Opinião

Comércio mundial à espera do TFA

Redação DM

Publicado em 27 de abril de 2016 às 00:37 | Atualizado há 9 anos

SÃO PAU­LO – Da par­te do Bra­sil, já na­da im­pe­de que o Acor­do de Fa­ci­li­ta­ção do Co­mér­cio (Tra­de Fa­ci­li­ta­ti­on Agre­e­ment, TFA, na si­gla em in­glês), da Or­ga­ni­za­ção Mun­di­al do Co­mér­cio (OMC), en­tre em fun­cio­na­men­to, de­pois da as­si­na­tu­ra de car­ta da ra­ti­fi­ca­ção pe­la pre­si­den­te Dil­ma Rous­seff, ao fi­nal de mar­ço. Mas, pa­ra que o acor­do en­tre vi­gor, é pre­ci­so que dois ter­ços dos mem­bros da OMC, ou se­ja, 108 paí­ses, ve­nham a ra­ti­fi­car o acor­do.

Fir­ma­do em Ba­li, na In­do­né­sia, du­ran­te a Con­fe­rên­cia Mi­nis­te­ri­al de de­zem­bro de 2013, o tra­ta­do, que vi­sa à des­bu­ro­cra­ti­za­ção do co­mér­cio ex­te­ri­or e à eli­mi­na­ção de bar­rei­ras ad­mi­nis­tra­ti­vas, já é con­si­de­ra­do his­tó­ri­co por ser o pri­mei­ro acor­do co­mer­cial glo­bal em 20 anos. Seu tex­to pre­vê me­di­das vol­ta­das à mo­der­ni­za­ção da ad­mi­nis­tra­ção adua­nei­ra, bem co­mo ra­pi­dez e sim­pli­fi­ca­ção de pro­ce­di­men­tos re­la­ci­o­na­dos ao co­mér­cio ex­te­ri­or.

Co­mo se sa­be, na mai­o­ria das na­ções, os trâ­mi­tes adua­nei­ros são com­ple­xos e pou­co tran­spa­ren­tes, re­pre­sen­tan­do bar­rei­ras não-ta­ri­fá­rias ao co­mér­cio. Se o TFA sa­ir mes­mo do pa­pel, os go­ver­nos te­rão à dis­po­si­ção os mei­os mais efi­ca­zes de com­ba­te à cor­rup­ção, além de con­di­ções de co­lo­car em prá­ti­ca me­di­das que con­tri­buam pa­ra a re­du­ção de cus­tos ope­ra­ci­o­nais, in­clu­si­ve pa­ra os se­to­res pri­va­dos.

Ana­li­san­do-se o acor­do, per­ce­be-se que sua pri­mei­ra se­ção dis­põe so­bre me­di­das pa­ra ace­le­rar a mo­vi­men­ta­ção, li­be­ra­ção e o de­sem­ba­ra­ço de bens, in­clu­si­ve de mer­ca­do­ri­as em trân­si­to. Já a se­gun­da se­ção é cons­ti­tu­í­da por nor­mas de tra­ta­men­to es­pe­ci­al que per­mi­tem aos paí­ses em de­sen­vol­vi­men­to e me­nos de­sen­vol­vi­dos de­ter­mi­nar o mo­men­to em que fa­rão a im­ple­men­ta­ção de re­gras es­pe­cí­fi­cas do FTA em seus or­de­na­men­tos ju­rí­di­cos. Por fim, a úl­ti­ma se­ção con­tém nor­mas que es­ta­be­le­cem um co­mi­tê per­ma­nen­te so­bre fa­ci­li­ta­ção do co­mér­cio na OMC e exi­gem que os mem­bros da or­ga­ni­za­ção te­nham um co­mi­tê na­ci­o­nal pa­ra fa­ci­li­tar a co­or­de­na­ção in­ter­na e im­ple­men­ta­ção das dis­po­si­ções do acor­do.

Com o TFA, a OMC pre­vê uma re­du­ção de 14,3% nos cus­tos do co­mér­cio glo­bal. Mais: es­ti­ma que ha­ja um au­men­to de até US$ 1 tri­lhão nas ex­por­ta­ções glo­bais anua­is. Se­gun­do a OMC, o acor­do vai per­mi­tir que as ex­por­ta­ções dos paí­ses em de­sen­vol­vi­men­to cres­çam anual­men­te en­tre US$ 170 bi­lhões e US$ 730 bi­lhões. Já os paí­ses de­sen­vol­vi­dos ve­rão su­as ex­por­ta­ções cres­ce­rem em até US$ 580 bi­lhões por ano. Ou se­ja, o acor­do de­ve­rá im­pul­si­o­nar em 2,7% a al­ta das ex­por­ta­ções mun­di­ais por ano, pro­vo­can­do um acrés­ci­mo de 0,5% no cres­ci­men­to do Pro­du­to In­ter­no Bru­to (PIB) glo­bal.

Com tan­tos be­ne­fí­ci­os pre­vis­tos, não se en­ten­de por que se de­mo­ra tan­to pa­ra que o tra­ta­do en­tre efe­ti­va­men­te em vi­gor. Afi­nal, já lá se vão qua­se dois anos e meio des­de a re­u­ni­ão em Ba­li que cri­ou o TFA. A úl­ti­ma con­ta­gem, con­for­me se po­de cons­ta­tar no si­te da OMC (www.wto.org), mos­tra que, com a ade­são da Ín­dia e da Rús­sia, a 22 de abril de 2016, até ago­ra, 77 dos 162 mem­bros ra­ti­fi­ca­ram o acor­do. Quer di­zer, ain­da fal­tam 31. Nes­se rit­mo, tal­vez ao fi­nal de 2017 se­ja al­can­ça­do o nú­me­ro mí­ni­mo. Até lá, ha­ja pa­ci­ên­cia…

 

(Mil­ton Lou­ren­ço, pre­si­den­te da Fi­or­de Lo­gís­ti­ca In­ter­na­ci­o­nal e di­re­tor do Sin­di­ca­to dos Co­mis­sá­rios de Des­pa­chos, Agen­tes de Car­gas e Lo­gís­ti­ca do Es­ta­do de São Pau­lo (Sin­di­co­mis) e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal dos Co­mis­sá­rios de Des­pa­chos, Agen­tes de Car­gas e Lo­gís­ti­ca (ACTC). E-mail: fi­or­de@fi­or­de.com.br. Si­te:www.fi­or­de.com.br)

 

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