Carmen Mayrink Veiga
Diário da Manhã
Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 21:34 | Atualizado há 7 anos
Somente agora – depois quase três meses da lamentável partida de Carmen Mayrink Veiga – venho prestar-lhe essa última homenagem…
A super grandiosa Carmen Mayrink Veiga foi minha musa maior desde antes de começar no jornalismo– quando dos 16 aos 18 anos – meados dos anos 70 – lia sobre ela, na coluna espelhada – de duas páginas – do colossal Ibrahim Sued – super icônica “Manchete” – em casa de um querido e muito generoso tio – onde filei o jantar por longos anos – nos difíceis tempos de estudante.
Em sua casa da praça do Cruzeiro, Setor Sul, era sagrado – “O Popular”, “Cinco de Março” e “Manchete” – onde me deleitava com a leitura da imprensa dourada – somente ela, aliás – pois minha pequena e jovem cabeça – só tinha foco para esse segmento…
E o que era mais interessante – me via ali dentro – não como personagem, bem entendido, mas como conselheiro – fazendo parte daquela linda, elegante e sofisticada gente – que tinha história para contar…
Não deu outra. Pois querer é poder – já dizia o velho bordão.
“Maktub” – em árabe – minhas sagradas paternas origens – que quer dizer – “estava escrito”.
Em 11 de Setembro de 1978 estreei em espaço próprio – num pequeno e já extinto semanário – quando comecei a dar notas sobre Carmen Mayrink Veiga – quando lia todos os dias nas bancas de Goiânia – pois a grana era curtésima, como falei aqui outro dia – as colunas do Rio, SP, Brasília e Belo Horizonte impressas nos grandes jornais da época…
Me fixava com mais tempo nas colunas de Ibrahim Sued – no “O Globo” – que tinha tiradas inesquecíveis – que só ele sabia dar. Além de ser super acessível – pois atendia – eu presumo – o telefone de qualquer pessoa que o assediasse. Com aquele humor estressado de sempre…
Ibrahim Sued é meu pai velado no colunismo social até porque tem toda similiaridade com meu pai – autêntico neto de Zahle – considerada a princesa e namorada do Líbano – tal a sua grandeza em produzir homens de ilibada conduta e bom gosto à toda prova…
Isso no mais silente regime. Ninguém fala nada. Não evidencia nada. Mas inteiramente pontuada a gente tem que pegar pelo “cheiro” no ar…
É incrível como a gente convive com isso desde do útero. E aceita o comportamento inusitado deles de cinco mil anos – pois viemos do Fenícios – bravos remadores do grande Oriente…
Meu pai nunca se deu ao trabalho conversar comigo – de homem para homem – a vida toda. Nunca me deu um conselho. Nunca perguntou do que precisava – nada…
Mas seu exemplo de homem grande – tinha mais de 1.80 de altura – de uma honestidade incontestável – de super marido devotado – nunca vi meu pai numa mesa de boteco, tomando uma cerveja. Numa ouvi falar que meu pai tinha uma namorada e nem tão pouco amante.
Nunca bateram à nossa porta em nossa modesta casa -da icônica Rua do Carmo – para de uma dívida. Reclamar de uma mercadoria vendida avariada. De um vizinho insatisfeito, etc.
Em sua sortida loja da Av Dom Prudêncio entre o Rio Vermelho e o portão dos fundos do lindo Mercado Municipal – da cidade de Goiás – mesma coisa…
Tinha seus fiéis amigos que o visitava todo os dias na hora aprazada. Era todo ouvidos – que não dava a mínima para fregueses curiosos – que estava sondando suas raras mercadorias – que só ele vendia e naturalmente sabia de onde retirar.
Era antenadíssimo e solitário à sua maneira…
Nas horas vagas não tirava o ouvido ao pé do rádio.
E a hora do “Jornal Nacional” era sagrada. Amava “Malhação” – final da tarde – quando chegava da loja…
Imagino Doutor Roberto Marinho conversando com meu pai… Iam ter assunto para o resto da vida…
Pois meu pai – Nagib Pelles – que Deus o tenho no mais alto dos céus – era um palestrante e ouvinte de primeira. E tinha uma memória de estarrecer.
Contava um caso com cadência de início, meio e fim.
Sem repetir uma palavra e uma vírgula sequer…
Era um brilhante e genuíno cronista verbal…
Eu acho – como admirador de filho isento – nunca houve um pai tão bom no mundo como o meu…
Costumeiramente silente – mas presente em todos os sentidos… pois nas horas mais incertas e remotas – era o primeiro a responder silentemente – estou aqui…
Sua figura alta e corpulenta impunha. Nunca deu um beliscão sequer em mim – mas nervoso e contrariado – sai de baixo – era como se fosse cinquenta correntes de ferro no lombo – eu corria para a casa da minha avó – sua mãe de medo – ficava três dias recluso lá – até passar a raiva.
