Opinião

Considerações em torno da prisão de Maluf

Redação DM

Publicado em 21 de dezembro de 2017 às 21:46 | Atualizado há 7 anos

A pri­são de Pau­lo Sa­lim Ma­luf, de­ci­di­da pe­lo mi­nis­tro Lu­iz Ed­son Fa­chin, do Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral, su­ge­re vá­ri­as con­si­de­ra­ções. A pri­mei­ra de­las é o ca­rá­ter se­rô­dio da me­di­da. Já há mais de dez anos o ex-go­ver­na­dor de São Pau­lo ha­via si­do re­co­lhi­do a pri­são jun­ta­men­te com seu fi­lho Flá­vio. O en­tão mi­nis­tro Car­los Ve­lo­so, do STF, fal­tan­do 30 di­as pa­ra se apo­sen­tar, con­ce­deu ha­be­as cor­pus aos dois, em de­ci­são que ele mes­mo re­co­nhe­ceu ser con­fli­tan­te com sú­mu­la da nos­sa mais al­ta Cor­te de Jus­ti­ça. Al­gum tem­po de­pois o mi­nis­tro Gil­mar Men­des con­ce­de igual be­ne­fí­cio a Ma­luf em ou­tro pro­ces­so. As­sim o de­pu­ta­do do PP, ape­sar da gra­vi­da­de das acu­sa­ções e das con­de­na­ções con­tra ele, se viu sem­pre be­ne­fi­ci­a­do pe­lo STF. Ago­ra quan­do ele já con­ta 86 anos de ida­de e es­tá ata­ca­do por cân­cer em es­ta­do agu­do, ocor­re o ve­re­di­to de Fa­chin cu­jo cum­pri­men­to as con­di­ções de sa­ú­de Ma­luf pro­va­vel­men­te im­pe­di­rão.

Con­si­de­ra­ção que se im­põe em fa­ce des­se epi­só­dio diz res­pei­to à ne­ga­ção de es­crú­pu­los e afir­ma­ção de prá­ti­cas de­so­nes­tas de gran­de nú­me­ro dos res­pon­sá­veis pe­lo gol­pe ci­vil de 2016. Ma­luf é um de­les, co­mo se sa­be. E ao la­do de­le te­mos Eduar­do Cu­nha, que cum­pre pri­são há al­guns mes­es. Foi es­se par­la­men­tar e lí­der evan­gé­li­co uti­li­za­do pe­los ar­qui­te­tos do gol­pe co­mo um dos im­por­tan­tes ins­tru­men­tos pa­ra a sua con­se­cu­ção. Eduar­do Cu­nha era o pre­si­den­te da Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos e co­mo tal pe­ça das mais re­le­van­tes pa­ra a de­ci­são con­gres­su­al que re­sul­tou na co­lo­ca­ção de Mi­chel Te­mer na pre­si­dên­cia da Re­pú­bli­ca. No elen­co dos gol­pis­tas es­ta­va tam­bém Ro­me­ro Ju­cá que tem con­tra si na­da me­nos do que oi­to pro­ces­sos que não an­dam. No mes­mo ti­me Hen­ri­que Al­ves, es­te já con­de­na­do. O Sr. Aé­cio Ne­ves, con­tra quem exis­tem pe­sa­das acu­sa­ções, tam­bém con­tri­bu­iu com seu con­cur­so pa­ra que a de­mo­cra­cia bra­si­lei­ra so­fres­se ter­rí­vel vi­li­pên­dio com a as­cen­são ao co­man­do dos des­ti­nos po­lí­ti­cos e ad­mi­nis­tra­ti­vos do pa­ís do que há de pi­or nos qua­dros par­ti­dá­rios. E mui­tos ou­tros no­mes po­de­ri­am ser acres­ci­dos ao rol de ines­cru­pu­lo­sos gol­pis­tas.

A con­sci­ên­cia, pois, que o po­vo bra­si­lei­ro de­ve ter do que o gol­pe ci­vil de 2016 re­pre­sen­ta é es­ta: a gran­de ví­ti­ma é a de­mo­cra­cia bra­si­lei­ra. Por­que es­ta foi avil­ta­da e fi­cou à mer­cê de dois co­le­gi­a­dos des­ti­tu­í­dos de au­to­ri­da­de mo­ral. A Câ­ma­ra Fe­de­ral tem 179 dos seus in­te­gran­tes a fi­gu­rar co­mo réus em ações pe­nais; e no Se­na­do há 31 dos seus in­te­gran­tes em idên­ti­ca si­tu­a­ção. É pro­fun­da­men­te en­tris­te­ce­dor que o re­gi­me po­lí­ti­co de nos­sa Re­pú­bli­ca de­pen­da de co­le­gi­a­dos tão vul­ne­rá­veis e tão in­dig­nos das re­le­van­tís­si­mas res­pon­sa­bi­li­da­des que lhes são cons­ti­tu­ci­o­nal­men­te atri­bu­í­das.

E o pi­or é que uma par­te do Po­der Ju­di­ci­á­rio es­tá a to­mar de­ci­sões que não são dig­nas das su­as atri­bu­i­ções. O que mo­no­cra­ti­ca­men­te e em al­guns ca­sos co­le­gi­a­da­men­te as­sis­te-se a de­ci­sões que cho­cam pe­lo seu ca­rá­ter po­lí­ti­co fac­cio­so.

Quan­do o Bra­sil re­to­ma­rá ru­mos ver­da­dei­ra­men­te de­mo­crá­ti­cos?

É uma in­ter­ro­ga­ção ver­da­dei­ra­men­te cru­ci­an­te.

 

(Eu­ri­co Bar­bo­sa, es­cri­tor, mem­bro da AGL e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal de Es­cri­to­res, ad­vo­ga­do, jor­na­lis­ta e es­cre­ve nes­te jor­nal às quar­tas & sex­tas-fei­ras – E-mail: eu­ri­co_bar­bo­sa@hot­mail.com)

 

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