Opinião

Casa das Relíquias (parte 1)

Diário da Manhã

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 17:45 | Atualizado há 4 anos

Não sei bem o porquê, após certa idade, passei a ter minha casinha de morar como refúgio do que penso, escrevo e ouso executar. Mais propriamente, como o local de inesquecíveis recordações onde devo guardar as minhas relíquias. É curioso, pois eu sei que não sou parte do corpo de nenhum santo; nem qualquer objeto que pertenceu a um deles, fazendo parte do seu suplício; nem uma coisa preciosa, rara ou antiga (84 anos é só o início da quarta idade); muito menos anotação do que não se pode esquecer, justificando que o meu lugar de morar e apreciar as delícias da vida (Deus me livre do tinhoso), se chame Casa das Relíquias ou das Lembranças, sinônimos quase perfeitos. Eis como gostaria se chamasse a minha Casa, exibindo o meu nome, aqui em Mineiros, no centrinho da cidade. E notem que poderia receber outros nomes, como: Instituto, Centro Cultural ou o ousado refúgio intelectual pedagógico do advogado-escritor, se assim puder me definir. 

Creio que o desejo exposto tenha como causa essencial as coisas que guardo na minha intimidade, as coisas que o povo diz e as que acolho no interior sagrado de minha Casa, onde a que mais me comove é o olhar melancólico da Chica querendo me abraçar sem poder fazê-lo num leito patológico irreversível, na pandemia chamado letal. Esse deve ser o tal amor calado, o que não pode dizer o que sente, desafiando minha paciência e minha tolerância, nunca tão alcançadas pelo sentimento dos impotentes. Nunca me vi mais frágil ou desafiado cá nos meus anseios subjetivos. Nunca me vi mais cercado de aspirações sobrenaturais como nesse instante dos 84 anos, iminência dos 85. Certamente querendo saber porque existo num tempo de tantos transtornos mentais. Por que será?  

O jeito é retomar o tema das relíquias, tendo como uma delas a Biblioteca “Mariano José/Maria Isabel Silva”, com aproximados sete mil volumes, catalogados, classificados por assunto, numerados, homenageando meus pais. Uma das minhas relíquias preferida na intimidade da casa, onde 150 são dicionários, especializados, destacados pelo Dicionário de Política, do notável Norberto Bobbio, Nicola Matteucci/Gianfranco Pasquino, certamente o mais rico e completo na história universal; sendo de se imaginar o de Cachaça, de Boguady, o de Escravidão, de Clovis Moura, O Grande Livro de Nomes de Bebês e outros mais que, de tão especiais, deixo para decliná-los depois… Sabem ainda a razão? É que o dia 13 de agosto é o Dia Nacional da Arte, quando encerro este texto. 

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