Pois o bom libanês que se preza – jamais confrontam os pais…
Quando fui lidar com esse monstro sagrado do colunismo brasileiro – de nome Ibrahim Sued senti-me inteiramente em casa…
Pois o velho Ibra era a repetição do meu pai…
Para os grandes salões do mundo – bem entendido.
Por isso soube maravilhosamente lidar com ele.
Invadindo o seu precioso lar com Glorinha – sua glória, da vida toda – e de seus maravilhosos e inesquecíveis filhos Eduardo e Isabel Cristina Perrin – a atual rainha da Provence – mas a mesma adorável Bebel – da seção “Geração pão com cocada” – de jovens inserida na bela edição de “O Globo”.
Aliás toda a pequena e unida família Sued foi muito produtiva com a coluna.
A sempre linda e carismática Glorinha Sued passava tudo que via nas festas para a coluna.
E os dois lindos pimpolhos idem.
Depois que Isabel casou-se em setembro de 1980 – assumiu o espaço jovem – seu único brother – meu maravilhoso e único irmão – Eduardo Drumond de Sued – que foi o filho de grande personalidade mais humilde, mais elegante, mais culto e mais discreto que conheci em toda minha vida.
Foi Deus – como bom devoto melquita – que me guiou para a impecável e brilhante seara deste grande homem chamado – Ibrahim Sued – que conquistou com galhardia o bom coração do seu vital tutor – Roberto Marinho…
Confesso meus queridos leitores – que fico deveras emocionado escrevendo isso – alta madrugada – para relembrar figuras tão lindas e importantes que passaram em minha vida…
Que Deus seja louvado com as mais infinitas bênçãos da poderosa advogada Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa…
Obrigado minha mais preciosa musa – a sempre linda Sylvia Amélia de Mello Franco Chagas – a importantésima Baronesa de Waldner – a ajudar a aumentar a minha Fé – nas horas mais incertas da minha vida…
Você não sabe minha muito especial amiga o tanto que és importante para mim…
Logo mais – hoje é quarta-feira – vou à reunião da Legião de Maria, aqui na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Setor Aeroporto – em homenagem à minha mãe – Glorinha Sued e a você – minha bela e linda prima por afinidade – que os anos de um passado de ombridade e glória nos uniu.
Era bravo, positivo e naturalmente – irratadiço…
Voltando à leitura das colunas, nas bancas de revistas.
Zózimo Barrozo do Amaral – “Jornal do Brasil” – era erudito, clássico e mais cético – e consequentemente, impenetrável. Pois era extremamente tímido – que até caguejava com muito charme.
Sou amigo há muitos anos do seu único e belo filho Fernando Barrozo do Amaral.
Foi fácil aproximar dele – pois sabia da boa relação quase filial com seu ilustríssimo pai – pois fui uma espécie de fiel discípulo que o Zózimo retribuía como grande mestre…
Hoje quero fazer tudo que tiver ao meu alcance para o sempre lindo Fernandinho – em memória do grande e inesquecível Zózimo.
No sábado eu comprava “O Globo” – para ler com calma a coluna de página dupla no embrionário “Ela” – encartado no Segundo Carderno – de “Perla Sigaud” – pseudônimo da nossa consagrada Hildegard Angel – que dava banho em informação social em todos os colegas – quando elegi honradamente a sempre amada Tia Hilde – como musa inspiradora profissional…
Hoje ela voltou a lida com o esperado “retour” do “Jornal do Brasil” – sob as bênçãos do empresário – Omar Rezende Peres.
Ali na Hilde estava o grande celeiro de informação sobre Carmen Mayrink Veiga – sem falar no diário Zózimo, no “Jornal do Brasil!
A propósito – não posso deixar de agradecer de joelhos os muito saudosos Alemão – e sua mãe Dona Percides, na banca do Grande Hotel – que gentilmente deixavam eu ler as colunas ali.
Depois me mudei para a banca do Café Central – quando os filhos do distribuidor Silas – irmão poderoso do Alemão – me acolheram.
Em seguida me transferi para a banca muito famosa dos Correios – do nosso muito atencioso João – hoje dono da festejada banca Tamandaré – a mais bem frequentada de toda Goiânia.
Sem esquecer do sempre alegre e muito comunicativo Hermes – da banca Itaú, na Goiás com a Rua Dois – onde também encontrava o sempre irreverente estudante de jornalistmo – Ulisses Aesse – sendo hoje o mais festejado colunista de amenidades desse grande “Diário da Manhã”.
