Da “incompetenta presidenta” Dilma ao “ensaboado” Michel Temer
Redação DM
Publicado em 13 de julho de 2016 às 01:55 | Atualizado há 9 anosOs brasileiros estamos perdidos no “mato sem cachorro” sem saber o que fazer. Mesmo assim tudo que está acontecendo é bom para o fortalecimento da cidadania. Tirando a face cruel da situação política e econômica atual, que é o desemprego, as dificuldades devem ser aceitas como aprendizado político. Todo brasileiro, por mais insensível que seja, fica comovido diante de um caso concreto de desemprego que atinge não apenas o desempregado, e sim toda família. Não é preciso muito esforço para encontrar um desempregado, pois os tentáculos da catástrofe social espalha por todos lados.
Os acontecimentos parecem dar razão ao jornalista Carlos Castelo Branco, comentarista político por várias décadas, vivendo e convivendo entre políticos, que teria dito que “a política é um pouco ofício de bandido”. Do jeito que a coisa anda, não está escapando ninguém: PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, etc., todos estão envolvidos. No ditado popular são todos “farinha do mesmo saco”. Até tu PC do B, quem diria!
Apesar de tudo que acontece, é um grande erro generalizar afirmando que todos políticos são desonestos. Existem exceções, embora poucas. É desconfortável dizer que a crise tem um lado bom. Realmente, existe o lado positivo. Quanto mais profunda a crise, mais ficará enraizada na memória dos brasileiros tudo de ruim de aconteceu. Ai está o lado bom, pois no futuro todos se lembrarão do que gostariam nunca mais reviver. É de se esperar que no momento de votar, cada eleitor relembre tudo que aconteceu. E que tais lembranças sirvam para despertar o sentimento de cidadania, votando em quem realmente merece o voto.
Em uma análise rápida sobre Dilma e Temer, feita por um cidadão comum, sem maiores indagações, é provável que sua conclusão será que eles se merecem pois são “tampa e balaio”, mas os brasileiros não merecem eles. Ambos estão preocupados com o impeachment. Todavia, apesar de semelhantes existem diferenças. O Presidente interino pelo menos sabe falar português, não passando vergonha aos brasileiros em seus pronunciamentos, dando “mandiocadas” imprevisíveis quando tenta falar em público, o que não raro acontece com a Presidenta afastada. Segundo as más línguas Temer usa mesóclise (colocação do pronome oblíquo átono no meio do verbo) quando fala para ela não entender o que ele diz.
Dilma perdeu uma grande oportunidade que foi a de não se candidatar à reeleição. Teimosa, deu no que deu. Candidatou e passou para a história como a presidente que jogou o Brasil no buraco. Temer está demonstrando inteligência ao declarar publicamente que não pretende candidatar em 2018. Com tal atitude evitará ser “fritado” por fogo amigo e poderá passar para a história como o presidente que tirou o Brasil do buraco.
Pode ser que Dilma não mereça ser legalmente considerada um “petrolista”, designação adequada para todos os que, de alguma forma, estão envolvidos no escândalo da Petrobras. Mas para o povão ela tem culpa no cartório. Temer, oportunista, procura dar todo apoio à operação Lava Jato, pretendendo afastá-lo da proximidade com os “petrolistas”. Ambos foram envolvidos pelas múmias políticas profissionais. Os fieis escudeiros dos dois são os mesmos. Dilma, a “incompetenta”, não atendia ninguém e ficou isolada. Temer, o “ensaboado”, procura atender todos formando um circulo de proteção política.
O Brasil governado por Dilma pode ser comparado a um trem desgovernado em um túnel escuro, conduzido por uma maquinista dando piti e sem saber o fazer. Já o Brasil governado por Temer pode ser equiparado a um trem desgovernado em um túnel escuro, conduzido por um maquinista que tenta levá-lo para uma luz no final do túnel.
Os dois têm um ponto em comum: em seus governos, pelo menos até agora, reinou total liberdade. Liberdade para manifestações de ruas, liberdade para ocupação de prédios públicos e até liberdade para badernas promovidas por grupos financiados pelo governo. O próprio titulo deste artigo demonstra que vivemos em um imenso mar de liberdade, notadamente liberdade de imprensa. Pode se dizer que nunca na história deste País houve tanta liberdade. Liberdade até mesmo para passar fome.
De tudo de ruim que aconteceu e ainda acontece é preciso que cada cidadão procure extrair algo de bom. Inegavelmente poderá ser considerado positivo a atitude individual de procurar formar um projeto de cidadania para o futuro. E nesse projeto o que se apresenta como mais importante é o voto.
(Ismar Estulano Garcia, advogado, ex-presidente da OAB-GO, professor universitário, escritor)