Opinião

Dignidade da vida na terminalidade

Redação

Publicado em 16 de novembro de 2015 às 23:34 | Atualizado há 9 anos

No Brasil, a vertente assistencial na terminalidade é relativamente recente. Desde a Idade Média, locais específicos abrigavam pessoas doentes e em situação vulnerável onde eram oferecidos acolhimento e alívio do sofrimento. Na Inglaterra, na década de 1960, surgiu o primeiro serviço de cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. A atenção ao paciente deve ser o alvo. Curar é o objetivo e quando não for possível, aliviar, amparar, estar junto é prioritário.

Criados incialmente para cuidar de pacientes com câncer terminal, atualmente os cuidados paliativos se destinam a todo e qualquer paciente onde a reversão da doença não seja mais possível, o que inclui os pacientes com AIDS em estágio terminal. Iniciativas isoladas e discussões a respeito desse assunto começaram na década de 70 e vinte anos depois, surgiram os primeiros serviços organizados de forma experimental. Em 2009, o Conselho Federal de Medicina incluiu os Cuidados Paliativos como princípio fundamental em novo Código de Ética.

Em pacientes sem possibilidades de reversão da doença ou em estágio terminal, os cuidados paliativos são o recurso mais adequado. Ele é oferecido por uma equipe multidisciplinar para melhorar e manter a qualidade de vida e também alívio de sofrimento de familiares. Nos casos mais graves de doenças infectocontagiosas, a atenção para este tipo de ocorrência deve ser contínua.

O Hospital de Doenças Tropicais dr. Anuar Auad (HDT/HAA) prima por atendimento integral ao paciente e desenvolve também o serviço de cuidados paliativos. O Condomínio Solidariedade, anexado ao HDT/HAA há quase três anos , integrou-se, particularmente, neste objetivo: assistência integral ao paciente atendido na unidade. No local há assistência em Fisioterapia, Psicologia, Odontologia, Nutrição, Serviço Social e cuidados em Enfermagem, além de hospedagem temporária para pacientes carentes vindas do interior em tratamento no hospital, uma antiga demanda . O Condomínio possui ainda leitos de retaguarda, o que deve aumentar a circularidade na oferta de vagas no hospital.

A Aids ainda é uma realidade crescente. Assistências terapêuticas para estes pacientes garantem vida longa e satisfatória, semelhante a da população geral. Por esta razão surgem alterações orgânicas ligadas ao envelhecimento precoce das pessoas com HIV/Aids. Assim, a promoção da qualidade de vida ainda é o nosso desafio .

Os cuidados paliativos começam a partir do momento em que uma pessoa se depara com uma situação de irreversibilidade do progresso da doença. Não é fácil se adaptar às mudanças de vida impostas pela doença, por isso a importância do apoio para o enfrentamento dessa situação. Em dado momento, o tratamento não garante possibilidade de cura e o mais importante é focar no alívio dos sintomas e manutenção da qualidade de vida do paciente com a minimização do sofrimento físico, psicológico e espiritual em decorrência da doença.

A área é repleta de desafios, qualidades e especificidades, mas a principal característica é o envolvimento e dedicação pessoal dos profissionais atuantes no processo de assistência ao paciente porque é necessário planejamento, e, enfrentar a terminalidade de forma humanizada. As ações desenvolvidas no Condomínio tem cunho solidário e também educacional devido à formação de multiplicadores e reforço da cultura de assistência integral do Sistema Único de Saúde no estado.

Analzira Nobre é infectologista e coordenadora do Projeto Condomínio Solidariedade)

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