De frente com a onça e sem espingarda
Redação DM
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 21:58 | Atualizado há 7 anos
É possível que a nova geração, já acostumada com a presença de metralhadoras automáticas, pistola .40 e até artilharia capaz de derrubar aviões, sequer tenha noção do que seja uma espingarda. Tempos idos, era uma arma de defesa dos caboclos e que podia até negar fogo na hora de atirar numa onça.
Foi só para explicar, a história na verdade é outra. Recentemente, numa dessas paradas obrigatórias no sofrível aeroporto agastado no centro de São Paulo, terminei por sentar ao lado de João Pedro Stédile, que, sozinho, traçava um combinado de sushi e sashimi, tomando um cálice de vinho tinto.
Sereno como um monge tibetano, sorriu generoso, demonstrando receptividade para uma aproximação. Como tenho ojeriza por cafajestes assumidos, respirei fundo arrancando uma vergonhosa frase: “ O senhor é o chefão do MST não é mesmo? Ele respondeu num tom irônico que aumentou minha desonra interna: “ Se quiser chamar assim, pode ser. Sou apenas um dos representantes do movimento!
Dei uma sacudida no ego e sapequei: “ O senhor não era para estar na marcha a pé que segue para Brasília?” A resposta foi curta: “Era, mas como percebe estou aqui.”
Foi o suficiente. Que ódio. Como pode um jornalista, veterano como eu, se meter numa conversa tão trivial e pueril com o capo de uma quadrilha? Sabem o que fiz? Fui ao banheiro.
O maior triunfo foi não vomitar. Não o ofendi, nem tentei tirar uma entrevista aproveitável. Muito menos o xinguei com todos os palavrões do meu repertório. Fui salvo pelo autofalante que chamou o meu voo e acabei sentado na poltrona sem ter coragem de olhar no espelho.
O episódio, que até preferiria esquecer, me veio à tona quando recebi, pela internet ontem, uma foto de Stédile sentado confortavelmente numa poltrona de aeroporto esperando seu lugar num jato de carreira, enquanto miseráveis do MST sofriam a amargura de ir, de novo, a Brasília em ônibus fedorentos comendo ovo frito gelado e dormindo em tendas improvisadas.
Fico imaginando… O que faz essa gente ainda acreditar nesse explorador irresponsável? Um homem tão indigno que, entre outras proezas, inventou a greve de fome terceirizada. No duro, queria ver ele fazer algum esforço.
Ao que me consta, não moveu um dedo sequer para ajudar a legião de mendigos ambulantes que fogem da Venezuela. Ainda ontem, estava todo faceiro defendendo o ditador Maduro.
Se encontrar com o sacripanta de novo, prometo não conter a ânsia, enfio até o dedo na goela e vomito. Nele? É uma ideia. Boa por sinal.
(Rosenwal Ferreira, jornalista)