Voltando à nossa enfocada maior – Carmen Mayrink Veiga.
Num dia de setembro de 1979 – morando numa república de estudantes no Centro de Goiânia – encontro embaixo da minha porta um cartõzinho muito lindo com uma letra grande marcante com caneta hidrocor.
Era uma linda e singela mensagem da grande deusa CMV me agradecendo os recortes das colunas enviadas.
Por um tris não morri de tanta emoção. Era como se fosse ganhar no Loto sozinho – coisa que nunca jogo…
No verso desse belo cartão – que guardo como um troféu até hoje – vinha marcado discretamente em relevo seco – “Paul Nathan – Rio de Janeiro” – que vim a saber depois – revelado pelos amigos cariocas Sueli e Ricardo Stambowsky – que estiveram em Goiânia, para uma festa da colunista Mena Marangoni – ser a gráfica mais importante do Brasil em impressos de luxo em alto relevo – e logicamente – a mais cara também…
Pois tudo quanto é coisa de luxo é artesanal tem – obviamente – valor elevado mesmo…
Alguns anos depois seria o representante da “Paul Nathan”, em Goiânia – onde fiquei durante 34 anos. Maktub!!!
Pois bem depois disso Carmen e eu sempre nos falávamos ao telefone e por correspondência.
Na Páscoa de 1981 – hospedado no Copa – a convite seu dono e herdeiro – José Eduardo Guinle – liguei para o apartamento de CMV – quando fui atendido impecavelmente pelo seu fiel copeiro Manuel – que tinha foz empostada de locutor de rádio – disse quem era – quando ouvi a anasalada e reveladora voz de Carmen – marcando nosso encontro para o dia seguinte…
Acho chegar ao lindo hall do imponente apartamento do Morro da Viúva, de frente para o Pão de Açucar – em estratégico e icônico edifício – já notava ali a grandiosidade de Carmen – uma mulher superlativa em tudo e todos os sentidos – do apartamento gigantesco que ocupava dois edifícios – a mesa de centro de dois metros quadrados com grandes animais em prata de lei – naturalmente – de famoso artesão português – que ela colecionava com desvelo.
Uma série de quadros de Milton Dacosta – seu artista preferido. E outro tanto de retratos delas assinados por Portinari, Di Cavalcanti, do luso Pedro Leitão – que pintou as mulheres elegantes e mais famosas do mundo…
Instalado num confortabilíssimo sofá em veludo em alto relevo cor de tijolo…
Eis que surge Carmen – alta linda, com o famoso cabelão que a consagrou – vestindo uma bata “bleu eletric” – que ela mesmo rotulou e calças preta de seda – uma verdadeira deusa que me impactou – quando caí mentalmente aos seus pés.
Me deixando inteiramente à vontade – com sua maneira educada e espontânea de ser.
Conversamos gravei a entrevista com respostas contundentes e sensacionais – quando ela me deu uma foto bela de autoria do seu maquiador e fotógrafo favorito Menezes – para ilustrar a matéria – que ocupou uma página inteira de um outro semanário que trabalhava.
A partir daí nos encontramos algumas vezes.
Em 1993 quando Ibrahim Sued comemorou 40 anos de jornalismo com uma feérica recepção no Copacabana Palace ela e seu belo Tony Mayrink Veiga – que estava conhecendo ali – me convidou a sentar com eles na varanda do hotel onde estavam também a Embaixatriz Gilda Sarmanho e o colunista Wilson de Araújo Bueno, de Curitiba – também “darling” da Carmen.
Dois dias depois – já havia programado antes – naturalmente – fiz uma pequena mesa de amigas comum em torno da Carmen no restaurante, “Voilá” – que estava na moda à época – com a presença de Mirna Bandeira de Mello, Vania Badin, a sempre linda e educadérrima Fernanda Basto e o colunista Wilson de Araújo Bueno.
Na mesma época ela me convidou para irmos à Villa Venturosa, na Glória, visitar um amostra de decoração – organizada por Maria José Magalhães Pinto – mulher do dono do Banco Nacional. A encontrei em seu apartamento próximo dali – quando fomos em sua Mercedes clássica. Na volta mesmo ritual – quando ela delicadamente me mandou trazer no Copa.
Na saída do evento ela me apresentou sua bela e única filha Antônia Frering – que já conhecia por telefone – quando ela me disse que era muita amiga de Silvana de Castro Mendonça – com quem estudou na Suiça – quando adolescente. Antônia cuidava carinhosamente da sempre elegante Silvana – que era mais nova que a menina Maryrink Veiga.
