta.

Cai­a­do tem raí­zes na eli­te agrá­ria, a mais atra­sa­da e tru­cu­len­ta do nos­so ex­tra­to so­ci­al. E sem­pre faz pra­ça dis­to. Nas­ceu em ber­ço de ou­ro e nun­ca foi con­tra o tra­ba­lho es­cra­vo. Fez cur­so na Fran­ça, on­de apu­rou a sua aver­são aos po­bres e pre­tos.

É fun­da­dor da UDR (Uni­ão De­mo­crá­ti­ca Ru­ra­lis­ta), en­ti­da­de cri­a­da pa­ra ser o bra­ço ar­ma­do do la­ti­fún­dio.

O se­na­dor Ro­nal­do Cai­a­do vi­ve de ca­ta-ca­va­cos im­plo­ran­do apoio do PMDB à sua can­di­da­tu­ra. Apoi­a­do por es­se par­ti­do, sen­do vi­to­ri­o­so, a pri­mei­ra ví­ti­ma se­rá o PMDB, que ele to­ma­rá pa­ra si. E os Vil­le­la fi­ca­rão no “ora ve­ja”.

Com ou sem o apoio do PMDB, o se­na­dor Ro­nal­do Cai­a­do vai pa­ra a elei­ção com o blo­co do “eu so­zi­nho”, pois não tem con­di­ções de mon­tar cha­pa de de­pu­ta­do es­ta­du­al e mui­to me­nos de fe­de­ral.

Cai­a­do não tem apoio nem de par­ti­dos na­ni­cos e to­do mun­do sa­be que sua can­di­da­tu­ra vai mur­char co­mo pa­po de an­jo em mãos de me­ni­no ma­li­no.

Exis­te no sub­con­sci­en­te co­le­ti­vo a con­vic­ção de que Mar­co­ni fa­rá o su­ces­sor, e ele já es­tá es­co­lhi­do –Zé Éli­ton. Não há se­quer es­pe­cu­la­ção so­bre o vi­ce de Cai­a­do ou mes­mo de Da­ni­el Vi­le­la. Mas to­dos que­rem ser vi­ce de Zé Èli­ton. As can­di­da­tu­ras pa­ra o Se­na­do nas cha­pas de Cai­a­do e Da­ni­el Vi­le­la são ze­ro. Pois nin­guém quer ser can­di­da­to do vá­cuo.Mas os no­mes de mai­or pres­tí­gio no Es­ta­do es­tão dis­pu­tan­do can­di­da­tu­ra ao la­do de Zé Éli­ton.

Ro­nal­do Cai­a­do e Da­ni­el Vi­le­la não tem can­di­da­tos a de­pu­ta­do(fe­de­ral es­ta­du­al), não tem can­di­da­to a vi­ce, não tem can­di­da­tos  ao Se­na­do. So­frem por nin­guém que­rer fa­zer-lhes com­pa­nhia. Zé Éli­ton so­fre tam­bém, pois to­dos que­rem fa­zer par­te de sua cha­pa. E as va­gas são pou­cas pa­ra tan­ta pre­ten­são. Uns por não ter na­da e o ou­tro por ter de­mais.

P.S. –Afi­nal, a Jus­ti­ça Fe­de­ral con­de­nou Lu­la a não ser can­di­da­to. Era me­lhor pa­ra seus ad­ver­sá­rios der­ro­tá-lo nas ur­nas. Lu­la es­tá es­quar­te­ja­do em pra­ça pú­bli­ca. Di­rei­ta ar­re­ga­nha­da e clas­se mé­dia des­lum­bra­da, sir­vam-se à von­ta­de, fa­çam bom pro­vei­to.

 

(Car­los Al­ber­to San­ta Cruz, jor­na­lis­ta)

 


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias