Celg: privatizar é a saída
Redação DM
Publicado em 16 de fevereiro de 2016 às 01:16 | Atualizado há 10 anos
Vou transpondo a Rua 115, Setor Sul, de carro como faço normalmente quando vou ao trabalho. Na frente, uma caminhoneta. Imagino que seja de algum fazendeiro. Quando vejo o adesivo pregado no vidro traseiro, desfaço o meu pensamento. Leio: “Celg – Contra a venda de maior joia de Goiás. Privatizou, piorou, encareceu.”
Não pode ser do fazendeiro porque ele é um dos mais prejudicados com a situação atual da empresa estatal de energia elétrica no Estado. Por causa de cobranças consideradas injustas, mais de 70 mil produtores vinculados à Federação da Agricultura recorreram à justiça em Goiânia. O José Mário Schreiner, presidente da Faeg, que o diga.
Os irrigantes são prejudicados com uma energia cara. Os produtores com muita freqüência têm que jogar o leite fora porque faltou energia. A história se repete com as frutas, as hortaliças e outros produtos. É triste um resultado de perda de lácteos, por exemplo, na geladeira, no freezer ou na câmara frigorífica. Com a carne se dá o mesmo. E as aves nos viveiros que precisam de refrigeração?
Na mão do Estado, certas prestações de serviços não funcionam. É a burocracia que emperra e que impede o pulo do gato. Sem falar na costumeira corrupção, o empreguismo e a carência de recursos humanos preparados. A privatização no Brasil tem correspondido. Muito criticado pelos petistas, a Dilma tem se utilizado das concessões nas ferrovias e rodovias. É alguma evolução.
Fernando Collor (1990-1992) foi o primeiro presidente brasileiro a adotar as privatizações como parte de seu programa econômico, ao instituir o PND (Programa Nacional de Desestatização) pela Lei nº 8.031, de 1990. Com isso, foram vendidas 34 estatais e 32 participações minoritárias, incluindo parte da indústria siderúrgica.
O programa de privatizações executado durante o governo Itamar Franco (1992-1995) abrangeu a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a qual foi um marco pioneiro da presença do Estado na economia.
Fernando Henrique Cardoso, um homem forjado na esquerda acadêmica, percebeu a tempo que as estatizações estavam arruinando o Brasil. Teve a visão e a coragem de privatizar algumas empresas. Empresas públicas, como a Companhia Vale do Rio Doce, a Embraer e a Telebrás, foram privatizadas.
A indústria do aço precisava de 115 mil trabalhadores para produzir 22,6 milhões de toneladas em 1990. Seis anos depois, sua produção ascendeu a 25,2 milhões de toneladas, com apenas 65 mil trabalhadores.
Quando a telefonia era pública, comprar uma linha telefônica representava um sacrifício, espera na fila por longos meses. Hoje, com a privatização da Telebrás e criação de várias empresas no ramo, o uso do telefone foi democratizado. A pessoa interessada num celular ou qualquer assemelhado pode se dirigir a uma loja e estará integrado a uma rede telefônica. Sem problema. Na hora.
O empreguismo cedeu lugar a um profissionalismo invejável e à adoção de uma tecnologia de ponta. Algo de primeiro mundo.
A Embraer, que vivia numa inanição terrível, desacreditada e somente servia a cabide de empregos. Privatizada, é orgulho nacional. Compete com as companhias do ramo, faz-se presente em dezenas de países. De suas fábricas, saem aviões comerciais de pequeno e médio porte. Dispõe de aviões com 120 assentos e tornou-se a terceira maior fabricante mundial e jatos comerciais. É também a terceira maior exportadora do Brasil, perdendo apenas para a Petrobras e a Vale.
Numa breve análise, sem rodeios, demonstramos a importância das privatizações em diferentes governos. A contenção de gastos que a sociedade, sobretudo a que paga impostos, faz. E lembrar que não teci considerações sobre a corrupção na empresa pública. A Petrobras é um exemplo dos desmandos e com a sua criação por Getúlio Vargas constituiu orgulho nacional.
Agora, uma campanhazinha contra a privatização da Celg com slogan esdrúxulo, ridículo.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel e editor de Agroindústria do Diário da Manhã)