Queria fazer uma entrevista com o jovem e muito avesso à badalação – Antenor Mayrink Veiga – que continuava os negócios do pai – já aposentado – quando Carmen agendou a visita – e ele me recebeu prontamente em seu lindo e austero escritório no edifício Mayrink Veiga, à rua Mayrink Veiga, no Centro do Rio – decorado pela mama Carmen.
Depois revi Carmen e Antônia – em dezembro de 1995 – no Palácio da Cidade – sede social da Prefeitura do Rio de Janeiro – antiga Embaixada Inglesa, na São Clemente, em Botafogo – em memorável noite de gala organizada pelo talento e categoria de Hildegard Angel – com direito a desfile de alta costura de Oscar de La Renta – com a presença do próprio.
Nessa época Hilde organizou uma série de elegantes eventos para seus convidados internacionais Hubert de Givenchy, Phillipe Venet, Anette e Oscar de La Renta, Eleanor Lambert – a célebre Relações Públicas, que criou a Lista das Mulheres Mais Elegantes do Mundo, deixando em testamento para continuação com a revista americana “Vanity Fair” – que lamentavelmente não tem o apelo de antes. Com as suas atrizes, cantoras, esportistas sem a menor referência social de categoria…
Eles vieram ao Brasil para sacramentar o Instituto Zuzu Angel de Moda – prestes a ser brevemente aberto em sede própria e em grandíssimo estilo – como é do seu feitio da sempre tarimbada Hildegard Angel.
Aliás, numa época não muito distante os mitos sociais – como CMV, Thereza de Souza Campos, Lourdes Catão, Elisinha Moreira Salles, Lily Marinho, as elegantérrimas e discretíssimas manas Vivi Nabuco e Nininha de Magalhães Lins eram ícones consagradados – notáveis personalidades. Capas de revista e conteúdo – como “Cruzeiro”, “Manchete”, “Sombra”, “Rio Magazine”.
Quando praticamente todos os mortais do Brasil compravam essas publicações para saber com quem elas se vestiam, se penteavam.
Apreciar suas joias, suas casas, suas recepções, a educação dos filhos.
E elas se esmeravam naturalmente. Pois todas eram bem nascidas, bem criadas na mais rígida educação a si e ao próximo – lamentavelmente tão em desuso hoje em dia.
Suas saídas em lugares públicos eram por demais admiradas – mais que uma celebridade de cinema, ópera etc.
Para vocês terem uma ideia de sofisticação e categoria dessa epoca na bela e moderna casa da Gávea – onde é hoje o Instituto Moreira Salles, no Rio – mandada construir por seu dono o grande gentleman, Embaixador, Ministro e banqueiro, leia-se hoje Itaú/Unibanco – Walther Moreira Salles – para sua elegante e muito traquejada Elisinha Moreira Salles – que foi Hall of Fame – de Eleanor Lambert –
A vida mudou. Encolheu com tudo hoje em dia. Ainda mais agora de grande restauro da malsinada era petista onde quase fomos à bancarrota.
Carmen ficou presa a uma cadeira de rodas – por causa de uma longa enfermidade óssea, mas nunca perdeu o natural bom humor, a classe e a grande categoria que a consagrou.
Foi belamente amparada pela sempre gentil jornalista Hildegard Angel – que esteve sempre presente com Carmen – principalmente nessa derradeira hora.
Seu penúltimo aniversário – Hilde organizou com a sempre linda Andrea Natal – impecável diretora do novo Belmond Copacabana Palace – um belo almoço de lugares marcados – em grande mesa na “Biblioteca” do hotel – antiga recepção do Anexo que se transformou em lugar exclusivo para eventos.
Vale registro à bela crônica que sua neta primeira – a sempre linda e muito educada – Maria Frering – escreveu para sua elegante avó na “Vogue”…
Foi-se Carmen Mayrink Veiga a grande dama da sociedade brasileira que encantou o mundo com sua forte e marcante personalidade.
Seu grandioso bom gosto – tudo lindo e superlativo com uma bela taurina – que soube viver magnificamente em grande estilo.
P.S.: Uma semana antes de Carmen partir esteve em meu apartamento a televisiva e amiga próxima Mena Marangoni filmando um novo quadro para o seu festejado programa “Segredo do Sucesso” – quando me dedicou um programa inteiro. Deixou bem frisado para eu contar tudo sobre a minha amizade de quase 40 anos a com a grande e inesquecível Carmen Mayrink Veiga… Dias depois desse muito agradável encontro, sete dias depois – chega o adeus desse grande mito ao mundo terreno… e este velho escriba aqui nesse moderno teclado chora sua alma iluminada… Esteja sempre com Deus e Santa Terezinha do Menino Jesus – sua santa de devoção – minha sempre linda e eternamente querida – “Carmencita” dos Mayrink Veiga.
(Jota Mape, jornalista – jma[email protected])