Opinião

Conquistas do gênero humano

Redação DM

Publicado em 25 de janeiro de 2017 às 01:32 | Atualizado há 8 anos

Todas as invenções ou descobertas devem ser creditadas como conquistas do gênero humano.

Ora todos nós, independente de nossa nacionalidade, direta ou indiretamente, com os nossos fazeres, saberes, de certa forma contribuímos para a sua consecução.

Não há lugar para nacionalismos arraigados nesse campo das conquistas. Ora, se as civilizações contribuíram, muito natural que todas elas gozem de suas vantagens.

Todo o ser humano ama e amará as inovações, seja de onde elas vierem, quer da Rússia, Alemanha, França, E.U.A., Oriente, que são inovações para o bem comum.

“No man is an island” (nenhum homem é uma ilha isolada), como diz aquele poema metafísico, Medidation XVII, de John Donne.

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa  dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.

Se tu iventas, se tu descobres coisas novas, irmão estrangeiro, eu igualmente invento, eu igualmente descubro coisas novas, por eu fazer parte do mesmo gênero humano, por eu ser feito da mesmíssima carne corruptível de que tu és feito.

As sociedades devem evoluir juntas, tendo em vista a felicidade geral. Utopia?

Quando os árabes, justiça seja devida, pensando no bem da humanidade, e não no seu próprio umbigo, difundiram no ocidente os algarismos arábicos, não se preoucuparam em se fechar, não, em  orgulhos nacionalistas, autóctones, nem atavismos, não, fizeram-no franca e abertamente, pensando só no que disso podia advir para o progresso das pessoas. Pensando só no que disso podia advir para o desenvolvimento da matemática e ciências exatas. A gente se lembra agora que, antes da introdução dos algarismos arábicos, a matemática ocidental era puramente geometria. Uma matemática sem números.

Urge construir pontes e não muros entre as culturas. Mais pontes ainda nestes áureos tempos de globalização. As sociedades atuais sentem imperiosa necessidade de se integrar.

Se os árabes difundiram é porque a difusão devia e deve ser soberana.

“Os antropólogos estão convencidos de que, sem a difusão, não seria possível o grande desenvolvimento atual da humanidade.” Sentencia Roque de Barros Laraia em sua obra, Cultura, Um Conceito Antropológico.

O antropólogo brasileiro Roque de Barros Laraia registra em sua obra, Cultura, Um Conceito Antropológico, que, num tempo no qual os norte-americanos viviam um surto impressionante de desenvolvimento material, e os sentimentos gerais faziam acreditar que grande parcela desse desenvolvimento se devia ao esforço autóctone, Ralph Linton escreveu um admirável texto sobre a manhã do homem norte-americano.

Leiam, para exemplificar, um trecho dele:

O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China. (…) Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e norte-americanas…

Sem a difusão cultural, cremos fervorosamente, não seria possível sequer a expansão marítima dos séculos XIV, XV e XVI.

Inspirando-se a gente no admirável texto do antropólogo Ralph Linton, tão oportunamente lembrado no livro de Laraia, podia cá recordar que a expedição vitoriosa de Cristóvão Colombo zarpou, a 3 de agosto de 1492, de Palos de la Frontera, em Espanha, rumo ao desconhecido, sem saber o que lhe reservava o destino, a bordo de três caravelas, que são sabidamente uma invenção portuguesa; sabemos que as caravelas orientavam-se, naquele oceano quase sem-fim, através de uma pequena bússola, ou agulha de marear, instrumento concebido originalmente na China, século I, d.C.; bem como situavam-se, naquela interminável planície líquida, através de um outro instrumento fabuloso chamado astrolábio, que identifica a latitude e a longitude, e é o resultado prático de teorias matemáticas formuladas entre sábios gregos da antiguidade. Ou por meio de um outro mecanismo chamado balestilha, aparelho inspirado em um outro aparelho bem similar, o kamal, inventado pelos mouros. Sem falar do quadrante, desenvolvido certamente pelos antigos clássicos, nem da ampulheta, que servia para marcar o tempo das viagens marítimas, aparelho concebido pelo monge Luitprand, século VIII, d. C., nascido na comuna francesa de Chartres.

Em tempo: sabemos ainda que, muito provavelmente, os nautas mediam a velocidade das caravelas em nós, unidade de medida introduzida pelo engenho dos marinheiros portugueses.

Importa acrescentar ainda, correndo, uma vez que este escrito ameaçar findar, no “em tempo”, que, de quando em quando, o almirante Colombo cosultava aqueles mapas ou velhas cartas náuticas, que ficaram célebres com o nome de portulanos e começaram a ser confeccionadas nas cidades de Pisa e Gênova, Itália, século XIII.

Afinal todos esses povos, portugueses, chineses, gregos, mouros, árabes, franceses, que não tomaram parte diretamente da expedição de Colombo, contribuíram indiretamente, com os seus maravilhosos inventos, descobertas, para a conquista da América. Aí está a razão pela qual a difusão é tão importante para o progresso das sociedades.

 

(Pedro Nolasco de Araujo, mestre, pela PUC-Goiás em Gestão do Patrimônio Cultural, advogado, membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI)

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