Opinião

De mal a pior

Diário da Manhã

Publicado em 24 de novembro de 2017 às 02:32 | Atualizado há 7 anos

A um ano das eleições gerais, os prota­gonistas conhecidos na disputa para o Pla­nalto impressionam. Não por ideias, plata­formas ou coisa que o valha. Mas pela falta delas. Pela repetição de vícios e modos.

À criatividade zero somam-se a des­conexão com o eleitor e mais do mesmo: as mentiras de Lula nos palanques ante­cipados, portanto ilegais, as brigas fratici­das entre os tucanos e os repetidos atores na terceira via: Marina Silva, Ciro Gomes, Cristovam Buarque.

As novidades ficam por conta de uma aventura embalada por Luciano Huck e do ultradireitista Jair Bolsonaro, que ali­menta o sonho de ser o Donald Trump tupiniquim.

Bolsonaro tem surfado no neomilita­rismo, que tem lá os seus adeptos, mas que dificilmente arregimentará maioria. E, ainda que com jovens bons de baru­lho nas redes sociais venha conseguin­do angariar apoios, atrai ódio em pro­porção similar.

Na outra ponta, o ex Lula lidera ab­soluto. Mas não tem qualquer chance de chegar lá com as tais caravanas que, nas melhores plagas petistas, Nordes­te e Minas, reuniram menos gente do que o ex imaginava, e que o PT, a CUT e os demais movimentos ditos populares prometeram.

Escaldado por duas derrotas conse­cutivas para Fernando Henrique Car­doso no primeiro turno de 1994 e 1998, Lula sabe que tem de ir além do campo à esquerda, que, assim como o da direita de Bolsonaro, tem limite definido. Daí o perdão aos “golpistas”, diga-se, ao PMDB.

Lula foi quem desenhou e firmou a parceria com Michel Temer, ungido vice da pupila Dilma Rousseff. Foi ele quem alinhavou o apoio do PMDB que hoje ocupa com primazia as páginas do no­ticiário político-policial sem que o PT receba créditos pelo patrocínio da rou­balheira geral e, em particular, de Sér­gio Cabral e cia.

Pouco importa. Pragmático, Lula quer renovar a aliança com o PMDB.

Por dever de ofício, vai repudiar pu­blicamente Temer, mas já abriu as por­tas para Renan Calheiros e os seus, para aliados de Eduardo Cunha. Do contrário, teme colaborar para que os votos do cen­tro – a maior faixa da população – caiam no colo de novidades à la Huck ou dos tucanos, ainda que estes estejam trope­çando no peso de seus bicos.

O PSDB é um caso à parte. Tem espe­cial talento para conspirar contra si, em especial quando as chances de poder se mostram promissoras. Seria a alter­nativa natural entre candidaturas extre­mas, mas não consegue lidar nem com as divergências internas, quem dirá com os conflitos cotidianos que um governo exige. Antes das urnas, tem dois dilace­rantes confrontos intramuros agenda­dos: a guerra pela presidência da sigla e uma ainda não definida prévia para es­colha do candidato ao Planalto.

Enquanto os tucanos se imolam em vez de amolar seus bicos para a disputa de ou­tubro, Bolsonaro mordisca parte do eleito­rado do PSDB utilizando o Movimento Bra­sil Livre e outros do tipo. E Lula tenta alargar sua rede de apoios para além dos fiéis.

Mas está só.

Perdeu para a prisão seus dois mais pre­ciosos auxiliares – José Dirceu, o “capitão do time”, e Antonio Palocci, o homem que dialogou com a classe média e a atraiu para o então chefe. E o rumo, com a morte do ex-ministro e salvador de todas as trapa­lhadas, Márcio Thomaz Bastos, há exatos três anos. Abandonou muitos companhei­ros desde o mensalão e hoje inspira mais desconfiança do que crédito.

Em seu favor, o candidato Lula tem o fato de as investigações concentradas no PMDB darem alívio à folha corrida do PT e dele próprio.

Com o PMDB nas páginas nobres da la­droagem, perdeu fôlego a difusão de notí­cias sobre os desvios petistas. Poucos lem­bram, por exemplo, que a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, é ré por corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula, com ganhos declarados de R$ 6 mil da bolsa-anistia e R$ 25 mil de pró­-labore da sua empresa de palestras, não mais foi cobrado pelos R$ 9 milhões de previdência privada que só vieram à tona depois de o juiz Sérgio Moro pedir o blo­queio da conta. Muito menos dos R$ 21,6 milhões que o Ministério Público Fede­ral quer bloquear.

Nem o mais fundamentalista dos mili­tantes seria capaz de explicar como Lula, o nordestino pobre que virou presidente, amealhou tal fortuna. Superou com folga, em pouquíssimo tempo, a elite dos 172 mil entre os 200 milhões de brasileiros que, se­gundo o Global Wealth Report 2016, reali­zado pelo Banco Credit Suisse, têm mais de U$ 1 milhão, R$ 3,4 milhões ao câmbio de hoje. Lula tem.

A fogueira na qual o PMDB arde ago­ra protege a fritura de Lula, que, amanhã, estará azeitado com o mesmo PMDB dos escândalos de hoje.

Mary Zaidan, jornalista

 


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