Opinião

Crime cultural contra frei Confaloni no centenário do seu nascimento 

Diário da Manhã

Publicado em 23 de junho de 2017 às 22:48 | Atualizado há 8 anos

 

A obra de frei Na­za­re­no Con­fa­lo­ni, do­mi­ni­ca­no, no Se­tor Coim­bra (Go­i­â­nia – GO) é um con­jun­to ar­qui­te­tô­ni­co que in­clui a Igre­ja São Ju­das Ta­deu (cons­tru­í­da en­tre 1959 – 1965) e a Pra­ça com o mes­mo no­me. Agre­din­do a Igre­ja es­tá se agre­din­do a Pra­ça e agre­din­do a Pra­ça es­tá se agre­din­do a Igre­ja. O que há ho­je é uma agres­são à Igre­ja e à Pra­ça ao mes­mo tem­po. Tra­ta-se de um cri­me cul­tu­ral con­tra Frei Con­fa­lo­ni, no ano do seu cen­te­ná­rio de nas­ci­men­to. Tra­ta-se de um ver­da­dei­ro van­da­lis­mo, que re­ve­la a to­tal fal­ta de sen­si­bi­li­da­de ar­tís­ti­ca por par­te dos res­pon­sá­veis pe­la agres­são.

Quer-se trans­for­mar a Pra­ça in­tei­ra num es­ta­cio­na­men­to fe­cha­do. A to­dos e to­das que têm um mí­ni­mo de bom sen­so, per­gun­to: dá pa­ra ima­gi­nar a Igre­ja de Frei Con­fa­lo­ni den­tro de um es­ta­cio­na­men­to fe­cha­do? Quer-se tam­bém cons­tru­ir gal­pões (já ini­ci­a­dos) “co­la­dos” às pa­re­des e às ram­pas da Igre­ja. No­va­men­te per­gun­to: dá pa­ra ima­gi­nar a Igre­ja de Frei Con­fa­lo­ni com gal­pões “co­la­dos” às pa­re­des e ram­pas da pró­pria Igre­ja? Tu­do is­so que es­tá acon­te­cen­do é um ab­sur­do in­con­ce­bí­vel.

An­tes da agres­são, su­bin­do as ram­pas da Igre­ja, ti­nha-se a sen­sa­ção de le­vi­tar, pas­san­do do jar­dim da Ter­ra (Pra­ça) pa­ra o jar­dim do Céu (Igre­ja). Era um mo­men­to agra­dá­vel de con­tem­pla­ção. Com a agres­são (em an­da­men­to), su­bin­do as ram­pas da Igre­ja, tem-se a sen­sa­ção de se de­fron­tar com o te­lha­do dos gal­pões. É um mo­men­to de­sa­gra­dá­vel de po­lu­i­ção vi­su­al.

Di­an­te des­sa gra­vís­si­ma agres­são a um pa­tri­mô­nio cul­tu­ral de Go­i­â­nia (que é tam­bém de Go­i­ás, do Bra­sil e do mun­do), fa­ço dois pe­di­dos.

O pri­mei­ro é di­ri­gi­do aos ar­tis­tas, ar­qui­te­tos, pai­sa­gis­tas e ur­ba­nis­tas de Go­i­â­nia. Or­ga­ni­zem um mo­vi­men­to de re­sis­tên­cia e não dei­xem acon­te­cer ta­ma­nha agres­são – que en­ver­go­nha a ci­da­de de Go­i­â­nia – con­tra o pa­tri­mô­nio cul­tu­ral de Frei Con­fa­lo­ni.

O se­gun­do pe­di­do é di­ri­gi­do ao Se­cre­tá­rio Mu­ni­ci­pal de Cul­tu­ra de Go­i­â­nia, Kle­ber Ador­no, pa­ra que to­me com ur­gên­cia as pro­vi­dên­cias ca­bí­veis.

