Cristo e Barrabás
Diário da Manhã
Publicado em 6 de abril de 2017 às 01:50 | Atualizado há 8 anos
No domingo, montado em jumento emprestado, Jesus entrou em Jerusalém sob ovação popular. Queriam atapetar o caminho, mas tapete não havia, então o forraram com folhas de árvores e mantos. E o povo bradava: “Hosana nas alturas, bendito aquele que vem em nome do Senhor!”. Reconheciam, pois, ser ele o Verbo Encarnado, o único caminho para o Pai, a Verdade, a Vida. Discurso escandaloso esse, mas parte do povo o adotou.
Naquela mesma semana, os “homens de bem” o prenderam. Prenderam-no porque temiam que ele lhes furtasse o poder. Fizeram-no para linchá-lo morql e fisicamente. Como não tinha culpa, suas virtudes se tornaram culpas. Conduziram-no a Pilatos.
Era época de indulto e o povo – ou a massa – o concedia ou o negava. Pilatos era juiz e queria praticar a justiça e esta implicava em libertá-lo. Veio-lhe a esposa e o estimulou, em vão, a ser justo. Em vez de dar a sentença, chamou para si o papel de defensor, mas não lhe deu ouvidos a massa. Como todo magistrado vulgar, preferiu o apoio da opinião pública à lei e sobretudo à justiça. Então mandou trazer o marginal Barrabás que cumpria pena de prisão. Trouxeram-lhe o pobre Barrabás( todos, ali, menos Cristo, eram paupérrimos. Ele era a Riqueza, ele é a Riqueza). Dar-se-iam os votos por aclamação. E Pilatos perguntou-lhes:
– Solto Cristo, o inocente, ou Barrabás, o culpado?
De forma uníssona, clamaram:
– Solte Barrabás! Viva Barrabás!
– E Cristo?
– Seja crucificado!
– Mas ele é inocente!
Inocente, mas inconveniente.
– Metam-no na cruz!
E o juiz mesquinho, não podendo lavar a alma assassina lavou as próprias mãos como se água fosse capaz de extirpar o remorso.
Barrabás foi para a liberdade; Cristo, para o Gólgora, corpo massacrado de pancadas e chibatadas, com sede e feridas externas e internas. Pregos vazaram suas mãos que distribuíram pães e peixes, mãos que abençoaram e consolaram. Entre dois ladrões os grandes ladrões o deixaram pendurado no madeiro. E Barrabás sorria sob aplausos.
(Filadelfo Borges de Lima, 72 anos, natural de Jataí, reside em Rio Verde há 44 anos. Autor de vários livros, patrono da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”. Aposentado no Fisco estadual, integra o Sindifisco/GO e a Affego.Maçom grau 33.)