Se­cre­tá­rio, sa­ben­do de seu in­te­res­se pe­la ques­tão da cul­tu­ra, su­gi­ro que:

  1. De­cre­te – em ho­me­na­gem ao cen­te­ná­rio de nas­ci­men­to de Frei Con­fa­lo­ni, ar­tis­ta plás­ti­co e pin­tor re­co­nhe­ci­do na­ci­o­nal e in­ter­na­cio­nal­men­te – o tom­ba­men­to ime­di­a­to, em ní­vel mu­ni­ci­pal, do con­jun­to ar­qui­te­tô­ni­co, Igre­ja e Pra­ça S. Ju­das Ta­deu; so­li­ci­tan­do às au­to­ri­da­des com­pe­ten­tes que em­bar­guem os tra­ba­lhos de agres­são ini­ci­a­dos;
  2. Crie uma Co­mis­são (com­pos­ta de ar­tis­tas, ar­qui­te­tos, pai­sa­gis­tas e ur­ba­nis­tas) com a in­cum­bên­cia de fa­zer um es­tu­do so­bre o pro­je­to ori­gi­nal do con­jun­to ar­qui­te­tô­ni­co de Frei Con­fa­lo­ni (Igre­ja e Pra­ça);
  3. Re­cu­pe­re – a par­tir do es­tu­do fei­to pe­la Co­mis­são – o pro­je­to ori­gi­nal do con­jun­to ar­qui­te­tô­ni­co de Frei Con­fa­lo­ni;
  4. Re­vi­ta­li­ze a Pra­ça – sem­pre a par­tir do es­tu­do fei­to pe­la Co­mis­são – com área ver­de, cal­ça­das, ban­cos (em for­ma de cír­cu­lo ou de qua­dra­do) e o mai­or nú­me­ro pos­sí­vel de va­gas pa­ra es­ta­cio­na­men­to.
  5. In­cor­po­re ao con­jun­to ar­qui­te­tô­ni­co de Frei Con­fa­lo­ni so­men­te os acrés­ci­mos pos­te­rio­res que não agri­dem o pro­je­to ori­gi­nal, mas ser­vem pa­ra lhe dar mai­or des­ta­que e, ao mes­mo tem­po, pa­ra aten­der às ne­ces­si­da­des de es­pa­ço fí­si­co da Pa­ró­quia.

Apro­vei­to a opor­tu­ni­da­de pa­ra pe­dir que se­ja tom­ba­da tam­bém, em ní­vel mu­ni­ci­pal, a an­ti­ga Igre­ji­nha São Ju­das Ta­deu (Rua 242, ao la­do da Pra­ça, on­de atu­al­men­te fun­cio­na a Se­cre­ta­ria da Pa­ró­quia), cu­ja cons­tru­ção é an­te­ri­or à vin­da a Go­i­â­nia de Frei Con­fa­lo­ni e que – re­con­du­zi­da ao seu es­ti­lo ori­gi­nal – va­lo­ri­za a his­tó­ria, a cul­tu­ra e a re­li­gi­o­si­da­de do nos­so po­vo.

Ter­mi­no com a cer­te­za que, di­an­te do ex­pos­to, o Se­cre­tá­rio Mu­ni­ci­pal da Cul­tu­ra, Kle­ber Ador­no, fa­rá tu­do o que es­ti­ver em su­as pos­si­bi­li­da­des pa­ra pre­ser­var o pa­tri­mô­nio ar­tís­ti­co e cul­tu­ral de Frei Con­fa­lo­ni. O Di­rei­to à Cul­tu­ra faz par­te dos Di­rei­tos Hu­ma­nos e de­ve ser pro­mo­vi­do.

(Leia tam­bém na in­ter­net a mi­nha “Car­ta aber­ta aos ir­mãos e ir­mãs da Pa­ró­quia S. Ju­das Ta­deu e a quem pos­sa in­te­res­sar”).

 

(Fr. Mar­cos Sas­sa­tel­li, fra­de do­mi­ni­ca­no, dou­tor em Fi­lo­so­fia (USP) e em Te­o­lo­gia Mo­ral (As­sun­ção – SP), pro­fes­sor apo­sen­ta­do de Fi­lo­so­fia da UFG, E-mail: mpsas­sa­tel­[email protected])


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